14. O déjà vú das semanas

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TERCEIRO DIA NO APARTAMENTO DE H²

1 de fevereiro de 2018...

Não havia basicamente nada que eu pudesse fazer para suprimir essa dor que eu sentia. O apartamento de Henrique refletia exatamente meu estado atual, solidão. Solicitei para Kitty alguns dias sozinha, precisava me adaptar a nova vida que eu teria, pedi para ela avisar aos nossos pais se encontravam de férias de que estava tudo bem.

Não estava sentindo falta do Alexander, não diria isso. Ao menos, não diria isso do atual Alexander. Mas posso dizer que sinto falta do antigo Alex. Do rapaz que namorei, do que me pediu em casamento e do que estava no altar para casar comigo. Posso afirmar que sinto falta desse Alex, porém, esse fora perdido a anos e anos atrás. O outro é um completo estranho. Eu desejaria a sua morte se a minha vontade fosse se tornar realidade. Esse Alexander eu quero distância. Em qualquer lugar, menos comigo.

Porém, há outra causa que também fujo. Fujo da minha realidade, estar aqui agora, no apartamento de Henrique é isso, uma fuga da realidade. Uma fuga do meu algoz. Achei que aqui seria um lugar um pouco mais seguro, ao menos por enquanto. Aqui eu teria a chance de tentar ser normal novamente. De não ter medo, de esquecer tudo o que já ocorreu. Mas são marcas que terei que carregar, acredito que, para sempre.

O dia nesse apartamento não foi diferente, passei a maior parte do tempo sozinha, não saí para fazer compras, já que tinha pego tudo que precisava, durante a mudança, para durar no máximo duas semanas. Ao menos era esse tempo que queria ficar sem sair daqui. O tempo que conseguiria de Kitty, se eu tivesse sorte, três semanas, ou quem sabe um mês. Eu entendo seu esforço de me ajudar a ver o mundo, de querer que me distancie do passado, mas é porque ela não sabe o que ocorreu no passado. Mas não sei se seria diferente, se ela agiria diferente se soubesse.

Tudo que sei é que mais uma vez não dormi direito, somente duas horas de sono. Cochilo se você preferir. Porém, acho que li em algum lugar que é o suficiente para o cérebro. Bom, ilustres homens e mulheres, só dormiam duas ou quatro horas, Winston Chulchill, Mozart, e etc. Acho que estou segura, ou quem sabem mais inteligente?. Ri com meu próprio devaneio.

Tudo o que fiz foi levantar, tomar banho e me vestir. Faltava, exatamente, dez minutos para às oito quando terminei todo o procedimento. E pontualmente, quando fui para a sacada, vi um senhor do apartamento de baixo sair para sua caminhada matinal. Era um senhor que deveria caminhar na casa dos sessenta e seis anos, não muito magro e também não era gordo. Estava ótimo para sua idade. Comecei a fitar o céu, estava azul como o esperado da cidade do sol, com nuvens espaças, alguns pombos no chão de diversas cores e um engraçadinho com pigmentações pretas e brancas.

Reguei as plantas da sacada uma por uma, começando das menores até as medianas. Ainda não sabia de que espécies eram elas. Talvez devesse procurar na internet. Ao terminar de regar voltei para a estante do meu quarto e tentei organizar novamente meus livros, em sua ordem alfabética e por gênero. Parei de súbito, verifiquei a hora e já passavam das 12 horas quando escuto a porta da vizinha abrir.

Meio dia em ponto ela volta para casa. Contei de um até o trinta e escutei os primeiros gemidos. Novo recorde, esta foi ainda mais rápida para começar a gemer. Enquanto muitos voltam para almoçar alimentos de verdade, minha vizinha deve preferir a La carte humana, um novo menu. Resolvi ligar alguma música para impedir os ruídos do apartamento ao lado.

Desde que conheço o Henrique ele ama música, sua mãe era uma cantora tremendamente excelente. Ela possuía uma voz camaleão, que conseguia atingir distintos níveis, porém, a música latina era o seu amor e passou a ser o de Henrique também.

Segredos | Elliot HellsOnde histórias criam vida. Descubra agora