Felizmente as minhas análises foram positivas. Era impossível a cada exame e análises de rotina, não sentir medo. Medo que algo não estivesse a correr bem e que a qualquer momento meu corpo rejeitasse o novo coração. Mas, felizmente, isso não estava a acontecer, e a conversa na consulta com o Dr. Santos, ainda me deixou mais aliviada.
Ele disse que o risco do meu organismo rejeitar o novo órgão a partir dos 3 primeiros meses do transplante, era quase ínfimo. Já passou mais que isso. Em forma de comemoração, convidei Sandra e minha mãe para jantar fora. Pela minha saúde estar ótima, e pelo novo trabalho. Tudo estava perfeito, não fosse o fato de ter encontrado José no mesmo restaurante. Acompanhado por uma linda loira. É, parece que ele não perde tempo mesmo. Sua expressão ao ver-me foi de surpresa. Pela sua cara até parecia que estava diante de um fantasma. Tornou-se até caricata a situação. Talvez ele achasse que eu já tivesse morrido, ou pensasse que eu fosse fazer algum escândalo por ter terminado comigo.
Dois anos não foram suficientes para ele me conhecer. Desvio o olhar da mesa dele ignorando o seu olhar, e sigo até à mesa indicada pelo servente.
A minha mãe e Sandra, não se aperceberam da sua presença e ainda bem. Já bastou o meu constrangimento. Era bem provável que elas quisessem ir para outro restaurante, com receio que a sua presença me afetasse.Mas não, eu podia muito bem conviver com aquilo, e não mudar os meus planos por ele. A conversa depressa me distraiu, e eu nem lembrei mais que José estava no mesmo espaço que eu. Fizemos os pedidos. E rimos de todas as histórias insólitas, que Sandra contava sobre os clientes do hotel.
Não fazia ideia que algumas das situações caricatas que ela relatou, pudessem mesmo acontecer num hotel. Os pedidos chegaram. No fim do jantar, e depois de pagar a conta, avisei que precisava de ir ao quarto de banho. Perguntei a um dos funcionários onde era, e ele prontamente me indicou a direção. O acesso para o quarto de banho passava por um longo corredor, depois havia uma área comum para lavar as mãos, com um enorme espelho e uma jarra de flores. À direita o wc das senhoras, à esquerda o dos homens. A porta estava trancada, indicando que estava ocupado. Resolvo aguardar um pouco na área comum, ajeitando o cabelo no espelho.— Olá.
Vejo o reflexo de José por trás de mim pelo espelho. Hesito, mas respondo.
— Olá.
Ele aproxima-se e eu viro-me para ele. Ele está visivelmente nervoso.
— Como te sentes? Estás com bom aspeto.
Apeteceu-me rir na cara dele. O que ele queria dizer era que eu ainda não tinha morrido.
— É, ainda não foi desta que morri.
— Não foi isso que quis dizer. Estás linda.
A senhora que ocupava o wc saiu, e eu apenas acenei em despedida e entrei.
Quando saí José ainda lá estava, e parecia estar à minha espera. Não voltei a olhar para ele, lavei as mãos e preparava-me para sair. Ele segura meu braço, e eu o olho com vontade de lhe dar uma bofetada na cara, mas contive-me.
— Desculpa! Eu não quis terminar daquela maneira contigo mas, eu não tive coragem de ir ao hospital, eu pensei que...
— Que não sobrevivesse?!
Completei a frase que ele não quis terminar.
— Desculpa!
— Com licença.
Tento soltar o meu braço da mão dele, mas ele não o larga.
— Acho que precisamos conversar. Podíamos marcar algo juntos.
— Ou me largas agora, ou eu grito!
Ele automaticamente larga o meu braço.
— Por favor, Brenda.
— Vai à merda!
Dou-lhe um último olhar de desprezo e saio.
Ele conseguiu estragar a minha noite. Não por ainda ter algum sentimento por ele, mas pela ousadia dele em terminar daquela forma, quando mais precisei dele, e agora que estou bem, querer aproximar-se novamente.
Não, mas não mesmo!
Ao entrar na sala do restaurante, apercebo-me da loira que o acompanhava olhar impacientemente para o relógio. Coitada. Sigo até ao exterior onde minha mãe e Sandra aguardavam.
— Estive quase para ir ver se caíste na sanita.
Sandra fala irónica fazendo todas rir.
— Desculpem, tinha muita gente no quarto de banho. Que me dizem de irmos ao cinema para assistir o Aquaman ?
— Ótima ideia! Ver o gajo todo bom que é o Jason Momoa. Uuuhuuullll!
Sandra responde dando pulos de animação, eu e minha mãe rimos.
O sorriso de Sandra se apaga quando vê José sair do restaurante. A minha mãe não se apercebe e eu faço sinal com o olhar para que Sandra não fale nada. Como boa cúmplice que ela é, respeitou a minha vontade e seguimos até o carro.
Já no cinema, como era de esperar, Sandra aproveitou que minha mãe foi comprar pipocas, para me perguntar sobre o José.
— Foi por causa dele que demoraste a sair do restaurante? Ele importunou-te?
— Sim, encontramo-nos no quarto de banho. Ele veio com falinhas mansas, de que tínhamos que falar, mas eu não lhe dei hipótese de prosseguir.
— Acho bom, Brenda! Não caias de novo na ladainha dele. Agora que te vê bem, já quer voltar? Ele que vá dar uma volta.
— Não te preocupes, Sandra. Não vou cair, nem acredito que ele volte a tentar.
— Trouxe pipocas também para vocês.
A minha mãe aproxima-se com 3 baldes de pipocas, e demos a conversa por terminada.
— Humm, obrigada dona Ana! Ainda por cima acertou nas minhas favoritas.
Sandra agradece já a comer das suas pipocas caramelizadas.
O filme começa.
🫀🫀🫀
Esse José é sem noção 🙄
É estranho pra vcs lerem no português de Portugal?
Pergunto pq esse livro está completo, e estou ponderando mudar a escrita pro português do brasil.
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Teu Coração ( Disponível na Amazon)
RandomRodrigo perde sua noiva Eva, num terrível acidente automóvel. Seus órgãos são doados. Nunca conformado com sua morte, Rodrigo procura quem foi o receptor do coração de sua falecida noiva, na ilusão de se sentir um pouco mais próximo dela ao conhecê...