10 Rodrigo

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Acordo com uma terrível dor de cabeça. É ressaca. Ontem acabei por pedir mais doses de whisky do que habitualmente bebo. Mas não consegui pregar olho, quase até o sol nascer.

Fiquei na varanda a beber um atrás do outro depois que Jéssica saiu. Fiquei a pensar em tudo o que aconteceu, no beijo e na forma como fui indelicado com ela.
Jéssica seria o sonho de qualquer homem, não fosse o problema de esse homem ser eu, e de eu não conseguir ver ninguém além de Eva.

Meu coração era totalmente dela, meus pensamentos, meus desejos também. Respiro fundo e bebo um pouco de água. Preciso descer para tomar o pequeno almoço com eles, e pedir desculpas a ela.

Não quero que pense que sou um ogro, ou algo do género. Ela estava a abrir o seu coração, e eu simplesmente fui frio e indelicado, mandando-a embora daquela forma. Eu poderia ter mantido a cabeça fria, conversado com ela e lhe fazer ver que o meu coração não está disponível.

Sei que a magoei, e do pouco que conheço dela, não merecia que as coisas se tivessem passado dessa forma.

Tomo um duche para ver se alívio a dor de cabeça, visto algo, e desço para o pequeno almoço. Quando chego na sala do pequeno almoço do hotel, já todos estavam à mesa.

Quase todos, faltava ela.

Imaginei porque não apareceu, mas também não perguntei onde estava. Iria procurá-la no fim, se caso não aparecesse para comer connosco entretanto. Hoje é nosso último dia na ilha, temos o voo de volta amanhã de manhã. Durante o pequeno almoço pude perceber a evolução da relação entre Nuno e Nádia. Não passou indiferente a todos que dormiram juntos. Paulo pergunta por Jéssica, e Inês diz-lhe que ela não está muito bem disposta hoje, então que preferiu ficar a descansar no quarto. No final do pequeno almoço todos se preparavam para ir para a praia.

Eu avisei que me juntaria a eles mais tarde, que precisava de tratar de umas coisas. Peço na recepção para que me indiquem o número de quarto da Jéssica, e em menos de 5 minutos subi até seu quarto. Bato na porta. Uns minutos depois ela abre. Mostrou surpresa em me ver ali, mas via também em seus olhos inchados e vermelhos que tinha estado a chorar. Senti-me péssimo por isso.

— Posso entrar?

Ela hesita, mas afasta-se da entrada da porta para que eu passasse.

— Rodrigo, desculpa por ontem...

Sua voz sai envergonhada.

— Quem te deve um pedido de desculpas sou eu. Não queria ter sido indelicado, desculpa.

— Está tudo bem, Rodrigo.

Esboça um pequeno sorriso.

— Jéssica, eu não sei se te dei a atender algo mais que amizade, mas a minha cabeça e o meu coração ainda está...

Ela não deixou que eu terminasse.

— Eu sei, eu devia ter respeitado o teu luto. Talvez eu também não faça o teu tipo, desculpa.

Vejo que ela ainda se sente constrangida, e tento aliviar aquele momento.

— Eu gostei destes dias que passei contigo, das nossas conversas, da tua companhia. Não tem nada a ver contigo. Tu és lindíssima, mas eu ainda não estou preparado. Se pudermos apenas ser amigos.

Ela dá um novo sorriso.

— Tudo bem. Amigos então.

Sorrio de volta. Fiquei feliz que ela tenha entendido e que possamos continuar a amizade, eu realmente gostei dela. Seria uma boa amiga, e quem sabe um dia algo pudesse mudar. Embora eu ache, que esse dia não fosse chegar nunca.

— Queres vir até à praia? O resto do pessoal já foi.

— Sim, vou só vestir algo, então e já te encontro lá em baixo no hall.

— Ok, até já.

Durante o dia jogamos vôlei na praia, mergulhamos, e apanhamos sol. Ao fim de uma semana já se notava um bronze bonito em todos. Todos voltaram ao hotel para tomar banho antes do jantar, quando o sol já se começava a pôr. Eu decidi ficar mais um pouco, gosto de ver o pôr do sol, e desde que cá estou ainda não tinha me sentado na praia ao fim do dia para o fazer.

— Posso ficar a contemplar o pôr de sol contigo? — Jéssica pergunta se aproximando.

— Claro, senta-te aí.

Faço menção que se sente, ela assim o fez, estendendo a toalha sentando-se ao meu lado.

Na praia já não havia quase ninguém, a não ser os que ficaram com a mesma intenção que nós.

Ficamos em silêncio a admirar o horizonte. Era lindo ver aquele jogo de cores entre o rosa e o laranja fogo no céu, enquanto o sol parecia que se fundia naquele lindo mar azul. Fazia uns 20 minutos que ali estávamos, e já quase não se via o sol, o céu laranja anunciava que o dia seguinte também seria quente.

— Sentes muito a falta dela ainda, não é?

Jéssica pergunta enquanto nossa atenção ainda estava no horizonte.

— Muita.

Um nó se forma em minha garganta. Ainda me custava pensar nela, e sobretudo falar nela.

— Ela devia ser alguém muito especial. Pelo pouco que te conheço, tenho a certeza disso.

— Ela era sim.

Dou um sorriso encarando o horizonte, pensando na maravilhosa mulher que Eva realmente era.

— Espero que um dia consigas ultrapassar essa dor.

— Será difícil. Ela faz-me muita falta. Não há dia nenhum que consiga dormir sem pensar nela, e não há dia nenhum que acorde sem lembrar dela. O tempo passa, e eu não acho que algo tenha melhorado, muito pelo contrário, a saudade só aumenta.

As últimas palavras foram difíceis de pronunciar, segurei-me para não chorar ali diante dela.

— Rodrigo, onde quer que ela esteja deve estar a olhar por ti, e a torcer para que sigas a tua vida e sejas feliz.

— A minha felicidade era ela, e a minha vida também.

Jéssica envolve-me num abraço empático, ali eu senti que era sincero e de pura amizade. Não era nada comparado com o que se passou na noite anterior. Não me afastei, eu precisava dele.

🫀🫀🫀

😭😭😭

Rodrigo não consegue ultrapassar a perda da noiva.

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