Convite

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Ouvi alguém rir. E meu coração acelerou... Era ele.

– Carlinha, você mereceu essa. – Era Miguel, usando calça jeans, botas pesadas e uma camisa xadrez azul.

– Oi tio.

– Me desculpa, só estava brincando. – Disse para a menina, controlando o riso.

– Eu sei, fui boba. – Ela deu de ombro. – Vai querer um café?

– Uma xícara bem cheia, por favor.

–Tá bom. – Ela disse sem empolgação, como se eu tivesse acabado com toda a diversão dela, e então anotou no bloquinho. – Vou trazer um bolo de banana também.

– Obrigada.

Miguel parou a minha frente, pôs as mãos nos bolsos e me encarou.

– Tudo bem? – Perguntei a ele assim que Carlinha se foi.

Vi quando ele olhou a sua volta, como se tivesse medo de estar sendo observado.

– Posso sentar? – Perguntou-me.

– É claro.

Observei ele sentar-se a minha frente, e cruzar as mãos sobre a mesa.

– Que bom que veio conhecer a cidade... – Ele disse. Percebi que só estava puxando assunto.

Percebi então duas senhoras na mesa ao lado, que deviam estar bem interessada no que aconteceu ali, voltarem sua atenção para a vida delas.

– Pois é... Vim conhecer a cidade e descobrir que tenho fama de bruxa... – Disse, abafando uma risada.

Carlinha me trouxe um copo de água mesmo que não tivesse pedido. E logo se foi, era apenas hospitalidade.

Miguel ficou a me encarar de forma estranha por alguns segundos.

– O que? – Perguntei.

– Você não sabe nada sobre sua família, não é mesmo?

– Nada... – Neguei, tomei um gole da água e voltei a falar. – Já deve ter ouvido por ai que fui praticamente criada em colégio interno.

– Católico, presumo.

– Exatamente... – Respondi. Então algo sombrio ocorreu em minha mente. – Talvez para que pudessem expulsar os demônios de mim, não é!

Ri, mas Miguel não achara graça.

– Eu preciso falar com você sobe o que aconteceu... – Ele falou baixo.

Olhei a minha volta e sorri.

– Porque não vai me visitar... – O provoquei, vi ele ficar tenso. – Para conversar, claro.

– Garota... – Ele fechou os olhos brevemente e voltou a me encarar. – Você não faz ideia do que as pessoas dessa cidade falariam se soubesse...

– Você é casado? – Perguntei, ele negou. – Então não entendo... Eu sou maior de idade e você é... – Ri, antes de concluir. – Vacinado.

Ele abafou sua risada colocando a mão discretamente sobre a boca, disfarçando com uma tossida falsa.

– Eu preciso ir... – Ele mentiu, olhando o relógio de pulso. – Tenho um compromisso.

– E quem tem compromissos importantes nesta cidade?

Ele não respondeu, ficou de pé e antes de ir, me olhou de uma forma intensa e tocou minha mão discretamente.

– Se cuida.

– Aguardo sua visita.

Minha mente reviveu à tarde em que provei dos seus lábios.

Fiquei ali por um tempo. Tomei o café e comi o bolo de banana caseiro.

Carlinha me pediu desculpas algumas vezes e tagarelou ao seu respeito.

A cafeteria pertencia à mãe dela, Irmã de Miguel.

Carlinha tinha quatorze anos, e era a irmã mais velha de mais dois irmãos. Ambos meninos, cinco e sete anos.

Falou-me que o Armazém era do mesmo dono a muitas gerações, e que o prefeito já havia se reeleito duas vezes, no intervalo entre a esposa ser prefeita, e o cunhado também.

Percebi que tudo naquela cidade estava interligado e todos se conheciam.

Quase duas horas depois, já havia comprado tudo que estava na lista de Viridiana no armazém, já havia até mesmo guardado tudo no jipe e nada da velha rabugenta aparecer.

Decidi então caminhar pela pequena cidade.

Adentrei em algumas ruas. Observei a arquitetura.

Já era quase fim de tarde quando decidi voltar para o Jipe e esperar por Viridiana lá.

Ao longe, ouvi os sinos da Igreja.

Meu coração disparou, minha boca ficou seca... Reconhecia os sintomas. Era pânico, ansiedade, e tudo misturado ao trauma do que vivi dentro de uma instituição católica.

Era todo o horror que vivi  naquele lugar, explodindo em minha mente.

E, eu queria ir embora o mais rápido possível daquela cidade.

Viridiana estava sentada na praça quando voltei. Ela lia á algum tipo de folheto, não sei. E quando chamei por ela, ela guardou aquelas páginas imediatamente dentro de sua sacola e levantou-se.

Observei Viridiana como há dias não observava. Não era por pouco que estava sendo chamada de bruxa.

Eu estava vivendo com uma mulher que se vestia como louca.

A velha estava vestindo botas de camurça, eram surradas e pontudas. Como personagens de desenho animado. Estava com um vestido longo, verde musgo e um sobre tudo de lã marrom por cima. E aqueles cabelos? Minha nossa! Era de colocar terror em qualquer um.

 E aqueles cabelos? Minha nossa! Era de colocar terror em qualquer um

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Aguardando essa visita aqui em casa! 

hahahahaha

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Liana  --------Onde histórias criam vida. Descubra agora