Capítulo único

359 38 22
                                    

– Bom dia senhoritas! E bom dia pro resto também. – Sanji estava feliz e animado pela manhã.

As respostas ao bom dia vieram em vários tons e desconexas.

– OE MARIMO DE MERDA, CADÊ TUA EDUCAÇÃO? – Ainda sem resposta, Sanji resmungou algumas palavras e voltou pro café. As vozes pararam por um segundo, como se esperando Zoro responder, a resposta não veio, se ouviu um suspiro profundo, provavelmente de Nami.

Quando servido o café, mais uma vez as risadas e brigas se fizeram presentes. Sanji seguia perdido em seus pensamentos. Suas olheiras entregavam as noites acordado. Sequer percebeu quando Luffy o perguntou de algo.

– Hm? O que foi? – disse um pouco surpreso com a situação. 

– Sanji, você tá avoado desde que acordou, nem o Luffy gritando por comida conseguiu te fazer acordar. – Nami pontuou e o silêncio se fez presente por alguns segundos.

– Aconteceu alguma coisa Sanji? – Usopp fez a pergunta que todos queriam saber.

– Haha é mesmo? Não aconteceu nada, só estou pensando demais; vou fazer mais comida pro esfomeado aqui. – E com um sorriso e risada incrivelmente forçados ele tentou acalmar os amigos.

E o mais incrível é que ele não era o único que estava mais estranho que o normal naquele navio; Zoro não apareceu no café da manhã. Apesar disso, em algum momento da manhã quando o cozinheiro não estava vendo, o prato que tinha sido preparado para o outro tinha sumido dando lugar para algumas vasilhas sujas na pia.

Ele estava o evitando. Isso era certo. E não era pra ser diferente, não depois dos últimos acontecimentos. Depois que Zoro se recuperou parcialmente do ocorrido em Onigashima.

Enquanto Sanji dava um jeito nas vasilhas, ouviu passos pesados atrás de si. Ele sabia quem era, e não estava com paciência para evitar que suas palavras criassem um conflito.

– VOCÊ É UM IDIOTA POR ACASO?! O CHOPPER DISSE QUE SEU CORAÇÃO CHEGOU A PARAR! REALMENTE É TÃO IDIOTA AO PONTO DE SE SACRIFICAR E DESISTIR DE TUDO ASSIM?!

– Que? Ah, SIM! NÃO SE PREOCUPE SENHOR "ME MATE SE EU NÃO FOR MAIS EU". EU SABIA QUE VENCERIA. EU SÓ FIZ O QUE FOI PRECISO, E NADA MAIS QUE ISSO.

– AH, CLARO! ÓBVIO QUE VOCÊ SABIA QUE O DERROTARIA! AFINAL, MORRER NÃO ESTÁ NO VOCABULÁRIO DO GRANDE CAÇADOR DE PIRATAS: RORONOA ZORO. Se eu não voltasse,  o que aconteceria com o bando? HEIN? ME RESPONDE! NÃO SOMOS NÓS AS ASAS DO REI DOS PIRATAS?! UM MORTO E OUTRO... MERDA!

– Realmente estava com tanto medo da minha morte? – Caçoou.

– Cale a boca, Zoro. Você tem uma ambição, não é? Estamos no fim da jornada. Aguente vivo mais um pouco, seu idiota.

– Você também tem uma ambição, não é? Realmente achou que não voltaria a ser você mesmo? Se perderia assim tão fácil?

Silêncio. Um silêncio extenso e doloroso, era gritantemente ensurdecedor. Zoro estava certo; Sanji tinha uma ambição, mas por algum motivo aquilo naquele momento exato não era a preocupação central de Sanji.

Sanji não conseguiu responder. Era uma briga como qualquer outra, mas ele não conseguiu revidar; a pessoa na frente dele era o homem que o irritava em todo momento, desde a insistência em dormir junto até mais tarde... até brigas realmente importantes como aquela. Então como um belo pensamento indesejado que não passou por filtros e motivado pela adrenalina Sanji completou.

– E quanto a mim Zoro? Você me prometeu.

E puxando uma garrafa que havia sido jogada num canto em algum momento o outro respondeu no mesmo tom.

– E quanto a mim, Sanji? Como eu poderia cumprir?

Era certo; ele não podia cobrar algo como aquilo de Zoro quando ele mesmo estava disposto a morrer sem nem pensar duas vezes. E isso incomodava. A falta de respostas... a inviabilidade das perguntas.

Eles não eram o tipo de amantes que diziam muito, os gestos e o tempo que passavam... mesmo que brigando ou em um curto tempo de silêncio antes da próxima provocação. Aqueles momentos de paz, a confiança em saber que em qualquer luta não precisaria se preocupar um com o outro, aquilo fazia tudo dar certo. A confiança, a maldita confiança e os malditos sentimentos.

Sanji não queria perder aquilo. Mas o que ele poderia fazer? Ele queria gritar e xingar o quanto quisesse sem se preocupar com a outra pessoa o respondendo e o lembrando de algo que ele queria que nunca tivesse acontecido. Mas não era assim que funcionava. Ele se virou, não conseguia nem sequer olhar pro outro.

A vida não poderia ser assim, tão frágil. Só a ideia de perder alguém que sempre esteve ali, que você sempre amou, que sempre confiou e acreditou... era... torturante.

– Sanji... não dá pra continuar assim. – Zoro começou, e sabiam onde aquilo iria chegar.

– Cala a boca. Eu falo agora. – Zoro encarava Sanji friamente. – Eu... eu quase me casei; e eu devia ter confiado em todo mundo, eu não deveria ter deixado o bando, não mesmo. Eu não deveria ter te deixado para trás sem explicações. Sequer deveria ter te deixado para trás. Eu nem me despedi, MERDA. EU SEQUER PUDE DIZER O QUE DEVIA. – as lágrimas escorriam do rosto de Sanji, mesmo que contra sua vontade. Elas só desciam, mais e mais. O gosto salgado invadia seu paladar, como o hálito de Zoro ao beijá-lo após um longo treino.

– E não precisou, não precisou falar nada. Essas coisas... elas acontecem. Nós nunca precisamos dizer nada, não é? Eu sei, você sabe, não precisamos de nada além disto. - Zoro ainda estava atento.

– Eu sou um maldito egoísta, sabia?

– Sim, sabia. E te amei mesmo assim.

– EU JÁ MANDEI CALAR A BOCA! E NÃO SEJA TÃO COMPLACENTE COM MEUS DEFEITOS, TÁ BOM? – ele sabia que não era complacência, e sim sua congeneridade – Eu queria saber se você ainda estaria comigo, nos momentos mais difíceis, mesmo quando a culpa invadir minha alma, ou a tristeza tomar meu coração... mesmo depois que tudo acabar. Você ainda vai estar lá por mim, Zoro?

– Você sabe a resposta, Sanji.

– ...

– Já se passaram dias, eu entendo... mas, você se martirizar por isso não fará a história mudar.
Você se levanta todo dia, coloca um prato pra mim no café. Me xinga, numa esperança vazia que eu responda, dorme na minha rede também, não é? Mesmo que eu não te peça, e mesmo que você não saiba fazer muito bem, você segue limpando minhas espadas. Você é inacreditável.

– CALA A TUA BOCA! – Fixou o olhar no do Zoro, sentindo seus olhos voltarem a lacrimejar.

– Dá pra acreditar nisso? Você ainda crê que vou cobrir suas costas, mesmo quando eu não estiver mais lá. Você é esse tipo de pessoa. Quando vai aceitar a realidade, parar de fugir de si próprio?
Eu também te amei Sanji; Eu ainda te amo. Mesmo que agora seja tarde demais pra fazer dessa informação algo útil. Você já deveria saber, não precisa me pedir desculpas por essas merdas do passado... eu jamais te culparia por algo assim – Zoro se aproximou do loiro, em busca de confortá-lo. – Você tem que me deixar ir, Sanji. Deve que acordar... afinal de contas, tá quase na hora do café... e você é o cozinheiro do bando. Do nosso bando. – Zoro levantou o olhar até aquelas orbes azuladas como o mar, onde ondas de lágrimas escorriam por todo o rosto fino e delicado do loiro. E então sorriu, era o seu último adeus.

O último adeus, até que Sanji acordasse novamente e sentisse seu rosto sobre o travesseiro molhado. Acordasse novamente e se visse preso, atrelado a memórias e momentos, lágrimas e saudades. Impregnado ao sentimento de que estava quebrado, lhe faltando um pedaço. Destruído.

Já não havia mais ninguém para brigar pela manhã, ou alguém que contornasse com mãos ásperas de toque leve sobre cada uma de suas cicatrizes, ou alguém para cobrir suas costas. Não havia ninguém para tecer comentários ácidos sobre seu amor pelas mulheres, não havia ninguém na cama, nem no deck, nem na academia, não havia mais a pessoa que sempre esteve ali. Mas os sentimentos permaneciam, e era preciso que essa diferença fosse compreendida para que ambos pudessem descansar.

– Eu também te amo, Zoro. Adeus, o meu último adeus.

O último adeus (Zoro X Sanji)Onde histórias criam vida. Descubra agora