Você me pergunta pela minha paixão;

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De outra forma era impensado que os caminhos das duas se cruzassem, mas essa ansiedade da véspera da eleição estava deixando tudo meio maluco mesmo. Uma estava chegando a São Paulo no último horário, por Congonhas antes do aeroporto fechar, enquanto a outra esperava no espaço reservado aos voos particulares que o plano e a decolagem do jatinho fosse liberado. Simone estava se sentindo exausta. Enfim, depois de quase um mês, o cansaço estava pesando sobre ela. Era o sangue esfriando pela primeira vez desde aquela terça-feira logo depois do primeiro turno. A sua semana inteira foi super corrida. Na quinta-feira ela esteve em Belo Horizonte para uma última visita decisiva; Na sexta pela manhã e no início da tarde no centro do Rio debaixo de chuva, e à noite ainda foi acompanhar Lula junto de mais algumas pessoas ao último debate transmitido na TV, pela Rede Globo; No sábado o dia mal amanheceu, ela já estava a caminho de SP para o encontro na Faria Lima, e a caminhada que seguiria a partir dali depois do bate papo. Novamente debaixo de uma chuvinha fina. Mas nem isso fez com que ela diminuísse o ritmo daquele último dia. Pelo contrário, acabou dando um gás a mais a ela e pras pessoas que a acompanhavam. Desde o momento que ela encerrou o dia e foi pro aeroporto esperar a autorização do embarque as filhas, de casa, mandavam fragmentos de vídeos captados nas redes sociais. Realmente as pessoas tinham gostado e continuavam gostando dela, e a mudança de lado tão logo acabou o primeiro turno foi e continuava a ser bem recebida nas ruas longe de casa. Ela não imaginava isso, ela não esperava por isso, não achava que as pessoas fossem... acolhê-la e abraçá-la daquela forma. Tamanho carinho era uma experiência completamente nova pra ela. Lembrou do comentário feito numa entrevista meses antes, sobre as muitas 'primeiras vezes' na sua vida e riu sozinha. Depois disso Simone suspirou, encostou a cabeça para trás e fechou os olhos por um segundo.


"Senadora? Simone? Desculpe interromper, mas é que a nossa decolagem foi autorizada. Vamos?"

"Por favor. Eu não vejo a hora de chegar em casa."


Ela foi despertada, no susto, pela funcionária da companhia privada para que fossem embora logo. Minutos depois já estava acomodada no assento, a aeronave inteira só para ela, quando olhou no relógio do telefone. Mandou mensagem às filhas avisando do embarque e que dali a duas horinhas estaria em casa, e imediatamente a mais velha prometeu ir apanhá-la. Em casa, as duas trocaram um olhar preocupado com a avó, acomodada na suíte principal do apartamento que Simone mantinha na capital.


"Ela vai matar a gente, vó."

"A gente não podia preocupar a sua mãe nas últimas horas desse processo, Nanda. Você viu que ela não parou um instante sequer. Tá acabando."

"Você sabe que ela deve ser convidada pra ir a São Paulo assim que votar aqui. Você acha que ela vai querer ir depois que souber que você não tá bem?"

"Você ouviu o médico. Não foi nada. Eu tô bem sim."

"Tá certo... mas a gente conhece a minha mãe, você conhece melhor que eu, a Duda e o meu pai juntos."


Fairte, Fernanda e Eduarda sabiam que seria difícil convencê-la a deixar a mãe ali. Edu tinha inclusive lembrado isso a elas, antes de ir se deitar. Mas ela sabia como fazer e não hesitaria em agir se fosse preciso. No avião, a senadora abriu mão do lanche para aproveitar aqueles minutos a mais e fechar os olhos até chegar em casa. Enquanto o jatinho decolava de Congonhas, lá fora no saguão Maria caminhava arrastada com um café, o copo branco e verde apertado nas suas mãos enquanto a outra puxava a bagagem de mão. Na área de desembarque, Mariana esperava por ela no carro ansiosa.


"Acelera, Maria. Eu preciso voltar pra casa."

"Eu disse que você não tinha que vir me buscar..."

"Até parece. Vamo logo. Você jantou?"

"Antes de sair de casa, com o Diogo e a dona Ângela."

"Eles estão bem?"

"Sim, o Flamenguista tá que não cabe em si né?"

Como os Nossos Pais;Onde histórias criam vida. Descubra agora