Capítulo Um

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Boa leitura!
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Quarta-feira — 07:32

  Na manhã seguinte, assim que saí do carro eu abaixei a cabeça em submissão. Levou alguns minutos até que eu a levantasse de novo, percebendo que ninguém estava realmente me notando, e não consigo descrever o alívio que senti por isso. Ainda estava cautelosa, claro, mas conforme o dia foi passando eu me senti melhor.

   Pelo que parece o meu surto de ontem não virou nenhum assunto e eu continuava invisível, nenhum alfa ou ômega babaca e popular fez alguma piadinha comigo ou me machucou, tudo estava normal como sempre esteve. Exceto Camila. Eu pude sentir várias vezes no percorrer do dia seu olhar na minha direção, (felizmente eu era a única a notar ou teríamos problemas) esperei encontrar mágoa ou raiva em seus olhos castanhos, mas tudo que eles me mostravam era curiosidade.

  Isso me deixou inquieta. Eu estava com medo que notassem e ela falasse algo sobre mim para seus amigos, provavelmente me chamar de esquisita, me tirando da minha zona de conforto que era a minha invisibilidade. Por sorte, não aconteceu. Entretanto, Vero e Louis notaram meu comportamento e questionaram, eu tive que contar. Eles tentaram ser compreensíveis, eu sei que no fundo suas mentes gritavam "estúpida" e que eles tentaram ignorar isso para me consolar.

   Mas o que eu podia ter feito? Eles são alfas. Não é como se fossem entender o quanto impotente betas podem ser na maioria das situações que envolviam outras classes.

 Dois dias depois, eu me sentia normal de novo. Os olhares de Camila na minha direção sumiram, e por mais que grande parte de mim estivesse triste e decepcionada com isso, a maior estava conformada e aliviada. Eu não conseguia controlar meu medo compulsivo de ser o centro das atenções.

  Hoje Normani havia voltado para escola, parecia relativamente bem considerando o heat violento, apesar de que o cheiro de Arin ainda estava nela e era um pouco incômodo já que meu olfato era melhor que o dela.

— Se você quiser, eu posso pedir seus livros de volta.  – Mani sugeriu. Ela estava apoiada no armário ao lado do meu, presenciando minha frustração.

— Obrigada Mani, mas eu não quero que ela volte a me encarar, e se dessa vez alguém notar? Prefiro pedir foto das páginas, é mais seguro, eu até consegui terminar um dos trabalhos só com as fotos!

   Por sorte, os livros da biblioteca estavam comigo. No entanto, por azar, os livros das matérias estavam com Camila.

— Laur, eu entendo você e entendo o porquê de você está com um, ou melhor, vários pés atrás sobre isso, mas são só pessoas. Você mesmo vive dizendo que Camila não é uma pessoa ruim? E os livros são seus, você vai precisar deles o ano todo, não pode pedir fotos para sempre!

 Passei a mão pelos cabelos bufando. Olhei para a garota à minha frente e ela tinha uma postura irredutível. Normani entendia meus traumas e medos mais do que os outros às vezes, ela era ômega, sabia bem como a sociedade poderia ser cruel e opressora.  

— Mas Manibear eu..  — olhei pelo corredor onde pessoas trocavam matérias até que meu olhar se prendeu na garota de cabelos castanhos claros.  — É isso! Mani, e se eu pedir a Lucy para pegar os livros na mão de Camila? Elas são colegas no teatro.

  Normani deu uma risada sarcástica acompanhada de um olhar divertido. 

— Se você tem tanta paciência, vai lá, boa sorte.  — debochou.

— Vai ser rápido, eu não devo sofrer tanto se eu for direta, quer dizer, faz meses, Verônica e ela não podem continuar fazendo birra para sempre. — resmunguei e Mani deu de ombros. 

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