Ouvi o mesmo sininho ao entrar no lugar. Olhei a volta, era uma montoeira de coisas.Havia um balcão com coleções de xícaras de porcelana. Outra repleta de cristais e incensos. Uma prateleira cheia de garrafas de vidro com rótulos feitos a mão.
Um sofá de retalhos em um canto, onde dois gatos branquinhos dormiam tranquilamente.
– Oi? – Chamei por alguém.
Vi quando uma mulher surgiu por de trás de uma cortina de miçangas.
Ela era alta, tinha longos cabelos castanhos avermelhados e um lindo sorriso.
– Boa tarde. – Ela disse ao surgir.
Quando ela de fato olhou para mim, vi quando sua expressão mudou. O seu sorriso continuou, tentando ser simpática, mas percebia o desconforto.
– No que posso te ajudar?
Olhei a minha volta, não havia nada ali que eu desejava comprar de fato.
– Eh,... – Busquei por qualquer desculpa em minha mente. – Ahm, mudei para a cidade há poucos dias...
– Sim, para o casarão da Baronesa? – Ela disse, soando mais como uma confirmação que pergunta.
Como ela sabia?Assenti.
– Sim, estou conhecendo a cidade...
– Claro.
– Fiquei curiosa com a sua loja, pra dizer a verdade. – Confessei. – Vi uma menina sair com um pirulito colorido, parecia bom.
A mulher saiu de trás do balcão e veio em minha direção. Ao parar a minha frente, ela esticou sua mão.
– Me chamo Patrícia.
Aceitei seu aperto de mão.
– Liana. – Disse.
Ao tocar sua mão, me senti tonta. Imagens estranhas surgiram em minha mente como dezenas de flashs em poucos segundos.
Assim que ela soltou minha mão, tudo desapareceu.– Eu tenho alguns doces aqui... – Ela passou a minha frente e caminhou para um canto da loja, que algum dia já deve ter sido uma sala. – Eu mesma os faço. Receita de família.
Ela sorriu orgulhosa.
– Também tenho flores... – Apontou para alguns baldes de metal em um canto do chão, abaixo da janela que dava para rua. – Tenho chás e xarope... - Apontou para as prateleiras atrás do balcão. - E tenho uma horta nos fundos, quer conhecer?
– Adoraria. – Disse sincera.
Ela sorriu satisfeita.
– Venha comigo.
Lhe segui, passamos pela mesma porta com cortina de miçangas e seguimos por um curto corredor.
Ela apontou para um cômodo a direita e em seguida para esquerda.
– Nestes quartos armazeno algumas bugigangas, como pode ver, vendo muitas peças de antiquário.
– Você tem lindas peças de porcelana. – Elogiei, apenas para ser educada. Na verdade, não havia reparado.
– Moro eu e meus gatos aqui. – Ela dizia, enquanto caminhava.
E então, uma gato preto enorme e gordo, passou por nós, esfregando-se brevemente pelas pernas dela.Observei ela caminhando. Ela era realmente alta, como uma modelo. Seu corpo era esguio, e mesmo ela usando uma jardineira jeans, ela estava linda.
Quando saímos nos fundos daquela loja, saímos para um lindo jardim. Um pátio aberto.
Nos fundos do pátio, havia uma construção de madeira com portas e janelas de vidro. Como uma cabana rústica de montanha.– Assim como você, herdei essa casa de minha família. – Ela dizia quando abaixou-se sobre e colheu algumas folhas. – Sente o aroma.
Cheirei aquele ramo que ela havia pegado.
– É calêndula, ótima para pele. – Ela disse. – Não que você precise, mas é um ótimo anti-inflamatório, logo seu fluxo menstrual vai vir, e nossa pele precisa de cuidados.
Como ela sabia do meu ciclo menstrual? Como ela sabia que eu tinha inchaços durante o meu período?
– É perfumada. – Murmurei.
– Leve, é para você. Vou te explicar como usá-la.
– Obrigada.
– Me acompanha em um chá? – Ela perguntou.
Por um segundo, eu quis sentar ali com ela, naquele lindo jardim perfumado de ervas, mas a verdade, é que ela começava a me dar medo.
– Obrigada, mas preciso ir.
Percebi que seu olhar perscrutando-me. E então, ela abriu outro sorriso e suspirou.
– Tudo bem... – Ela olhou a sua volta e foi até outra planta florida. Colheu um ramo e me entregou. – É camomila, coloque no seu banho. Vai ajudar a te relaxar para dormir. Vou te dar um óleo para o corpo, que eu mesma faço. Ele vai perfumar e hidratar... Prove, se gostar volte.
Como não percebi antes?
– Mais uma vez, obrigada. – Agradeci educadamente e peguei o ramos de flores.
– Volte quando quiser. – Ela disse de forma carinhosa. – Vai ser um enorme prazer recebe-la aqui.
– Voltarei.
– Tem muito a aprender sobre as ervas, eu vou adorar lhe ensinar tudo que sei.– Ela disse. E meu coração disparou.
– Vamos, vou lhe dar o pirulito de caramelo.
Patrícia passou por mim, e eu a segui para dentro da loja novamente.
Quando sai daquele lugar, era como se eu pudesse respirar melhor. Tinha em minhas mãos o grande pirulito de caramelo colorido, os ramos de ervas e flores e a certeza que ela era uma Bruxa.
Perceberam quem é a tal Patrícia?
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Liana --------
RomansaLiana passou os últimos dez anos da sua vida em um internato religioso. Ao completar dezoito anos, ela quer recuperar sua vida.