1

369 24 4
                                    

  Antonella olhou para trás uma última vez antes de atravessar o portão de embarque, se perguntando se ela realmente era tão crucial para a família Drummond como todos diziam que era.

  Uma herdeira, fazendo as malas às pressas no meio da noite, pegando o metrô até o aeroporto, indo rumo a um destino incerto que poderia muito bem dar errado. E quando seus pais acordassem e vissem o escarcéu caótico que tinha virado o quarto da menina albina, ela não estaria lá para levar a bronca.

  O aeroporto estava vazio às 3h da manhã. Era o horário dos desiludidos, dos decepcionados, dos enlutados, dos desesperados e das herdeiras que não aguentam mais se ver às sombras da família rica e famosa.

  A garota vinha planejado aquilo há meses: trancado sua faculdade de medicina na USP há duas semanas, e pedido para continuar o curso na Universidade de Seul. A passagem apenas de ida estava comprada, uma passagem que significava muito mais do que simplesmente pegar um avião que atravessa o oceano.

  O foco de seu olhar mudou: do povo brasileiro para além da vidraça que permitia ver a madrugada gélida. A última madrugada brasileira que ela veria por um longo período de tempo.

  As memórias ruins e subalternas invadiram sua mente, e Antonella virou-se para frente, caminhando com determinação rumo ao avião.

Apartamento 21 - Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora