11 Rodrigo

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Acabamos de aterrar em Porto.

Olhei para o Nuno e vi que estava pensativo. Provavelmente por já sentir saudades de Nádia. Elas ainda ficaram na ilha por mais 2 dias, mas como moram a uns 150km da nossa cidade, ficou combinado marcarmos um encontro novamente todos juntos quando voltassem.

Nuno com certeza iria ver Nádia, e Nádia também viria até ao Porto para vê-lo antes disso.
Ao despedir-me de Jéssica trocamos números de telefone, e também ficou combinado fazermos algumas visitas um ao outro.

— Acho piada à cara de parvo com que ficas quando estás apaixonado.

Digo rindo provocando o Nuno, que me olha com um sorriso irónico enquanto saíamos do avião.

— Engraçadinho. Também não me passou indiferente a tua proximidade com a Jéssica. E ontem sozinhos a ver o pôr do sol, super romântico.

Ele responde com ar de malícia.

— Não é nada do que estás a imaginar. Tornou-se simplesmente uma boa amiga.

— Sem dúvida, que ela é boa!

Ele ri dando ênfase à palavra boa, e fez-me rir também. Ele era assim mesmo, brincalhão. Que pensasse o que quisesse, não ia adiantar dar-lhe mais satisfações.

— Queres almoçar lá em casa? Aviso a Sílvia que conte também contigo para o almoço.

— Pode ser.

Chegando em casa já Sílvia nos esperava à porta de casa.

— Então as férias foram boas? — pergunta com um grande sorriso no rosto.

— Ótimas, Sílvia! A ilha é perfeita, recomendo. — Nuno responde entrando em primeiro lugar em casa.

— Foram boas sim, Sílvia, embora eu tenha agora umas contas a ajustar com alguém que se esqueceu de uma ordem minha.

Falo fingindo-me de aborrecido. Não resisti em assusta-la um pouco, pela sua ousadia com os preservativos deixados no meu saco.
Mas claro que nunca a despediria. Sílvia trabalha para mim há anos e já ganhei uma certa afeição por ela.

— Oh Rodrigo, desculpe, eu..

Ela ficou visivelmente preocupada, fechando o sorriso.

— Estou a brincar consigo, mulher! Acha mesmo que eu teria coragem? Embora você me desafie. Já está pronto o almoço?

Sorrio deixando-a aliviada.

— Já está sim. Instalem-se, que já o vou servir.

— Obrigado.

Durante o almoço com o Nuno, resolvi perguntar algo que já havia surgido em meus pensamentos muitas vezes.

— O hospital tem os dados das pessoas que receberam os órgãos da Eva?

Nuno para de mastigar e olha-me intrigado.

— Não sei. Porque queres saber disso?

Eu sei que ele sabe, ele trabalha na parte administrativa do hospital onde Eva esteve depois do acidente, e de onde foram retirados seus órgãos para doação.

— Eu gostava de conhecer essas pessoas. Sei lá saber se estão bem.

Dou aos ombros.

— Rodrigo, não acho isso boa ideia.

— Nuno, por favor. É importante para mim. Talvez isso me ajude a ultrapassar. Saber que alguém sobreviveu, por ter um pedacinho de Eva. Talvez eu me conforme.

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