Capítulo I - Owari

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O suor escorria pelo corpo da ruiva. Trajada com roupas de treino, a diretora da sessão investigativa do FBI atingia incessantemente um saco de pancadas com seus punhos. Os pensamentos matutavam em sua mente, atingindo sua concentração. A recente descoberta sobre desvios de quantias ótimas de dinheiro da igreja para instituições gerou o início de uma investigação grande.

Tudo começou com denúncias de pedofilia cometida por diversos sacerdotes religiosos. O início dessa investigação levou a descoberta de diversos depósitos feito por ONGs e instituições públicas em nome de igrejas. A coisa se tornou grande. Muito grande.

Os socos no saco de pancadas de intensificavam a medida que ela pensava mais no caso, que ainda não tinha ido a público. Ela sentia as gotas de suor escorrendo pelo seu rosto. Às vezes, uma ou outra caía em seus olhos e atrapalhava sua visão. A cada soco desferido no grande saco de areia, ela dizia algo relacionado ao caso: padre, pedofilia, dinheiro, máfia.

Duas horas foram o suficiente para descarregar sua frustração naquele saco de pancadas.

Quando finalmente chegou em seu apartamento, próximo ao centro de Washington, D.C, a diretora jogou o molho de chaves na mesa de centro — o contato com o vidro fez um barulho irritante. Se dirigiu para o banheiro, onde o cheiro de bambu, proporcionado pelo difusor, pairava. Jogou suas roupas suadas no chão e deixou a água gelada do chuveiro escorrer pelo seu corpo. Nunca gostou de banho gelado, mas hoje ela precisava. Deixou a água corrente levar pelo ralo os pensamentos ruins, mesmo sabendo que não se livraria deles tão fácil. A fala do juiz a assombra ainda:

— Por favor, diretora Tatsumaki, eu não vou expedir uma ordem de depoimento para um padre, não seja louca.

A voz firme de Charlie Gownes, magistrado da Suprema Corte dos Estados Unidos, ecoava em seus pensamentos. Ela se sentia frustrada. A vontade de chorar subia pela sua garganta em todos os momentos do dia. Mas apenas em momentos como esse, no banho, se permitia desabar em lágrimas.

— Tudo bem — ela falou tom baixo, embargado, se olhando nua no espelho. Usou o secador para deixar seus longos cabelos avermelhados sequinhos e os penteou.

No quarto, vestiu o terno profissional se arrastando. Ela não apresentava nenhuma vontade em ir para a sede hoje. Colocou seu crachá e pegou as chaves, as colocando no bolso. Ligou a tela do celular e deu uma olhada nas notificações. Nenhuma mensagem importante — além das não vistas há meses. Ela é péssima para comunicação por whatsapp.

Sentou no banco do motorista e respirou fundo. Olhou pelo retrovisor e percebeu, só agora, as olheiras profundas. Ela não dorme há uns dois dias — mesmo usando tarja preta. Tateou o chão do carro e achou sua paleta de sombra jogada por ali. Aplicou um tom escuro suave, apenas para suavizar a profundidade e parecer uma pessoa saudável. Esboçou o melhor sorriso que conseguia enquanto encarava seu reflexo: uma pessoa perdida em seus próprios problemas, mergulhada em caos e ansiedade.

Ela se odeia.

— Você não pode desistir, Owari — ela falou, observando o tom esverdeado de seus próprios olhos. — Lutou muito para chegar aqui. Você é a porra da Diretora da Divisão de Investigações do FBI. Já foi diretora da Divisão de Espionagem. Você é foda.

Ela falou isso para ocultar suas inseguranças. Tentar mascarar sua vida medíocre. Tentar se convencer de que é uma pessoa minimamente aceitável na sociedade. Ela precisa acreditar nisso. Ela quer acreditar nisso.

Balançou sua cabeça para os lados, na tentativa de afastar os pensamentos ruins e encarou o asfalto. Pisou no acelerador e já se pôs ao rumo da Sede: um prédio quadrangular, cheio de salar que ela não sabia nem a metade dos donos. Quanto mais se aproximava da Sede, mais pensava no caso. O presidente da instituição está exigindo incessantemente resultados e respostas. Respostas que ela não tem.

Estacionou em sua vaga diária e deu uma última ajeitada no seu visual. A diretora precisa estar minimamente aceitável na aparência. Saiu do carro e entrou na sede, ignorando alguns jornalistas que cercam o prédio diariamente, como abutres cercando um animal moribundo. Ignorou qualquer um dos agentes da agência, se limitando a "bom dia" e sorrisos falsos, que machucavam a musculatura de suas bochechas. Se fechou em sua sala e ficou jogada na cadeira de olhos fechados, adiando a eminência de ligar o computador.

O fez.

O relatório de algumas investigações menores estavam em sua mesa, mas ela não estava com a mínima paciência para lidar com isso. Tinha uma investigação grande em suas mãos. E o pior: precisaria entrar em contato com a Interpol.

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⏰ Última atualização: Nov 13, 2022 ⏰

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