Simon olhou para o relógio de pulso e respirou fundo. Por culpa do "lanche" feito por Paulina estava meia hora atrasado pela primeira vez desde que a SaaTore fora fundada. Por onde passava era seguido por olhares curiosos. Com certeza na hora do almoço seu atraso seria motivo de falatório.
Entrou no elevador e apertou o botão para o nono andar. Antes que as portas se fechassem Tamara Saadi, do setor de criação e irmã gêmea de Gabriel, entrou e apertou distraída o botão do décimo andar. Quando ela removeu os olhos esverdeados da pilha de papéis que levava e os cravou sobre ele, Simon observou a fina sobrancelha loira se erguer com desprezo.
— Atrasado pela segunda vez em uma semana — disse a jovem de cabelo loiro acobreado preso em um coque lateral. Simon supôs que ela considerava o horário que reservara para contratar uma governanta como atraso. Podia corrigi-la, mas considerou perda de tempo e esforço. — Pretende deixar a empresa nas costas do meu irmão?
Sem interesse na queixa infundada, Simon moveu a atenção para o visor de andares. Paulina lhe dera
o recado absurdo para evitar a irmã de seu sócio, agora compreendia o pedido. A designer demonstrava abertamente a irritação com ele.
— Além de encher a cara e ser escoltado até sua casa, agora vai me ignorar?
Alerta, Simon voltou a encarar Tamara, dividido entre a vontade de saber mais detalhes da noite anterior e a de manter a posse inabalável. A segunda opção venceu.
— Não perco tempo com reclamações sem sentido.
— Sem sentido? — A ira na voz dela era palpável. — Sem motivo algum, você bateu em um dos meus amigos, e acha que minhas reclamações são sem sentido? Quem você pensa que é? — vociferou contendo a vontade de arremessar os documentos no rosto arrogante.
— Presidente da SaaTore, ou seja, seu chefe — recordou, acrescentando insolente: — Portanto, não me incomode com bobagens.
— Seu merdinha prepotente. Meu irmão também manda nessa porcaria, e...
As portas se abriram no nono andar e, ignorando a furiosa Saadi, Simon saiu do elevador sem olhar para trás.
Pelo menos o ataque dela esclarecera um pouco da noite anterior, já que, a não ser pela chegada à festa e por alguns pedidos de bebida, não recordava de nada com clareza. Estivera zangado com a situação criada por sua mãe e descarregara na bebida.
Apressou os passos até sua sala, parando estático na recepção, onde Cherry tinha de cuidar de seus afazeres. No entanto, sua secretária estava toda sorridente para um homem de cachos loiros que não tinha noção do quanto Simon o desprezava.
— Oi, Simon! — Nathaniel Muller o cumprimentou com sua irritante euforia.
A simples presença do Muller em seu escritório teve o poder de irrita-lo, vê-lo todo sorrisos só aumentou seu mau humor.
— O que faz aqui? — questionou ignorando a saudação.
— Decidi resolver pessoalmente o contrato.
— Contrato?!
— Sim, para SaaTore promover a nova linha da Muller Cosmetics.
Droga! Esquecera totalmente a proposta idiota.
— Infelizmente não podemos promover a Muller.
— Não?! — Nathaniel o encarou confuso. — Gabriel disse que poderiam e até foi imprimir um contrato padrão para análise.
— O Gabriel fez o quê?!
— Informei que ficaríamos imensamente felizes em ajudar o Nathaniel em seu projeto — respondeu Gabriel ao sair de sua sala segurando o que Simon supôs ser o contrato.
— Temos diversos trabalhos que ocuparão nosso tempo por meses — Simon refutou entredentes quando o sócio parou ao lado da mesa de Cherry.
— Nossa equipe é grande o suficiente para atender todos os clientes, incluindo a Muller — o Saadi contrapôs antes de se voltar para Nathaniel e entregar o documento. — Podemos marcar uma reunião com seus advogados para adequar os termos a necessidade da Muller.
Folheando, Nathaniel concordou.
Simon encarou o sócio com raiva, recebendo um olhar de indiferença.
— Podemos conversar em particular?
— Claro. Porém, temos que acertar uma data para...
— Primeiro conversamos e depois decidimos em conjunto.
— Como preferir — Gabriel retrucou com olhar gélido. — Na minha sala ou na sua?
Sem responder, Simon caminhou com passos pesados para dentro de seu escritório, deixando a porta escancarada.
Calmamente, Gabriel o seguiu.
— Não vamos de forma alguma trabalhar pra Muller — anunciou Simon depois de Gabriel fechar a porta.
— Por quê?
— Porque eu não quero. — Os olhos do Saadi se estreitaram com desagrado, mas Simon ignorou ao continuar: — Não deveria aceitar sem me consultar.
— E você pode rejeitar o que quiser sem me consultar, só porque você não quer.
— Sabe muito bem que não suporto o Muller.
— O que sei é que Nathaniel apareceu hoje dizendo que você ficou de falar comigo ontem sobre promover um novo produto da perfumaria Muller. O que obviamente você não fez — proferiu com desgosto. — O que sei é que Nathaniel me convidou para o casamento dele e declarou, rindo satisfeito, que convidou você para ser seu padrinho. Agora pergunto: Que maldita desavença vocês tiveram que, aparentemente, o Nathaniel não tem conhecimento?
Simon ficou em silêncio e se voltou para a janela, ficando de costas para o Saadi, que continuou intrigado:
— Desde os sete anos nós três estudamos juntos. Por diversas vezes brigamos como animais e trocamos xingamentos, mas sempre mantivemos a amizade. Porém, de uns anos para cá, você se distanciou do Nathaniel e praticamente me obriga a escolher um lado.
— Que eu lembre nunca te proibi de ser amigo daquela ameba. Não me culpe por não manterem contato — Simon resmungou sem se voltar. — E quem se afastou foi ele... Infelizmente não o suficiente — completou baixinho.
— O Nathaniel se afastou porque assumiu as empresas do pai — recordou o Saadi, argumentando em seguida: — Não sou o tipo que liga para manter contato, e tenho passado noite e dia trabalhando para que a SaaTore seja maior que a empresa do meu pai. Que desculpa você tem? Deve ter visto o Nathaniel muitas vezes nos últimos anos. Até reclama disso — relembrou.
— Exatamente. Cansei de olhar para a cara daquele imbecil.
— Você nem consegue chama-lo pelo nome. — Cruzou os braços e encarou o sócio com irritação e curiosidade. — O quê Nathaniel te fez afinal?
— Isso não é da sua conta — respondeu Simon com agressividade. — Se quer trabalhar para o idiota do Muller, tudo bem, o problema é seu.
Insatisfeito com o comportamento de Simon, Gabriel decidiu que não valia a pena discutir com as paredes e saiu da sala.
Sozinho e enfurecido com a decisão do sócio, Simon jogou o corpo pesadamente em sua poltrona e abriu seu notebook. Esperava que o trabalho acalmasse seus nervos.
— Com licença senhor Salvatore. — Cherry evitou o olhar furioso de Simon e depositou na mesa um maço de folhas. — É do escritório do senhor Ramos. Ele precisa da sua assinatura em ambas as vias.
Simon puxou o documento enquanto Cherry se retirava com pressa. Leu as primeiras linhas. Sorriu. Pelo jeito o plano de Mirela tivera uma falha.
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Ensina-me ~ Degustação
Romance+18 ~ Depois de uma decepção amorosa Paulina Perez, uma tímida governanta, decidi que é hora de mudar e aceitar a ajuda do maior conquistador que conhece: Simon Salvatore, seu patrão. Contra todas as suas regras Simon começa a ensina-la a arte da c...