Surpresinha

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Ao abrir a porta do quarto Fabrício Salvatore foi surpreendido pela barulheira. Parou no umbral, a mão firme na maçaneta, atento aos diversos sons que reverberavam no cômodo. Metal batendo em uma superfície, farfalhar de roupas e resmungos incompreensíveis. Observou uma almofada voar do closet, cair no chão e dar diversas piruetas até chocar-se contra a cama de casal.

Pesando suas opções, olhou para o corredor as suas costas e depois para o closet. Não que houvesse muitas quando se era casado com Mirela. Resignado, atravessou a porta e a fechou, seguindo na direção dos gritinhos femininos de frustação.

A desordem dominava o lado destinado à esposa, as prateleiras do alto estavam reviradas ou vazias, no chão os objetos que as ocupavam: roupas, travesseiros e caixas abertas com chapéus, vestidos de festa e casacos. Mirela movia a escada para outra fileira, uma das poucas com nichos intactos.

— Temos empregados para isso.

Mirela soltou um grito e, agarrada a escada, o encarou irritada.

— Em vez de assustar, seja um marido atencioso e desça aquilo. — Apontou uma caixa branca que ocupava por completo a última prateleira.

— Outro bazar beneficente? — perguntou ao subir na escada.

— Não.

Agarrou a caixa, movendo-a para debaixo do braço antes de descer devagar a escada.

Assim que a caixa ficou ao seu alcance, Mirela a agarrou, levando-a para a mesinha no centro do closet para abri-la.

— Finalmente! — riu-se Mirela, fechando a caixa antes que Fabrício tivesse tempo de ver o que motivara aquele caos.

— O que é?

— Uma surpresinha — Mirela respondeu desajeitadamente abraçada à caixa retangular, saindo do closet.

— Devo me preocupar com a segurança de alguém?

Sorrindo, Mirela esperou Fabrício aproximar-se e, estendendo a mão até o rosto do marido, deu tapinhas de leve na bochecha dele.

— Talvez, querido, talvez.

~*~

A música alta, próxima ao seu ouvido, tanto acordou quanto assustou Paulina. Com o coração aos pulos, sentou na cama, esfregando os olhos com uma mão, enquanto com a outra tateava o criado mudo à procura do celular. O pegou e, entreabrindo um olho, deslizou o dedo na tela para atender.

— Alô... — balbuciou sonolenta.

— Lina? Aqui é o Guilherme.

— Oi... Guilherme! — cumprimentou deslizando para debaixo das cobertas.

— Te acordei?

— Já é minha hora de levantar... — murmurou, mesmo sem saber que horas eram.

— Paola me contou sobre o grande pedido. Como se sente?

— Nas nuvens — respondeu esticando-se com um sorriso sonhador.

— Queria te felicitar pessoalmente, mas passarei mais uma semana fora. Na verdade esse é o maior motivo dessa ligação. Preciso de um favor.

— Qual?

—Tábata está sozinha em casa e, como está nas últimas semanas de gravidez, estou preocupado. — Mesmo Guilherme não podendo vê-la, Paulina assentiu. Conhecera Tábata Mamoru há poucos meses, quando Guilherme abrigara a amiga grávida. Simpatizara com a força e vitalidade da jovem diante das adversidades que atravessava. — Pode passar na minha casa e ver como ela está? Tábata diz que está bem, mas quero ter certeza — acrescentou sem ocultar a preocupação.

Ensina-me ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora