Seguindo para a sala de reuniões, Gabriel parou para chamar Simon.
— Tenho uma reunião com o Nathaniel em meia hora, quer participar?
— Já disse que não farei parte desse projeto.
Gabriel respirou fundo.
— Tinha esperança que mudasse de ideia.
— Sem chance.
— Tem noção do quanto precisamos desse projeto? — perguntou irritado. — A Muller é uma empresa de renome. Fazer um ótimo trabalho nela garantirá que nossa clientela aumente. A conta da Muller trará um retorno positivo de todas as formas que pensar. É a nossa chance de crescer no mercado.
Simon deu de ombros, não entendendo o motivo da insistência do Saadi. Como fazia questão de lembrar o sócio, nenhum dos dois era obrigado a participar de todos os projetos.
— Nathaniel deseja a sua presença. Pergunta o motivo da sua falta e não posso responder: ele não quer. — Diante da expressão de pouco caso propôs: — Sente conosco por algumas horas, finja que faz parte da empreitada e dê a empresa à chance de agradar o cliente. Conseguiremos com a Muller o dobro do que conseguimos nos últimos dois anos, uma injeção de capital que fará a empresa ter visibilidade. — O silêncio de Simon foi recebido com frieza. Gabriel levantou, dando-se por vencido. — Coloquei cada centavo da minha herança nessa empresa e quero que prospere. E você? — questionou antes de sair.
Simon voltou à atenção para os gráficos na tela, mas sua concentração se perdera e com um baque fechou seu notebook.
~*~
Horas depois, Simon tentava com muito custo esquecer a conversa com Gabriel quando a porta de seu escritório foi aberta com brusquidão, a madeira batendo com força contra a parede. Furiosa, Tamara adentrou o recinto, seguindo até a escrivaninha com passos pesados, logo atrás dela uma apavorada Cherry.
— Tamara... — murmurou Cherry, sendo bruscamente cortada.
— Não se meta! — exigiu a Saadi. As mãos femininas bateram com força no tampo da mesa. Simon ergueu os olhos negros até encontrar os ferozes azulados. — Tenho algo que resolver com o garanhão aqui. — Vendo a expressão interrogativa do Salvatore, esbravejou. — Sabe o que é perder duas modelos em um dia? Duas modelos escolhidas a dedo após semanas de testes?
Simon considerou a possibilidade da irmã de Gabriel ter enlouquecido. O que ele tinha a ver com a seleção de modelos?
Aumentando o público, Gabriel entrou em sua sala.
— Tamara, o que houve?
— Duas modelos acabam de se estapear e descabelar porque ele — apontou para Simon — não consegue manter a porra do pau dentro das calças. — Lançou ao Salvatore um olhar revoltado. — Tantas mulheres no mundo e você vai trepar com as modelos que costumamos contratar? Sim, trepar, porque até a palavra sexo me parece inadequada para o que você fez com essas garotas.
— Tamara! — Gabriel tentou intervir, mas sua irmã estava furiosa demais para ouvi-lo.
— Não Gabriel, deixe-me falar — pediu encarando Simon com raiva. — A empresa é nova, qualquer deslize pode nos levar a falência. Por um minuto, um mísero e insignificante minuto, pense nas consequências de se esfregar em modelos que podem se encontrar em uma de nossas propagandas.
Após Tamara sair tão tempestuosamente quanto entrara, Simon sentiu dois pares de olhos sobre si. Voltou-se para Cherry.
— Creio que tem trabalho a fazer senhorita Martins.
— Sim, claro! Com licença!
Ela saiu rapidamente, deixando-o sozinho com o sócio.
— Perdoe a Tamara. Desde que Abdul anunciou sua doença, ela tem estado uma pilha de nervos — justificou. — Mesmo sendo um péssimo pai, ela se importa com ele.
— Ela está certa — retrucou. — Esqueci-me da regra básica: Nunca se envolva com uma funcionária. Embora, até hoje, não tenha olhado para as modelos dessa forma.
— Também já sai com as modelos, mas deixo um tempo entre uma e outra. E é sempre uma boa ideia presenteá-las com uma joia e dizer que terminou — aconselhou sentando em frente ao Salvatore.
— Sequer comecei algo com elas.
Gabriel assentiu devagar.
— Mulheres! Enxergam mais do que deveriam.
— Sobre hoje de manhã, pensei muito a respeito. Assim como a sua irmã, você tem razão. A empresa deve vim em primeiro lugar. — Tenso, deslizou os dedos pelo cabelo. — Na próxima reunião estarei presente. E não só em corpo, me envolverei no projeto para que tenhamos sucesso — prometeu.
— Isso é bom — disse Gabriel aliviado. — Tenho que admitir que a mais por trás do nosso estresse.
— O que?
— Abdul usa sua doença para nos pressionar. O maldito não pode nem mesmo ir para o inferno sem nos arrastar no processo.
Desde que montaram sociedade, eram poucas as vezes que Simon ouvia Gabriel mencionar o pai, e nessas poucas o desprezo era palpável.
— Pressionando de que forma?
— Tentando convencer Tamara a voltar com o Pierre. O maldito quase destruiu a vida dela e ele acha que não existe marido melhor.
— Tamara contou para ele o motivo da separação?
— Não, ela se nega. Mas não é óbvio?
— Conhecendo a personalidade da sua irmã, caso não tivesse ouvido de você, jamais suspeitaria — admitiu.
— Mesmo que soubesse, ele não ligaria. — riu sem humor. — Ele também quer forçar o Khaled e eu a formamos uma família normal. Foram essas as palavras que ele usou. Como se tivéssemos um parâmetro para saber como é uma família normal — acrescentou com azedume. — Ele diz que logo morrera e quer ter certeza que seu legado continuara. Legado... — riu — é mais uma maldição.
— Ignorem. Faço isso com a minha mãe.
— Mirela é uma principiante perto dele. Ah, mas o que estou fazendo. — Levantou. — Não vou descarregar meus problemas em você.
— Os amigos são pra essas coisas. Escutar.
— Nathaniel disse algo parecido. — Simon fechou a cara. Ser comparado com Nathaniel era a última coisa que esperava naquele dia. — Temos conversado muito. Quem sabe, agora que fará parte das reuniões não se junte a nós. Será como...
— Antigamente — adiantou-se, lembrando o que escutara de Nathaniel dias antes.
— Exato.
Simon deu de ombros, decidindo ignorar o assunto e não alonga-lo. Era inútil, internamente duvidava que algo do tipo um dia de fato ocorresse. A amizade deles havia sido maculada anos antes e ele, Simon, não fazia a menor questão de recupera-la.
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Ensina-me ~ Degustação
Romans+18 ~ Depois de uma decepção amorosa Paulina Perez, uma tímida governanta, decidi que é hora de mudar e aceitar a ajuda do maior conquistador que conhece: Simon Salvatore, seu patrão. Contra todas as suas regras Simon começa a ensina-la a arte da c...