Escolhendo o modelo do convite da festa de casamento, Paulina, sentada entre Carlota e Nathaniel, esforçava-se para não se irritar com seu noivo. Às vezes Carlota pedia a opinião de Nathaniel, que respondia com resmungos inaudíveis, dava de ombros, torcia a boca e, na maioria das vezes, dizia que aprovaria o que elas escolhessem.
Não era assim que imaginara seu noivado. Esperara que Nathaniel a ajudasse, incentivasse e demonstrasse felicidade. Desde que a pedira em casamento ele estava estranho, distante, calado, muito diferente do homem extrovertido e sorridente por quem se apaixonara. O que fizera para ele agir como fosse empurrado para uma armadilha inevitável?
Compreendia que ele não desejava uma festa, ideia de Carlota para apresenta-la aos familiares e amigos como esposa de Nathaniel. Compreendia que preferia trabalhar a perder tempo com detalhes, como ele mesmo chamara quando Carlota exigira que ajudasse. Compreendia que o trabalho durante a semana sugava suas energias e, mesmo cansado, ele vistoriava a fábrica de cosméticos e trabalhava em casa nos fins de semana. Compreendia tudo que ele pedia para compreender. No entanto, ela abdicara do sonho de casar na igreja e não usaria o vestido que queria – o de sua mãe – por causa dele, para agrada-lo. Por míseros minutos, gostaria que ele gastasse um pouquinho do empenho que tinha com a empresa nos preparativos do casamento. O trabalho não era desculpa suficiente. Também trabalhava e o seu trabalho era muito pior que o dele. Nathaniel não tinha que lidar com oscilações de humor, olhar gélido e o peso da culpa.
Seu celular vibrou, alertando a chegada de uma mensagem. Precisando distrair-se, Paulina o pegou, sorrindo ao visualizar a mensagem.
— Boas noticias? — perguntou Carlota, aliviada pela tristeza abandonar o rosto de sua nora.
— A amiga do meu primo Guilherme teve um bebê. Uma menina. — Mostrou a foto da recém-nascida, primeiro para Carlota e depois para Nathaniel. — Não é linda?
— Sim — confirmou Carlota, acrescentando com empolgação: — Logo serão vocês a anunciarem o nascimento de um neném.
Paulina assentiu sorridente, sonhando com lindas e pequenas versões de Nathaniel em seu colo.
— Levará alguns anos para isso acontecer, no mínimo três — retrucou Nathaniel, causando a surpresa da mãe e da noiva. — A empresa tem que estar firme antes da chegada de novos Muller.
— A empresa não vai sumir se tiverem filhos — replicou Carlota e olhou para Paulina, a espera de apoio em sua posição, mas, para seu desagrado, a noiva abaixou a cabeça. Queria chacoalhar ambos, Paulina por ser conformista e Nathaniel por levar adiante aquela loucura de casamento, quando mostrava tão pouco empenho em prepara-lo. — Terão de se cuidar muito bem, casais jovens engravidam fácil. Fiquei grávida no primeiro mês de casamento.
— Paulina cuidará disso.
Ela cuidaria? Tinha tanta coisa para fazer e Nathaniel lhe empurrava mais essa? Apertou as mãos no colo. Estava esgotada, estressada e prestes a chorar de raiva de Nathaniel, sua obsessão com a Muller e, principalmente, dela.
Forçou-se a respirar fundo, contar até dez devagar e recompor-se. Ela era a mulher, a noiva, era lógico que a pressão seria maior nela, argumentou para tranquilizar-se e controlar seus nervos até o fim daquele encontro. Porém, continuava tensa quando Nathaniel a deixou na frente do prédio em que morava e trabalhava.
— Nos vemos semana que vem, anjinho — Nathaniel disse ao se inclinar para beija-la.
Assentiu, recebendo com lábios apertados o rápido beijo do noivo. Desceu do carro e o observou até sumir no trânsito, sentindo a garganta apertar e os olhos formigarem.
Aspirando o ar com força, seguiu para o elevador do prédio preparada para mais uma dose de tratamento gélido do Salvatore. Aquela situação ajudava a deixa-la com os nervos a flor da pele. Há três dias tentava de tudo para desculpar-se por entrar no quarto dele, arrancar algo além dos olhares vazios e monossílabas, mas nada surtia efeito. O silêncio dele a perturbava tanto quanto o de Nathaniel. Acostumara-se as reclamações sobre o excesso de comida, suas canções e bom humor matinal. Soltou um riso sufocado ao dar-se conta que estava tão mal que sentia falta até das gracinhas inconvenientes.
Logo que entrou no apartamento ficou de frente para Simon, segurando uma caneca, enquanto caminhava até o sofá da sala. Alertado da sua chegada pelo barulho da porta, ele parou e a mirou com indiferença, como se ela não fosse nada além de uma sujeira em seu caminho, ou menos que isso.
— Boa tarde! — A governanta forçou um sorriso, recebendo como resposta um dar de ombros.
Foi mais do que podia suportar. Antes que se acabasse no choro, correu para seu quarto, jogando-se na cama e dando vazão as lágrimas. Pela semana horrível com Simon, o fim de semana estressante com Nathaniel e sua relutância em alegra-se com os preparativos do casamento. Em cerca de um mês e meio sua vida mudará radicalmente e nem tudo fora para melhor.
Ergueu o rosto do travesseiro ao ouvir batidas na porta, percebendo que a deixara aberta e Simon presenciara sua derrocada. Sentou e, envergonhada, arrumou o cabelo e a roupa.
— Não sei o que houve, nem sei consolar ninguém, só posso oferecer isso. — Aproximou-se e estendeu um copo com líquido transparente. Paulina encarou o copo e depois Simon com desconfiança. — É água com açúcar.
Ela aceitou.
— Posso sentar? — ele pediu apontando para a poltrona no canto do quarto.
Assentiu olhando para a bebida. Simon sentou e ficaram em silêncio enquanto ela bebia a água, o que de alguma forma a acalmou.
Acomodou o copo no colo, apertando-o nervosamente com os dedos.
— Não está mais zangado? — perguntou observando o fundo vazio.
— Zangado com o que?
— Comigo — respondeu sem coragem de olhar para ele. — Por causa daquele dia — corou —, quando entrei no seu quarto sem permissão.
— Você me fez um favor.
— É que, desde aquele dia, você está esquisito e quase não fala.
— Sou calado por natureza.
— Ficou mais — retrucou encarando-o e, antes que pudesse controlar-se, comentou: — Agora nem me provoca... Quer dizer...
— Não explique — ele interrompeu com um sorriso de canto. — Suas lágrimas são por causa disso?
— Não... Foi o estresse com os preparativos do casamento — desabafou.
— Casar é atestado de insanidade.
— Alessandro casou duas vezes — recordou na defensiva.
— A loucura é justificável no caso da mulher ser como a Iolanda.
Concordou, recordando que Simon sempre tratava a atual esposa do irmão com deferência. Provavelmente por causa da época que trabalharam juntos na empresa da família dele.
— Iolanda é linda.
— Muito, e trouxe um neto para a dona Mirela mimar.
— Ah! Isso me lembra. — Agarrou a bolsa jogada ao seu lado e retirou o celular. — A filha da Tab nasceu. — Mostrou a foto.
— Parece uma miniatura do fofão.
— Simon! — esbravejou com censura. — Ela é uma graça.
— Ok! É bonitinha. Quando vai visita-la?
— Amanhã. Quer ir junto? — convidou.
— Creio que o Guilherme não aprovaria minha presença.
— Mas Tábata sim — retrucou, brincando em seguida: — Ela te acha atraente e já tem uma filha pra Mirela mimar.
— Aumentou as razões para não visita-la.
Deu de ombros. Pelo menos tentara ajudar Mirela a acabar com a aversão de Simon a instituição do casamento, porém, ela vencera mais uma vez. Certamente, com tantas decisões e arranjos para fazer nos próximos meses, e com o noivo agindo de modo estranho, ela tinha seus próprios problemas para resolver.
Fofão: Personagem de programas infantis brasileiros na década de 80 e 90.
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Ensina-me ~ Degustação
Romance+18 ~ Depois de uma decepção amorosa Paulina Perez, uma tímida governanta, decidi que é hora de mudar e aceitar a ajuda do maior conquistador que conhece: Simon Salvatore, seu patrão. Contra todas as suas regras Simon começa a ensina-la a arte da c...