Enquanto ajudava Tábata nos afazeres domésticos, como sempre fazia ao visita-la, Paulina não demorou em contar o que a deixara a beira das lágrimas. Não fora exatamente uma iniciativa sua, Tábata tinha um jeito sutil de arrancar informações, deixando-a a vontade para abrir o coração.
Depois de algumas horas conversando sobre diversos assuntos e, por fim, desabafar, Paulina sentia-se mais leve, assumindo que Simon tinha razão, remoer sua dor sozinha trazia mais sofrimentos que alivio. Era incomodo, mas Tábata não parecia chateada, até tentava anima-la. Em meio à conversa, conseguira fazer Paulina brincar ao falar que o primo deveria leva-la para o escritório de advocacia em que trabalhava.
— Pensei que Cherry fosse uma boa pessoa — reclamou após depositar dois copos de suco na mesinha de centro do quarto de bebê e sentar em uma das poltronas. — Sempre a tratei bem e ela fez isso comigo.
— Não creio que a culpa seja toda dela. — Sentada na outra poltrona, dando de mamar para Lean, Tábata tinha o olhar piedoso voltado para a Perez. — A pessoa comprometida é o seu noivo. Ou ela também é?
— Não sei. E Não importa — desdenhou, ditando como seus pais: — Uma mulher tem que se dar ao respeito e jamais se colocar entre um casal.
Tábata olhou a filha, que largara o peito e estava com as pálpebras semicerradas.
— É um modo simplista de ver as coisas — declarou em tom baixo, os dedos deslizando pelo cabelo ralo da criança.
— Simplista?!
Tábata ajeitou a camisa e levantou devagar.
— Ela deve ama-lo tanto quanto você — comentou levando Lean até o berço.
— Não é justificativa — refutou irritada. — Ele estava comprometido comigo.
— Esse é o ponto — assinalou de costas para a Perez, cobrindo a filha com uma manta amarela. — Ele lhe devia fidelidade, não ela.
— Mesmo assim. Ela não devia se aproximar dele, quando mais se deitar com ele como uma... qualquer — Paulina condenou com ferocidade, cada vez mais indignada com os argumentos da amiga para justificar o injustificável.
— Talvez ele tenha dito que o relacionamento de vocês não estava bem, que cancelaria o noivado — Tábata disse apática, acariciando o rostinho rosado da filha.
— Você não conhece o Nathaniel. Ele não é assim.
— Não, não conheço — concordou inspirando profundamente antes de ficar de frente para Paulina. — É só uma suposição.
— Errada. Cherry enfeitiçou meu noivo e engravidou para prendê-lo. Mas não permitirei sem lutar — rosnou se erguendo. — E estou cansada de ouvir você defender aquela mulher fácil. — Paulina saiu do quarto, sendo seguida por Tábata. — Pensei que fossemos amigas, mas me enganei.
— Deixe-me explicar... — Tábata pediu enquanto Paulina retirava sua bolsa de um gancho próximo à porta de saída.
— Chega! Não quero ouvir mais nada.
Abriu a porta e partiu correndo. Estava claro que chorar sozinha não era solução e tampouco conversar com amigos, parentes ou pessoas bem intencionadas que não compreendia a extensão de seu sofrimento. Só havia uma solução...
~*~
Imaginara mil cenas antes de chegar até ali, a maioria envolvendo violência física e verbal. Mas agora, com o elevador parando em seu destino, não sabia o que fazer ou falar.
As portas abriram e Paulina saiu, andando relutante até a mesa de Cherry. A secretária estava concentrada em algo no computador, digitando freneticamente, só notando Paulina quando viu a sombra de uma silhueta em sua mesa. Ergueu o rosto e ao reconhecer a governanta de seu chefe abriu um sorriso.
— Bom dia, Paulina! O senhor Simon está em reunião — informou, apontando o canto da sala, em que ficavam os sofás e uma mesinha de centro de vidro. — Pode aguardar, que assim que sair o avisarei. Quer café, água ou cappuccino? — Cherry levantou. A funcionária da copa estava no andar de cima, de forma que ela serviria as pessoas até seu retorno.
Paulina apertou os lábios, mordendo-os por dentro, seus olhos e o nariz formigavam. Queria soltar um palavrão, dizer que Cherry não prestava, era uma ladra de maridos, uma sem vergonha. Mas nada saia de seus lábios crispados, nem um som passava pelo bolor doloroso em sua garganta.
Analisou Cherry de cima a baixo, do terninho rosa claro, passando pela saia curta, até os scarpin combinando, e retornando para a barriga plana coberta por uma camisa de seda branca. Não parecia grávida. No entanto, Nathaniel deixara claro na noite anterior que ela era a mulher que carregava seu filho. A mulher com quem ele a traíra. A mulher que lhe roubara seu futuro e sonhos.
Cherry parou de sorrir, observando Paulina com preocupação ao reparar a palidez da governanta.
— Você está bem?
Sem sair da paralisia muda, Paulina sentiu lágrimas quentes escorrerem por sua bochecha e um sabor acre em sua boca. A raiva a cegou ao ponto de, momentaneamente, sua visão ficar turva. Cambaleou para frente, segurando com mãos suadas e trêmulas a beirada da escrivaninha.
Cherry correu em seu auxílio, envolvendo sua cintura com um braço e a conduzindo até o sofá da recepção. Sumiu da vista de Paulina por alguns instantes, reaparecendo com um copo de água gelada.
Olhando para o copo que Cherry lhe estendia, Paulina estava desnorteada, sem ação e, para sua vergonha, chorava de soluçar. Para aumentar sua desgraça, atraiu a atenção de um homem que saiu do elevador com uma pasta na mão.
— O que houve? — ele perguntou para Cherry.
— Não sei.
Paulina a encarou com o que esperava fosse sua melhor cara de raiva. Tentou falar, xingar, mas o que saiu foram palavras mescladas com choro numa sinfonia incompreensível.
— Ei, moça. — O homem de cabelo e olhos castanhos sentou ao seu lado e envolveu suas mãos com as dele. — Respire fundo! — Em um reflexo de constante obediência, Paulina fez o que ele pediu. — Sei que esta nervosa, mas controle-se e nos diga o que levou uma moça bonita como você as lágrimas.
— Beba — pediu Cherry estendendo o copo de água. — Lhe fará bem
Aquela bondade vinda da Martins fez a Perez reagir. Em um rompante sua mão bateu com força no copo lançando-o longe, se espatifando contra o piso de madeira.
— Bem...? Quer que eu fique bem...? — gritou sentindo a garganta doer com o esforço — Como posso ficar bem depois do que você me fez... Você é... é... — levantou, mas as pernas pareciam feitas de gelatina e teve de sentar novamente. Tentou recuperar a dignidade secando as lágrimas em seu rosto, porém elas persistiam em aparecer.
Simon, Gabriel e outros dois homens saíram de uma sala. Assim que Paulina o viu, ergueu-se e correu na direção dele, apertando-o em um abraço de desespero.
Sem entender o motivo de sua governanta espremer o rosto contra seu peito, quando horas antes a deixara na casa do primo, Simon pousou as mãos nas costas dela. A cena era embaraçosa e, vendo Cherry com os olhos arregalados de espanto fixos em Paulina, pressentia que pioraria se a Perez continuasse ali.
— Nos vemos semana que vem. — Simon comprometeu-se, ignorando a curiosidade do sócio e dos clientes. — Caso necessitem de qualquer informação não hesitem em me contactar — pediu antes de se encaminhar para sua sala com Paulina.
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Ensina-me ~ Degustação
Romance+18 ~ Depois de uma decepção amorosa Paulina Perez, uma tímida governanta, decidi que é hora de mudar e aceitar a ajuda do maior conquistador que conhece: Simon Salvatore, seu patrão. Contra todas as suas regras Simon começa a ensina-la a arte da c...