Acordei com uma sensação de paz, que já há muito tempo não sentia.
Apesar de não ser das camas mais confortáveis onde já dormi, o meu sono foi profundo e reparador.
Acho que afinal, saber que um pedaço de Eva está vivo e bem, acabou por ser uma ajuda para as minhas insónias.
Não precisei de beber até cair no sono, nem senti aquela angústia de todas as noites. Mas agora precisava me mentalizar de que quando esta estadia acabasse eu voltaria à minha rotina, e gostava de continuar assim.Nunca eu iria esquecer Eva, mas se eu pudesse levar uma vida normal, e conseguisse ter noites de sono normais ia ser muito bom. As palavras de Nuno vieram à minha mente, para que eu voltasse a ser o mesmo de antes.
Estranhamente nesta manhã senti que algo para melhor mudou. Talvez eu esteja a conformar-me com a minha nova realidade. Desci para tomar o pequeno almoço no hotel. Vi que Brenda estava na recepção, cumprimento-a tanto a ela, como a colega à minha passagem com um bom dia. Ambas respondem em uníssono esboçando um sorriso.
Fiquei feliz de a ver, na verdade estava ansioso por isso.
Que raios se passa comigo?
No fim do pequeno almoço subo até ao quarto, iria aproveitar o resto do dia para trabalhar. Recebi telefonema dos meus pais e de Nuno, ambos ficaram admirados de ter me ausentado do escritório. Dei a desculpa que vim a negócios, não quis dizer a verdade pois isso ia obrigar-me a dar muitas satisfações, e eu não estava disposto a isso. Em breve voltaria à minha rotina, e isto ficaria guardado para mim.
Acabei de tratar de todos os negócios pendentes do escritório. Cansado de estar enfiado no quarto, apeteceu-me dar mais uma volta na cidade, era pequena mas bastante atrativa e à beira mar, o que lhe dava um certo charme e calmaria. Por ser pequena e pouco conhecida não estava inundada de turistas, nem a praia a abarrotar de gente.
Olho pela janela e uma nuvem negra fazia prever que iria chover e não tardaria muito. Mesmo assim decido sair, já não aguentava mais estar enfiado no quarto. Iria tomar um café ou outra coisa qualquer, e fazer um pouco de tempo até ao jantar, talvez fosse até ao mesmo restaurante do dia anterior. Gostei de lá ir.
Quando chego na recepção para entregar o meu cartão vejo Brenda se despedir da colega. Elas não me viram chegar.
— Brenda, vai chover. Eu chamo-te um táxi.
— Não é preciso, Sandra. O hospital não é longe e sabes que caminho rápido.
Ela sai quase a correr, deixando praticamente a colega a falar sozinha.
— Teimosa.
Sandra bufa antes de se ter apercebido da minha presença.
Vejo que fica nervosa.— Desculpe, senhor Martins. Está a gostar da estadia?
— Sim, obrigado. Quero apenas entregar o meu cartão.
— Tudo bem, pode deixar. Obrigada.
Saio do hotel e o céu já estava muito mais negro. Quando começasse a chover ia ser um temporal.
Ainda ponderei voltar para o quarto mas também estaria abrigado no carro, caso não desse para sair e tomar um café na cidade.Só tive tempo para entrar no carro e arrancar em direção à cidade, para o céu desabar em água. De repente a chuva caía a uma intensidade louca e um vento forte abanava todas as árvores. As pessoas corriam a tentar abrigar-se debaixo de alguns dos prédios, e dos cafés da cidade. Coisas voavam tal era a força do vento.
Vendo o total caos que se tornou a cidade debaixo daquele temporal, o meu único pensamento foi em Brenda. Ouvi ela falar que ia ao hospital, e não parecia ter nenhum guarda-chuva com ela. Só podia ser louca para sair assim, ainda mais na sua condição de saúde.
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Teu Coração ( Disponível na Amazon)
DiversosRodrigo perde sua noiva Eva, num terrível acidente automóvel. Seus órgãos são doados. Nunca conformado com sua morte, Rodrigo procura quem foi o receptor do coração de sua falecida noiva, na ilusão de se sentir um pouco mais próximo dela ao conhecê...