16 Brenda

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Nunca pensei que o temporal viesse tão rápido e com tanta intensidade.
Decidi caminhar pois uma das indicações do meu cirurgião, era que devia caminhar de 30 a 40 minutos por dia para aos poucos voltar à minha rotina normal pós transplante.
Ainda faltava mais de metade do caminho quando ouço uma voz me chamar. Quase me deu uma coisa, quando vejo que é a voz do estranho hóspede do hotel.
Ele queria que entrasse no carro para me dar boleia até ao hospital. Ele é tão estranho que hesitei, mas ao mesmo tempo pareceu-me ser inofensivo, e a cidade estava um caos com tanta chuva e vento.

Como ele sabia que eu ia ao hospital?

Assim que entrei no carro, ele rapidamente colocou o ar condicionado para me aquecer, eu estava gelada mas não quis admitir.
Sentia-me nervosa tão perto dele, e pouco confortável naquele carro tão luxuoso. Como estou toda encharcada molhei todo o banco. Nos poucos minutos que levou até chegarmos ao hospital, ele foi agradável e educado. Só não me senti à vontade para lhe falar o real motivo porque ia ao hospital, mas não quis entrar em detalhes sobre o transplante.

Por norma as pessoas achavam que eu estava no limite da minha vida, e havia sempre um certo preconceito sobre isso.

Como se eu fosse uma bola de cristal, que quebrasse ao mínimo esforço que fizesse. Não quis que ele me visse dessa forma, se bem que isso a ele também não lhe ia interessar para nada. Depois de fazer todas as análises e exames, o que leva mais tempo é o tempo de espera pelos resultados. De todas as vezes é o mesmo sufoco, eu sinto-me bem, mas até que o meu médico me confirme que minha saúde está ótima, e que está tudo certo com o transplante eu fico com o coração nas mãos.

Vou até à cafeteria tomar algo enquanto aguardo pelos resultados. Pelas grandes janelas vejo que o temporal não parece querer cessar. Vejo o carro de Rodrigo no estacionamento do hospital. Por estar num andar bastante alto não consigo perceber se ele está lá dentro. Só passou uma hora desde que eu entrei no hospital.
Será que ele ficou ali o tempo todo?

Um perfeito desconhecido caído assim do céu, para me salvar neste dia de temporal.

Porque ficaria à minha espera por 2horas?

Não entendo nada. Tomo o meu café e vou para a sala de espera novamente. Em breve teria a consulta com o Dr. Santos, e se tudo corresse bem ele diria as palavrinhas mágicas que eu tanto queria ouvir.

***

— Brenda, está tudo bem com o seus exames e análises. Continue a tomar os imunossupressores diariamente, e continue com a sua alimentação cuidada. Faça também as suas caminhadas. Não há motivos para preocupações, pode ficar sossegada.

O meu médico sorri, e eu sorrio junto limpando uma lágrima de felicidade e alívio que se escapada.

— Obrigada, doutor.

Aperto a mão que ele estende para mim em despedida, e saio do consultório com o maior sorriso do mundo.
É sempre um alívio ouvir que está tudo bem. Quando chego perto da porta de saída do hospital vejo o carro dele no estacionamento.
Vou com atenção para perceber se ele está dentro, teria que correr um pouco para não me encharcar de novo até chegar lá.
Novamente a voz dele me surpreende.

— Brenda, espera, tenho um guarda-chuva.

Olho na sua direção. Ele estava à minha espera abrigado no pequeno hall da entrada.

— Não era preciso eu podia ir até ao carro.

— Acho que a tua colega tem razão, és teimosa. Não chegou a molha que apanhaste mais cedo?

— Tudo bem.

Ele esticou o guarda chuva para mim e cobriu a cabeça dele com um casaco que trazia.

— Nem pensar, eu não vou abrigar-me sozinha. O guarda-chuva chega para os dois.

Teu Coração ( Disponível na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora