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Midoriya ficou com tanto medo depois daquela conversa que simplesmente não conseguiu mais trabalhar. Ela não deveria se sentir assim, não deveria ter ficado ansiosa com algo bobo, poxa, ela queria ser aceita como uma mulher pelos outros, mas às vezes ela sentia como se estivesse se rejeitando, como se estivesse esperando nos outros uma aceitação que ela mesma não tinha. Era um sentimento complicado. Será que todo mundo que não se encaixa numa normatividade também se sentia assim? Buscando por uma aprovação alheia para se sentir feliz ou aquele sentimento era algo exclusivo seu?

Bem, ela não sabia, mas esperava que não fosse um sentimento universal. Ninguém merecia se sentir assim, sem fé em si mesmo. A garota suspirou e voltou a olhar para o salão vazio, o movimento do sábado era pouco, então ela aproveitou que não tinha ninguém para atender e começou a ler um dos textos que tinha para apresentar e fez anotações. E ela fez isso até quando ouviu o sino da porta tocar. Um dos outros funcionários pigarreou e Midoriya levantou a cabeça rapidamente.

Seus olhos se encontraram com os de Shouto, que sorriu tímido ao vê-la. E Midoriya poderia ter passado bons minutos encarando o homem, se não estivesse morrendo de vergonha por conta da conversa que tiveram mais cedo.

- Oi - Shouto disse baixinho sem tirar o sorriso dos lábios.

- Oi - Midoriya respondeu envergonhada e desviou o olhar para o outro funcionário, que os olhava com uma cara de puro tédio. - B-Boa tarde! O que vai pedir?

- Flocos com cobertura de chocolate - a garota que sempre estava junta a Shouto pediu, e foi aí que Midoriya notou sua presença no salão.

Aquela mulher sempre estava junto a Todoroki, será que eles eram um casal?

- Eu não quero nada, mas eu preciso falar com você depois.

Pronto. Foi só isso para que Midoriya quase desmaiasse no balcão e saísse da sorveteria dentro de um caixão. Shouto iria dizer a coisa mais transfóbica que já ousou passar pela cabeça de um ser humano, ele iria pegar aquele caderno e fazer ela engolir. Ela tinha certeza disso. Tinha certeza absoluta que seria xingada por uma hora seguida sem pausa pra água.

- Eu já vou levar o pedido - o outro atendente sorriu antipático e o casal se afastou e foi sentar em uma das mesas. Midoriya os observou com uma angústia dolorosa em seu peito. Não era justo Shouto ir embora só porque ela era trans. - Midoriya? Midoriya!

A garota tomou um susto e olhou para o seu companheiro de trabalho, que parecia pronto para mandar alguém pra rua.

- O sorvete. Você vai colocar ou ficar aí matutando? - ele questionou rudemente e Midoriya piscou seus olhos e voltou a realidade. Ela se moveu desengonçadamente pelo espaço pequeno e preparou o pedido da garota.

Kirishima, seu colega de trabalho, levou o doce e serviu com um sorriso tão falso quanto uma nota de dois reais. Midoriya apenas tentou ignorar a súbita vontade de se jogar na frente de um carro e morrer, pois situações feito aquela a deixava extremamente ansiosa e estressada. As pessoas tinham um péssimo hábito de adiarem conversas que poderiam ser facilmente resolvidas com uma mensagem de texto fora de hora, ou com um simples e-mail. Eles gostavam de deixar os outros a mercê da curiosidade e da paranoia, e era exatamente assim que Midoriya estava. Paranoica. Em parte, ela sabia sobre o que era a conversa, mas ainda a assustava. Era claro que ela precisava se acostumar com a ideia de ter que explicar para as pessoas que ela era uma mulher, mas interações sociais não estavam sendo o seu forte desde o seu último relacionamento amoroso.

Com um suspiro pesado ela tentou se acalmar e começou a enrolar um dedo em seu cacho verde. O movimento estava ruim naquele dia, o que significava que ela iria sair mais cedo do que o esperado. O que significava que ela teria mais tempo para se torturar pensando no assunto daquela conversa maldita.

the cute girl from my university; tododekuOnde histórias criam vida. Descubra agora