Sinfonia

1 1 0
                                    


"Estou sozinha neste quarto, certo?" perguntei enquanto sentia a maciez da cama onde adormeci. Me lembro de estar em um hotel a caminho da casa do meu avô, era na beira da rodovia com apenas 2 carros no estacionamento. A frente estava uma densa floresta, não havia uma única trilha para adentra-la, tornando-a imponente, intimidadora e de alguma forma misteriosa confortante.

Não ouve resposta, era de se esperar já que viajava sozinha desde a última cidade onde meus amigos pegaram caminhos diferentes para suas respectivas casas, me sinto sozinha... uma viajem deveria ser divertida por todo o caminho certo? Então porque tenho a impressão que o rádio do carro ainda está ligado, mesmo eu estando dentro deste quarto aos fundos do hotel e o meu carro à frente dele? Talvez fossem os outros inquilinos, isso se houvessem outros...

Essa melodia, eu me lembro dela... Minha mãe cantava para mim quando não conseguia me acalmar nas viagens que fazíamos de carro junto do papai, ela se esforçava para cantá-la mesmo com seus pulsos cortados e sangrando por cima de meus ombros.

*Suspiro

Foi na primavera, meu pai se afogou em dividas e com isso começou a beber e beber, com isso minha mãe começou a se violentada pelo meu pai, foi aí que a minha mãe começou a se questionar: Por que eu tinha que passar por isso? Não dei amor o suficiente? Eu já não conseguia faze-lo feliz como quando nos conhecemos ou quando tivemos nossa filha? Por que? Naquela noite fui acordada pelo ranger da porta do quarto, era minha mãe, não conseguia enxergar direito, mas conseguia sentir que era ela. Ela se aproximou e me perguntou se estava com dificuldades para dormir, respondi que sim, então ela começou com aquela melodia. Enquanto ia adormecendo, senti minha blusa úmida, e quando olhei atentamente era sangue, logo em seguida minha mãe caiu ao lado da cama...

Me levantava da cama do hotel, mas acabei esbarrando em algo grande o que me fez cair. Quando me virei para ver no que tinha esbarrado, era minha mãe caída ali "O que houve com sua culpa? Você por acaso a matou também?" Antes de conseguir me virar para ver de quem era aquela voz, de repente acordei, completamente assustada, mas tentei me acalmar... porem novamente uma melodia tocava, mas dessa vez como uma sinfonia.

"Pare com isso, não foi culpa minha!! Por favor, me deixe em paz" Implorava, mas claro que meu pedido não seria atendido. Teria que ir até onde essa maldita sinfonia estava, Me levantei e caminhei até a porta do quarto, passei pelo corredor de onde nenhum som podia ser ouvido, com exceção dessa melodia infernal. Com dificuldades cheguei à frente do hotel e o som não vinha do meu carro, mas sim da floresta a frente. Não conseguia recuar mais, caminhava em direção aquela floresta, um caminhão vinha da esquerda, mas não parei... eu tinha que chegar lá, não importava se fosse me arrastando eu tinha que chegar lá. No entanto quando estava a poucos passos do caminhão ele desapareceu, isso é um sonho? Eu estou tendo um maldito pesadelo? Isso é um inferno...

Já dentro da floresta, comecei a ouvir a sinfonia mais e mais alta, minha visão não funcionava mais, e por conta disso comecei a me cortar nos galhos e o único som que era mais claro do que a sinfonia, era o som da minha pele rasgando conforme caminhava e o jorrar de lagrimas que escorria. "Está aproveitando essa maravilhosa sinfonia? Ela foi feita apenas para você... e logo-logo você finalmente poderá descansar dessa viajem. Não é maravilhoso?..." dessa vez era a voz de uma mulher que era pronunciado ao meu ouvido, mas não conseguia virar a cabeça para ver quem era. Quanto tempo se passou? Sinto que estou caminhando por horas, minha pele que minha mãe dizia ser tão sedosa não existia mais, agora era apenas carne.

De repente a sinfonia parou e junto dela meu movimento, não sentia mais galhos a minha volta, e finalmente consegui abrir os olhos... o que é isso? Por que? Por que uma criança está na minha frente. Foi ela? "Eu me sinto sozinha... meu corpo está frio e meu coração não está em meu peito, você poderia me ceder o seu?" Aquela criança de voz doce pronunciou essas palavras? Não pode pega-lo, é meu...Por que não consigo falar?

...

Sem nem mesmo conseguir respondê-la ela respondeu sorrindo alegremente "Obrigada, você certamente me fará feliz".

Ela foi se aproximando cada vez mais, e a cada passo que dava sentia mais e mais o sentimento de desespero que se formava dentro de meu peito.

Ela parou na minha frente e em um movimento extremamente rápido enfiou a mão em meu peito, quase no mesmo instante retirando meu coração em sua mão, ainda pulsando e jorrando sangue, perdi as forças nas pernas e cai no chão enquanto a grama era encharcada com meu sangue que escorria do meu peito.

Enquanto minha consciência se esvaia lentamente consegui ver aquela criança colocando meu coração em seu peito e suspirando disse "Me sinto quente de novo... obrigada moça..., mas você não ficara sozinha como eu tinha ficado. Seu coração andará sempre comigo enquanto ouvimos essa sinfonia pela eternidade..."

A melodia logo se transformou em uma sinfonia amaldiçoada... 

EsperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora