Capítulo 19 - Você sabe...

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DEUS TODO PODEROSO! - Gritou, sua voz ecoando solitária e desgarrada no quarto silencioso.

Mas em seguida a enormidade de sua descoberta emudeceu-o.

Ele fora vencido mais de uma vez por uma mulher! Naquele momento, o fato de que seu amor não era pecado e sim uma resposta normal da natureza pouco ou nenhum alívio lhe trouxe.

Ele, Wang Yibo, o paladino da Irlanda e da Escócia, fora capturado e mantido prisioneiro por uma mulher! Aprendera a admirar a força e a agilidade de um guerreiro excepcional, que no final das contas não passava de uma simples mulher!

Estudou longamente o corpo de Wuxian. Não conseguia descobrir nenhuma beleza verdadeiramente feminina nas linhas esguias e firmes. Nem mesmo no rosto! Examinou detidamente os olhos largos e grandes, franjados por cílios negros. Onde estava a tão decantada e etérea fragilidade feminina? As maças do rosto, salientes e quadradas, realçavam o nariz reto, talvez um pouco proeminente demais. E os lábios... Deus, como se lembrava bem do êxtase e do arrebatamento que o possuíra quando beijara aquela boca rasgada, onde não havia nenhuma docilidade. Eram lábios que nunca haviam repuxado num muxoxo, nunca haviam "feito beicinho", como se costumava dizer.

Seu olhar vagou pelo corpo de Wuxian. A pelo dourada e crestada de sol, o corpo bem proporcionado e forte, as pernas musculosas e livres de gorduras indesejáveis. as mãos calosas e ágeis - tudo nela negava a prova de sua feminilidade que acabara de descobrir.

Padre Quiren dissera a verdade, afinal. O ajuste de contas chegara ao fim. Tudo se encaixava com perfeição: o irresistível fascínio pelo jovem guerreiro, os beijos que haviam trocado furtivamente, as palavras de Wuxian quando lhe revelara seu segredo. E a reação suprema que ela tivera quando soube qual seria a punição.

Se os soldados a tivessem despido, Wang não podia - nem queria - imaginar o que aconteceria em seguida. Vira, muitas vezes, mulheres sendo estrupadas e violentadas. Esse era o direito dos soldados, quase sagrado e consolidado ao longo dos séculos.

Mesmo nos delirantes acessos de febre que teve naquela noite, Wuxian mostrou-se malcriada e pouco receptiva. Mas Wang não desistia, porque sua esperança de vê-la viver crescia. Chegava mesmo a desejar que ela se debatesse, pois isso era uma prova irrefutável que a vida de Wuxian não se escoava sobre seus dedos. Como amava esta mulher, Santo Deus! Sempre a amara, e sempre a amaria, até o fim da eternidade.

Wuxian gemeu baixinho, os olhos abertos fixos no vazio. Wang ergueu-se e pegou-lhe a mão escaldante, pressionando-a contra o rosto amorosamente.

- Sim, Wuxian, eu compreendo. Ninguém saberá de seu segredo, eu juro. Você está segura comigo, e eu a protegerei, agora e sempre.

Abrindo as pálpebras com esforço, empenhou-se em focalizar o rosto distante de Wang, mas só conseguiu enxergar um borrão indistinto.

- Você sabe...

Wang se inclinou para ela, afogando-lhe os cabelos curtos.

- Sim, sei. E eu ti amo, Wuxian! Sempre te amei, mas não tinha coragem de admitir. Você será minha mulher, minha eterna mulher. Vou levá-la para meu castelo, onde você viverá comigo e para mim. Para sempre, Wuxian ...

Ela fechou os olhos cansados. Como Wang conseguia imaginá-la desempenhando os deveres de uma castelã? A da noiva afetada de Cheng, passou pela sua mente em quadros rápidos e sucessivos. Saltitante. Esvoaçante. Bordando. Agitando o leque. Fazendo biquinho. Os delicados sapatinhos. Os incríveis penteados. E, acima de tudo, um eterno ócio, o onipresente não-fazer-nada. Meu Deus, como viver assim? Impossível imaginar-se colhendo flores, à espera que Wang voltasse da guerra!

Honey Of Sin - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora