capitulo 2.

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Maya Rizzo Lima

Levantei duas horas mais cedo que o normal, porque normalmente me atraso para absolutamente tudo, para que tudo saísse dentro do horário programado e da forma mais perfeita possível.

Verifico minha bolsa pela milésima vez, conferindo cada documento, cada item, tudo. Tudo estava devidamente separado e guardado. Estetoscópio, martelo de buck, lápis demográfico, TENS, fita métrica... tudo ok.

Sei perfeitamente que o Barcelona vai nos oferecer tudo que precisarmos, mas preciso mostrar que também estou preparada.

Aprendi durante esse tempo estudando, fazendo a faculdade, pós e todos os cursos que tenho, que temos que sair da nossa zona de conforto. Não podemos esperar que venha até nós, esperar que teremos tudo nas nossas mãos o tempo todo. Como profissionais da saúde, precisamos estar sempre prontos para todos os desafios.

E eu, mais do que nunca, me sentia pronta para esse.

Nunca falei tão sério sobre dar o melhor de mim para alguma coisa. E é isso que eu vou fazer, durante todos os dias desse programa.

- Não sei se você percebeu, mas já estou aqui.-entrei no carro, me viro e com cuidado coloco minha bolsa no banco traseiro.- Nem atrasada eu estou pra você estar buzinando desse jeito.

- Eu sei.- Sara sorriu.- Mas com você temos que estar prevenidos. Você acorda cedo pra se atrasar com calma.-ergui meu dedo médio em sua direção, fazendo-a rir mais ainda.

Sara foi uma das pessoas que conheci, e fiz amizade, logo que me mudei para a Espanha. Além de ser brasileira, ela também é fisioterapeuta e foi aprovada no programa do Barcelona. Apesar de não fazermos nossa especialização na mesma faculdade, quase sempre estamos juntas. Seja por motivos profissionais ou não. Ela é uma grande pessoa e tive sorte de conhecê-la.

- Do centro de Barcelona até o CT, que fica em Sant Joan Despí, são 38 minutos segundo o GPS.-olho para o celular que estava no apoio, verificando se todas as informações estavam corretas.- Nós vamos chegar na hora. Sem nenhum problema.- a loira deu partida no carro e seguimos pelas rodovias da cidade.

Em boa parte do caminho, ficamos em silêncio absoluto, deixando apenas com a melodia suave da música ecoar pelo carro. Nós duas sabíamos do nosso potencial, mas isso não fazia com que ficássemos menos ansiosas. Pelo contrário, ficamos com a expectativa ainda maior.

- Ok. Chega desse silêncio ou eu vou enlouquecer.- Sara olhou de relance pra mim, rapidamente voltando sua atenção para estrada.- Me conta alguma coisa pra passar o tempo.

- Eu não tenho nada... ah, já sei. No dia que descobri que fomos aprovadas, eu fui naquela pizzaria e conheci um cara.- ela freou bruscamente, fazendo meu corpo se inclinar para frente e ser travado no mesmo segundo, pelo cinto de segurança.- Filha da puta. Você tá louca? Tá vendo fantasma?

- Como assim você conheceu um cara? Que cara? – respirou fundo e voltou a dirigir tranquilamente.- Era bonito?

- Absurdamente bonito.- tombei um pouco o pescoço pro lado e dei um sorriso.- Ele ficou de óculos escuro por um tempo.- a loira franziu a testa.- Pois é, também achei estranho. Mas depois que ele tirou, deu para perceber melhor. E ele parecia com alguém que conheço ou já vi em algum lugar, eu acho. Na verdade, acho que foi coisa da minha cabeça.

- Como ele era? – descrevi perfeitamente todos os detalhes que me lembrava. Cabelos e olhos igualmente escuros, sobrancelhas grossas, maxilar extremamente marcado e o sotaque típico de um espanhol, o que ele de fato era.- Puta que pariu, Maya. Eu não acredito.

Until I Found You | PEDRI GONZÁLEZOnde histórias criam vida. Descubra agora