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OLIVIA

Eu tremia, mal conseguia caminhar, ou olhar as pessoas nos olhos, estava feliz, mas me sentia estranha, como um tipo de pressentimento, não sabia como Jaden iria reagir, quer dizer já faziam duas semanas desde o acontecimento e nós estávamos nós evitando, ou melhor, eu estava evitando ele, e só quando estava caminhando pelo campus procurando por ele que me dei conta de que passei essas duas semanas desejando nunca ter o conhecido, e isso era cruel, não era culpa dele, nem minha, nós estávamos bêbados e pessoas bêbadas fazem burrice, enfim, agora eu estava em frente ao prédio central da faculdade e havia muitas pessoas reunidas como num círculo e eles gritavam, quando me aproximei passando por toda aquela gente pude ver que bem no centro de todo o caos lá estava ele, a pessoa por quem procurava.

Jaden estava em uma briga, com um outro garoto, os dois eram quase do mesmo tamanho, o garoto tinha músculos e toda a estrutura para ganhar a briga mas por algum motivo, Jaden é quem estava ganhando, ele parecia estar cego de raiva enquanto socava aquele garoto, o que mais me incomodava era o fato de eu não conseguir ver os olhos dele, se eu visse eu poderia pelo menos tentar adivinhar o por que de tudo isso, mas eu não via, eu sinto raiva, muita raiva, mas nunca senti tanta até chegar nesse ponto, os movimentos dele eram tão rápidos que ele parecia estar em algum tipo de modo automático, e quando o sangue começou a jorrar pelo nariz do garoto estirado no chão, eu tive que tomar uma providência.

- JADEN HOSSLER, PARA - gritei, o mais alto que consegui, e ele finalmente ergueu sua cabeça e o olhar até mim, os olhos dele estavam escuros, muito escuros, haviam muitos machucados pelo rosto dele, e ele ainda matinha o punho cerrado acima da cabeça do garoto atirado ao chão.

Ele começou a se levantar e o garoto se remexeu no chão mas parecia não ter forças para se levantar também, eu podia ver os músculos de Jaden se relaxando e a expressão mudando, quando ele se pôs de pé na frente de todos, eu pude ver os olhos ficarem vermelhos e cheios de água, eu não sabia o por que de ele estar com vontade de chorar mas sabia que devia tirar ele dali.

Fui até ele e agarrei o braço esquerdo com cautela, já que ele estava vulnerável, Bryce e Josh observavam tudo mas eu não conseguia identificar o que eles achavam disso tudo, eles pareciam surpresos, e por algum motivo nenhum dos dois em momento algum tentou impedir, caminhamos pra fora do caos de pessoas e fomos até o prédio dele, o caminho todo tão silencioso e mesmo que tenha levado dois minutos, pareceu uma eternidade.

Assim que chegamos nós nos sentamos no sofá, em silêncio, ele encarava o chão, eu esperava uma explosão, pensei que ele fosse chorar, ou gritar, ou sair socando e quebrando coisas, mas ele estava ali olhando pro chão, flexionando a mandíbula, os olhos vermelhos e claramente abalados, o que sinceramente era bem pior.

- Você quer, tomar um banho? - queria que ele conversasse comigo, mas já que isso não aconteceria eu tinha que limpar aquela cara dele, e ele não tinha força alguma nem pra caminhar, então ele concordou com a cabeça, fomos até o banheiro, ele continuou olhando pro chão, continuou olhando pra qualquer lugar que não fosse pra mim.

Eu só servia de apoio, porque quando ele chegou até o banheiro ele mesmo tirou as roupas, entrou na banheira que eu já havia enchido e relaxou, seus ombros não estavam mais tensos, e seu rosto também não, ele observava tudo enquanto eu pegava o kit de primeiros socorros no armário da pia, me seguiu com os olhos quando me sentei ao lado da banheira logo atrás da cabeça dele.

Comecei a limpar os machucados quando ele apoiou a cabeça em minhas pernas, tinha um corte em cima da sobrancelha, um no supercílio, na bochecha, um olho rocho e um corte na boca, depois que limpei todos eles, ele se levantou e rodeou a cintura com uma toalha, quando eu estava quase saindo do banheiro, ele segurou minha mão direita e respirou fundo, levou minha mão até o próprio rosto e finalmente explodiu, começou a chorar, chorou de um jeito que eu nunca vi ninguém chorar, chorava tanto que soluçava, eu não aguentava ver o rosto dele enquanto ele chorava, era triste demais, e eu sentia como se fosse chorar também se continuasse vendo, então eu o abracei, e ele retribuiu, enterrou o rosto na curva do meu pescoço e desabou mais ainda, tudo que se escutava naquele apartamento inteiro eram os soluços dele, enquanto ele explodia, ele apertou minha cintura com os braços, como se aquilo doesse nele, ele me abraçou tão forte que eu achei que fosse me esmagar, estava claro que ele guardava aquilo a muito tempo, eu podia sentir o quanto doía, mesmo que ele não falasse nada ele estava me dizendo o quanto doía e doía muito, era muito triste, eu queria poder desabar também, mas tinha que continuar ali, pra apoiar ele, porque ele precisava de mim, naquele momento, ele precisava que eu continuasse forte.

Sour Dreams -  𝘑𝘹𝘥𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora