Capítulo Trinta e Cinco

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Dois meses tinham se passado. E acabei de voltar de mais um domingo na casa de Arthur com a mãe dele e o irmão. Em alguns domingos meu pai pedia que eu fosse para lá e não para a casa do meu "amigo". Eu ainda não tinha contado a ele sobre Arthur e, sinceramente, não sentia vontade nenhuma. Minha cabeça não me obrigava a sair do armário agora e se eu pudesse evitar, nem amanhã ou em meses próximos. Estava bom do jeito que estava. Namoro com Arthur já faz dois meses, nada demais aconteceu nesse tempo e com isso quero dizer que houve aulas normais, as pessoas que me odiavam continuavam a me odiar e meus amigos continuavam sendo meus amigos. Hudson não quis mais conversar comigo e eu não fazia questão de aceitar a existência dele. Heitor e Nicholas não olhavam para mim, não falavam com Denis e ficavam na deles. Denis pedia minha ajuda para estudar ou para simplesmente ir conversar no quarto dele sobre alguns livros ou outras coisas, e às vezes Ícaro e Vinci apareciam também. Como já estávamos no final de abril, Arthur disse que os ensaios iam durar mais dez minutos. Acompanhei os ensaios algumas vezes para alegria dos amigos dele, que ficavam felizes por me terem como plateia. Nesses dois meses que se passaram eu aprendi a me manter mais na minha diferentemente de ser totalmente fechado; eu estava lá, mas só falava com quem falava comigo e a maioria das coisas eu ignorava. Eu lia bastante agora, prestava mais atenção nas aulas de revisão transava com Arthur um dia sim e dois não. Quando não transávamos só escolhíamos uma cama — geralmente a dele — e colocávamos o lençol por cima para que pudéssemos masturbar um ao outro. E beijar bastante.

Mesmo fazendo dois meses que vou à casa de Arthur aos domingos, o irmão dele não gostava muito de mim. Não que ele me tratasse mal ou fosse uma criança sem educação, ele apenas preferia fingir que eu não estava lá educadamente. Só interagia comigo se Arthur me citasse na conversa, quando ficávamos sozinhos em algum canto, tudo se tornava mais interessante do que eu para o irmão dele. A mãe de Arthur era muito fofa e muito sorridente. Gentil, atenciosa, linda.

Eles eram uma boa família.

Em dois meses não houve noticias sobre o corpo de Fênix encontrado por aí.

Esses sessenta dias foram mais longos que o normal para mim. Cansativos apesar de alegres.

As últimas palavras de Hudson ainda me assombravam à luz do dia. E eu ainda lembrava da dor na minha mão depois de escrever frente e verso em seis folhas a mesma coisa.

Todos os dias, Vinci e Denis vêm aqui no meu quarto quando Arthur abre a porta para eles. Acho que já faz parte da rotina os dois chegarem no meu quarto e me chamarem até que eu acorde. Então conversamos enquanto eu calço os tênis, eu pego os post-it de Arthur que não ficam mais na parede, agora eles ficam em cantos aleatórios do quarto. Porém todos são continuam lindos e me deixam sorrindo como um bobo o dia todo. Ah, mais uma coisa, nesses dois meses eu consegui desenhar algo que não joguei fora. Usei em uma atividade de arte. O desenho era da árvore em forma de lua. Apenas. Foi um desenho que levou duas horas para ser feito, por causa dos detalhes da folha desregular em alguns pontos. Eu gostei dele.

Meus dois meses foram incríveis. Até não serem mais.

Em uma quarta-feira eu deixei de ler um dos livros que Denis me indicou — ele praticamente implorou que eu lesse um livro de filosofia —mas acabei achando a leitura arrastada demais para o meu gosto e resolvi sair da biblioteca e ir até o meu quarto, guardar o livro. Quando o fiz pensei no que mais poderia fazer. Os alunos do vespertino estavam tendo aula e as Águias não permitiam barulho de jeito algum. Problemas com Hudson era a última coisa que eu queria. Por isso saí do bloco das salas de aula e fui ao ginásio, ver Arthur ensaiar. O som do violão chegou até mim muito antes que eu entrasse no ginásio. Estava iluminado e eu parei para observa-lo tocar, porque o admirava quando estava tocando de modo tão concentrado. Só então notei que quem estava tocando violão era Carla. Mas o violão era o de Arthur.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora