Pedra da Paixão

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Pedra da Paixão

Era uma noite fria, a Lua refletia sob o rio que se estendia horizonte além. Debaixo das árvores o vento soprava e fazia voar aqueles belos cabelos castanhos. Era ela, tão donzela Tereza. Seus olhos eram atentos, cada passo em direção ao pequeno mar era cuidadosamente calculado. Logo a frente estava João, de costas, sentado sob o pico da gigantesca pedra que descansava a beira das águas. Ali era aonde o amor ainda não consolidado se revigorava, mesmo com tantas diferenças entre eles, bem ali nada importava. Se ouvia João tocar em sua viola uma cantiga de amor "menina pequena de pele morena, de forma serena vem me encantar. Seus traços tão finos, como o lírio me fazem apaixonar". Tereza não pôde conter o sorriso, pois João de forma tão amável se declarava sem perceber sua presença "oh Tereza, a minha riqueza não é passageira pra se acabar. Amor verdadeiro é o que tenho, se você quiser eu posso te dar". Tereza então começa andar lentamente; seu sorriso já não era mais de felicidade, pois a cantiga de João a fez lembrar de tão pesarosas palavras de seu pai sobre seu romance escondido com João. Sentiu as lagrimas quente rolar sobre seu rosto enquanto seu amado agora apenas dedilhava a canção. Sabia que não era rica, mas também não era pobre mas seu pai a bem dissera "filha minha não casa com pé rapado. Eis que se eu os encontrar novamente, eu mesmo colocarei fim à vida desse João". Em desespero Tereza precisava colocar um fim, mas ela doloroso demais pois sentia ser amor, amor que chegava doer na alma. Foi então que pediu ao pai que pudesse ir à casa de Catarina, sua amiga, que sabendo de tudo o que estava acontecendo, ajudou Tereza a promover um último encontro com João, mas ao vê-lo tão inspirado não se encorajou a contar-lhe sobre as ameaças do pai, somente queria poder aproveitar sua última noite sob o luar, de frente para o Ribeira e poder sonhar com o dia que pudesse novamente abraçar João. Tereza retomou seus passos e se direcionou a ele, que de imediato ouviu o som entre as folhas mortas ao chão e se virou para a receber em um abraço. Ao olhar aquela linda menina, não se deixou de passar pela cabeça de João "ei de ser rico e me casar com ela. Eis que nunca mais Tereza haverá de se preocupar sobre o nosso futuro", porém não podia contar a ela, pois seria vergonhoso demais se o  tão audacioso plano não se consolidasse, só queria ter em seus planos que não muito longe estava ele de ser rico. Apesar de perceber a expressão dividida de Tereza naquela noite, ele sorria, mas sorria com vontade, pois sabia que ainda havia uma esperança para aquele amor, mas mal sabia João que Tereza nunca mais retornaria. A linda moça aproveitou aquele último momento a sós com seu amado, e o fez jurar que sempre a haveria de amar somente a ela, João entendendo que aquilo era coisa de mulher, carinhosamente fez a promessa, mesmo sabendo que pra ele era muito verdade, seu amor era somente dela, Tereza. Ao passar cerca de trinta minutos juntos, Tereza pediu para voltar, pois só podia ficar na casa de Catarina por uma hora antes que seus pais chegassem para buscá-la. João queria poder acompanhá-la, mas ela não achou boa ideia por ser ariscado demais. Se seus os pais avistassem juntos, seria o fim de João. Então se despediram com um caloroso beijo, Tereza aproveitara o quanto pôde aos braços de seu amado e já retornando para Catarina, se embrenhou entre as árvores e sumiu na escuridão. Não muito longe era a casa de Catarina, ela já velha entendia o pobre casal, pois naquela época as meninas já nasciam prometidas para outra família que estivesse em seu mesmo nível social ou até mais elevado se desse sorte. Com Tereza não foi diferente, mas ela discordava desses encontros secretos pois podia colocar em risco a vida dela mesmo. O pai da pobre menina era ruim o suficiente pra dar cabo de qualquer um que atrapalhasse seu caminho, pois os boatos diziam que o pobre e velho Pajézinho da vila havia sido morto pelo pai Tereza enquanto pescava. Ela mesma admirava a coragem de João, pois a família do menino também estava prometida, mas era também somente outro boato porque era vergonhoso demais para aquela família de classe média admitir que uma de suas filhas se engraçava com alguém sem poder aquisitivo. Ao avistar Tereza surgindo das trevas por entre as árvores, Catarina suspirou aliviada, pelo menos não naquela noite seria importunada pelos pais de menina. Com uma manta já a esperava na varanda, e de lá mesmo Tereza se pôs a chorar em seus cansados braços, pois a ali mesmo a pobre criança lhe contara que seus pais a colocaram contra a parede e por isso era seu último encontro com João. Contou também que não teve forças para contar ao pobre garoto o que seu pai a obrigara a fazer. As lágrimas não tinham fim, então Catarina se preocupou pois daqui a pouco Tereza teria que ir embora e não queria que os olhos da moça estivessem inchados. Então cuidadosamente com tecido bastante macio enxugou as lágrimas de sua amiga, e lhe deu a ideia de ir à venda da praça para comprar tinta e papel, e escrever uma carta de despedida, terminando com o rapaz. Então assim fez Tereza, porém comprou duas folhas, uma carta ela mostraria ao pai e a outra enviaria escondido para que João não pensasse que seu amor se acabara em nada friamente.

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⏰ Última atualização: Nov 19, 2022 ⏰

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