Vem, babe.

160 9 2
                                    

10.424 palavras

Adolescentes são estressantes. Céus, eu sou adolescente, mas não como os outros, talvez um pouco. Qual é? Estamos no terceiro ano do Ensino Médio, o último do estágio desse inferno e eu ainda não entendo como as pessoas agem como crianças. Petulantes e deliberadas, fazendo o que dá na telha e depois a culpa é dos hormônios.

Sempre é.

E eu acho, na minha humilde opinião, que o idiota do meu companheiro de quarto é feito deles. Respira eles. Cada célula de seu corpo até seu menor folículo capilar são puro hormônio. Ele é insuportável.

Todos os dias, desde o primeiro ano, ele acorda primeiro e passa mais de vinte minutos no banheiro cantando e acabando com água morna. E o que sobra para mim é água fria e ouvidos doloridos. Todos os dias. Todos.

Quando entro no quarto, depois de passar a tarde na biblioteca, há inúmeras roupas no chão de um só ser humano e este está na sua cama pequena de solteiro, sentado com as pernas cruzadas, digitando freneticamente no notebook, usando apenas uma cueca boxer preta da Calvin Klein. É insuportável e alimenta meu ódio por ele. O som das teclas afundando no teclado e o barulho de mastigação que ele faz com alguma bala de menta de procedência duvidosa na sua boca. Arg...

- Dá pra você pegar essas roupas suas que estão por todo o quarto? Se não for pedir muito, é claro. - peço, chutando suas roupas imaginando o dono delas dentro, jogo minha mochila em minha cama, que contando com minha escrivaninha e cômoda embutida, são as únicas coisas arrumadas. - Aproveita e coloca um roupa, é só uma regra. Uma! E você a quebra. - aponto para sua pele exposta e as roupas no chão.

Eu espero sua resposta rude e gosseira, me chamando de chato, dizendo que sou um insuportável tagalera e mandando calar a boca, no entanto nada vem, nenhuma palavra.

Ele me olha mastigando e volta sua atenção a tela do aparelho.

É insuportável e eu anseio pelo dia que vou enfiar sua cara naquela tela.

No primeiro dia que pegamos os dormitórios com nossos nomes juntos, a única regra que estabeleci era sem nudez na presença do outro, pois bem, ele pegou essa regra e enfiou no mesmo lugar que suas roupas. O maldito está sempre de boxer, a única e exclusiva excessão é fora do dormitório, onde se não estivesse coberto isso lhe acarretaria em uma advertência.

- Sinceramente, como alguém convive com você? - pergunto, começando a pegar suas roupas do chão que já me doem o juízo, as colocando no cesto de roupas sujas dele. Absolutamente cada peça, limpa ou suja, para o cesto. Eu não ligo, não é como se ele as vestisse, então. - É só colocar a roupa no cesto, simplesmente. Você coloca a roupa no cesto e vista uma. - explico. - Sua mão não vai cair se você fizer isso!

Pego uma roupa no ventilador de teto. No teto! Eu não sei como foi parar lá, mas está, e sei que é para me irritar porque, apesar dele dormir frequentemente em outros quartos e voltar antes do amanhecer com cheiro de suor e cabelos assanhados, nunca trouxe alguém para o nosso dormitório, nem eu, por conta de regras da escola e porque... Bem. Então não acho um motivo para sua camisa está no ventilador como um adereço ou um enfeite. É de propósito.

- Como essa blusa foi parar ali? - franzo o cenho, enfiando a blusa no cesto. - Garoto, você me irrita.

Pego o resto e só então percebo o silêncio. Sem teclas sendo pressionadas, sem mastigação. Eu jogo as roupas no cesto, passo as mãos em meus cabelos medianos ondulados e viro o olhando.

- Uh, se engasgou com essa sua língua de tamanduá?

Ele está com um sorriso nos lábios e olhando para mim. Me encarando como se eu estivesse nu no meio do quarto. Eu solto meu peso em uma perna e ele continua me olhando. É desconcertante. Seus olhos azuis imitadores baratos do céu me fitam com curiosidade, grandes e com um tom exótico. Quase me assustam. Me sinto despreparado quando ele levanta, saindo da cama e vindo devagar em minha direção. Não tirando seus olhos de mim.

Roommate • [Larry Stylinson]Onde histórias criam vida. Descubra agora