— Saúde! — Disse o velho senhor pela segunda vez que espirrei naquele corredor.
Não me lembro de ter chegado em dezembro, sem estar doente. Acredito que possa ser algum tipo de maldição, que me persegue por pisar no calo de algum desconhecido.
— Obrigada. — Respondi ao senhor enquanto fungava o nariz, na esperança que eu pudesse engolir aquela doença toda para dentro. Assim também, desistia de encontrar algum tipo de detergente que não fosse vermelho naquelas prateleiras.
Após 30 minutos caminhando pelo mercado, fui ao caixa finalizar minha visita ao local, e claro, sinalizando a todos que eu existia pelo som dos meus espirros.— Senhora, no terceiro corredor tem lenços, sabia? — Disse a atendente, tentando, de uma forma cômica, aliviar minha feição de "Estou morrendo".
Dei uma leve risada e quando fui tentar responder fui congelada pela lembrança daquele dia.
Uma sirene alta, rasga o som daquele mercado em poucos segundos. Um som que não sei mais se poderei superar após aquele maldito dia.
Minha barriga parecia ter um saco de gelo dentro; pesava e me arrepiava dos pés a cabeça.
Ambulância. Apenas uma ambulância.O som parecia retornar lentamente, a música pacata do mercado, conversas alheias e o batimento do meu coração parecia deixar meus ouvidos. — Crédito ou Débito? — Pisquei os olhos rapidamente e voltei a atendente. Até meu nariz tinha me dado uma trégua naquele momento de paralisia. Eu não sei quantas vezes a atendente me perguntou sobre a forma de pagamento, mas pela feição, creio que algumas vezes.
Paguei e me dirigi ao meu carro, estacionado logo na saída do mercado. Coloquei as compras no banco de trás e logo após, fui para meu devido lugar. A chave girou em um clique, motor roncou.
— Você podia ter acelerado mais aquele dia.
A voz vinha de trás do meu banco e uma mão gelada tocou meu ombro. Em um ato sem controle viro meu corpo, interrompida pelo sucesso e segurança do cinto, mas mesmo assim, encarei... E nada encontrei.Meu coração estava batendo em meu pescoço, peguei meu celular e abri direto nas mensagens de minha amiga. Ou pelo menos, acho que ainda é.
Siyeon.
Minha última mensagem ainda estava lá, vista em "18 de julho, 2019" um amargo:
" — Por favor, se precisar, me ligue." — E nada mais após essa mensagem.Após alguns minutos encarando a sua foto de perfil, na esperança que aquilo se tornasse uma ligação, ou que seu status fosse alterado para online, decidi ir rumo ao meu apartamento.
Não morava muito longe dali, apenas alguns quarteirões e já estava lá. Era um caminho agradável, as luzes e enfeites de natal alegravam um pouco o percurso, mas também, amargava o gosto na boca. Já que natal, era uma época especial para nossa banda.(...)
Mal tinha percebido, mas já estava em casa há muito tempo. Cansada, mesmo após o longo banho que tomei. Fiquei deitada no sofá olhando para o teto buscando algum tipo de paz em meus pensamentos do passado.
As coisas pareciam ir ao automático, e quando vi, estava com o celular na orelha, após ter discado para Yubin, ou Dami, irmã de Siyeon.O telefone chamou quatro vezes, quando afastei o celular para desistir desta batalha, escuto um longínquo — "Alô?"
— Dami? Oi! É... Tudo bem?!
Falei segurando o celular firme em mãos, como se pudesse perder aquela ligação a qualquer momento.— Oi, Minji, estou indo... Ocupada, mas indo. E com você?
Ouvir a voz dela me acalmava muito. Era uma pessoa que gostava de conversar após os shows. Não existia uma letra que saía de sua cabeça, que não fosse um sucesso. Sua voz continua calma e seu tom, pragmático.
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Running Blind - Deukae Fanfic
FanfictionUma banda destruída pelos males da vida. E suas integrantes nutrem um ódio, umas pelas outras. Poderia essa mesma banda, por uma chance única, retornar aos palcos? Ou o sonho foi totalmente arrasado?