Capítulo 3

96 18 6
                                    


Haviam coisas que simplesmente aconteciam sem controle, e meramente por vontade divina, coisas que estavam além do desejo mundano ou a mais pura expressão mortal, e uma delas, para Hinata, era um trabalho de parto difícil, e era com isso que ela lidava naquela manhã lamacenta, chuvosa e de ventania em que finalmente o tão esperado bezerro de uma das vacas importadas por ela, já prenhas, decidira parir. Uma raça que vinha sendo bem falada no estrangeiro, da qual ela queria mesclar ao seu gado — Sim, seu, até que o maldito herdeiro estragasse tudo — Só que como tudo na vida de Hinata Hyuuga não eram flores, o parto da bendita que havia começado antes mesmo do amanhecer, estava travado, e o bezerro agarrado. Metendo-se entre o que sobrou dos boiadeiros e do seu feitor Iruka, ela estava como eles. De calças que havia mandado costurar para si, botas, camisa e cabelos presos. Suada desde cedo, suja, cheia de feno e palha, inclusive pelos cabelos. A segunda vaca decidiu parir e aquele espaço estava um caos. E enquanto as patas do bezerro eram amarradas por Iruka para serem puxadas, foram os braços finos e mãos pequenas de Hinata que ajudou o pequeno bovino a finalmente chegar ao mundo, jogando na Hyuuga e nas suas botas resto do parto. Como se lama e bosta de vaca não fosse o suficiente.

— Três, já nasceram três. E estão saudáveis, as vacas estão limpando os bezerrinhos. — Ela sorriu enquanto deslizou o braço sobre a franja úmida e suja. Encarou então o lado de fora, da qual o dia começava a ensolarar finalmente e as nuvens antes tempestuosas davam lugar as brancas e fofas. É... o dia começava bem e ela tinha realmente o sentimento de que seria um ótimo dia.

— Ele chegou, senhora! — o responsável pelo que restou da segurança da fazenda surgiu afoito ali.

— O quê? Quem, como assim? — assustou-se.

— O coronel, o... herdeiro do coronel.

— O quê? Já? Ele... ele não deveria chegar daqui mais um mês?

— Pois não avisaram pra ele não, senhora, e ele já chegou de mala e cuia em uma carruagem.

— Merda! — ela rosnou e Iruka a encarou — Não me olhe assim.

E fora marchando em disparado com seu feitor junto de si, que a senhora Uzumaki rumou em direção a casa grande, praguejando, e, ao mesmo tempo, rezando enquanto dizia:

— Talvez ele seja um impostor. Deveria mandar chamar o Nara.

— Vou mandar o menino Udon fazer isso.

Ela estava apressada, a maldita carruagem de fato estava lá parada com seu colchoeiro que certamente aguardava pagamento pela viagem, enquanto as tantas malas do suposto homem eram empilhadas para as criadas levarem. Hinata bufou quando finalmente empurrou as portas dando de cara com aquele homem alto, a ponto de ela erguer o pescoço para encara-lo, e de olhos tão azuis quanto o céu de veraneio.

— Mas o que... é isso? – o som da voz masculina ecoou chocada, rude e bastante rouca.

Ela sentiu o rosto aquecer, havia esquecido como estava, e provavelmente o cheiro que estava quando ele pareceu torcer o nariz. Pelo visto, o garoto nunca havia de fato pisado em uma fazenda grande, e a lidar com aquilo, certamente ele teria muitos problemas se fosse fresco como os homens da cidade. Lidar com terras não era para os fracos, nem de pulso, nem de coração e ela o sabia, sentia na pele a hostilidade e o sofrer, até mesmo nas mãos antes lisas que agora continha alguns calos mais ásperos.

— Sinto muito. Sou Hinata, Hinata Uzumaki — ela o viu a encarar com um profundo desdém e a face de quem subestimava. Ela conhecia bem aquele olhar masculino, recebera muitos dele nos últimos meses.

— Não deveria estar de luto? — ele ditou arqueando ainda mais a sobrancelha — Ou... vestida decentemente, como uma mulher digna... ou limpa.

— Infelizmente luto não paga contas ou funcionários enquanto um novo coronel não se apresenta. E com todo respeito, hm... senhor Uzumaki, suponho, vestes não implicam em dignidade. E sinto muito pelo meu cheiro, ou pela merda em minhas botas, mas enquanto estava a caminho, eu estava ajudando três vacas a parir. Se me permite, vou me limpar para recebê-lo da forma que... merece.

A viúva do coronelOnde histórias criam vida. Descubra agora