O museu estava para fechar. Há três horas eu estava sentada olhando para o trabalho mais lindo que eu já havia visto. Marítima, era ela, a obra mais linda criada. Uma menina em queda ao mar. Um mar furioso, tempestuoso e incerto. Mas, o mais lindo não estava no aspecto natural, e sim no semblante da menina; um semblante que transmitia calmaria. Calmaria em meio à tempestade. Quando vi sua face, não pude conter minhas lágrimas. Por que as pessoas não estavam paradas aqui admirando-a também? Talvez não compreendam sua beleza. Talvez, elas, rasas, amedrontem-se pensando que a garota iria, de fato, se afogar, e os levar junto a ela. E, talvez, ela realmente se afogue, mas ao menos, morreu nas profundezas de si e da existência.
Chegou a hora, preciso partir também. Me levantei e me aproximei da garota no quadro, olhei dentro de seus olhos oceânicos ao ponto de poder ver o reflexo dos meus próprios.
— Que façamos porto qualquer destino que encontrarmos.
Passei a mão em seus pacíficos e profundos traços que me mostravam o inevitável. Mesmo que eu não quisesse que o museu abrisse novamente amanhã, ele iria.
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Marítima
Short StoryMergulhe no incerto, pois nada está sob seu controle. Uma interpretação sobre meus relacionamentos, minha ansiosa preocupação com o futuro, e minha vontade obsessiva de controlar cada aspecto deles. Um conto que coloquei tanto de mim que não sei se...