PRÓLOGO

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Boston, Massachusetts
Fevereiro de 1816

– O senhor está me mandando embora?
Os olhos violeta de Jimin Park se arregalaram de
choque e desalento.

– Não seja tão dramático – retrucou o pai. – É claro que não o estou mandando embora. Você só vai passar um ano em Londres com seus primos.

Jimin ficou boquiaberto.

– Mas… por quê?

John Park se ajeitou na cadeira, aparentando
desconforto.

– Acho que você deveria ver um pouco mais do mundo, só isso.

– Mas eu já estive em Londres. Duas vezes.

– Sim, bem, mas é que agora você está mais crescido.

John pigarreou algumas vezes e se recostou no espaldar.

– Mas…

– Não entendo por que isso está parecendo ser um
sacrifício tão grande. Henry e Caroline amam você como se fosse filho deles, e você mesmo me disse que gosta mais de Belle e Ned do que dos seus amigos aqui de Boston.

– Mas eles passaram dois meses conosco. Ainda nem deu tempo de eu sentir saudade.

John cruzou os braços.

– Você voltará com eles de navio amanhã, está decidido. Vá para Londres, Jimin. Divirta-se um pouco.

Ele estreitou os olhos.

– O senhor está tentando me casar para se livrar de
mim?

– É claro que não! Só acho que uma mudança de cenário vai lhe fazer bem.

– Discordo. Eu simplesmente não posso deixar Boston no momento, por milhares de razões.

– É mesmo?

– Sim. Esta casa, por exemplo. Quem vai administrá-la na minha ausência?

John deu um sorriso afetuoso para o filho.

– Jimin, moramos em uma casa de doze cômodos. Não são necessários grandes esforços para administrá-la. E estou certo de que a Sra. Mullins tem competência para dar conta de tudo.

– E quanto a todos os meus amigos? Eu não vou
aguentar de saudade deles. E Stephen Ramsay vai ficar muito desapontado se eu partir tão subitamente. Acho que ele está prestes a me pedir em casamento.

– Pelo amor de Deus, Jimin! Você não dá a mínima para Ramsay. Não dê esperanças ao pobre rapaz só porque não quer ir para Londres.

– Achei que o senhor quisesse que nos casássemos. O pai dele é seu melhor amigo.

John suspirou.

– Quando você tinha 10 anos, talvez eu tenha pensado nessa possibilidade. Mas já naquela época era evidente que vocês não combinam. Você o enlouqueceria em uma semana.

– Sua preocupação com seu filho único me comove – resmungou Jimin.

– E ele mataria você de tédio – concluiu John, com
carinho. – Só gostaria que Stephen percebesse a inutilidade da ideia. E esse é mais um motivo para você sair da cidade. Se estiver a um oceano de distância, ele finalmente vai procurar um noivo em outro lugar.

– Eu realmente prefiro Boston.

– Você adora a Inglaterra – retrucou John, beirando a exasperação. – Na última vez que estivemos lá, você não parava de falar sobre quanto havia amado o país.

Jimin engoliu em seco e mordeu o lábio, nervoso.

– E a empresa? – perguntou, baixinho.

John suspirou e voltou a se recostar na cadeira. Ali
estava, finalmente, a verdadeira razão pela qual Jimin se mostrava tão resistente a deixar Boston.

– Jimin, o Estaleiro Park ainda vai estar aqui quando você voltar.

– Mas ainda tenho tanto que aprender! Como vou
assumir o controle da empresa no futuro se não aproveitar para aprender tudo que puder agora?

– Jimin, nós dois sabemos que não há outra pessoa para quem eu gostaria de deixar a empresa. Eu construí o Estaleiro Park do zero e Deus sabe que quero passá-lo a alguém do meu sangue. Mas precisamos encarar os fatos. A maior parte dos nossos clientes relutaria em fazer negócios
com um ômega. E os empregados não vão querer receber ordens suas. Ainda que você carregue o sobrenome Park.

Quase chorando diante da injustiça de tudo aquilo,
Jimin fechou os olhos. Elebsabia que era verdade.

– Sei que não há ninguém mais adequado do que você para administrar o estaleiro – continuou o pai,
carinhosamente –, mas isso não significa que alguém vá concordar comigo. Por mais que isso me enfureça, preciso aceitar que a empresa vai falir com você no comando. Perderíamos todos os nossos contratos.

– Por nenhuma outra razão além do fato de eu ser
Ômega – comentou Jimin, frustrado.

– Lamento, mas sim.

A expressão nos olhos de jimin era clara e terrivelmente séria.

– Algum dia eu vou administrar essa empresa.

– Santo Deus, menino. Você não desiste, hein?

Jimin se manteve firme.

John suspirou.

– Eu já lhe contei sobre a ocasião em que você pegou uma forte gripe?

Jimin balançou a cabeça, sem entender a súbita
mudança de assunto.

– Foi logo depois que a doença levou sua mãe. Você tinha 4 anos, eu acho. Era uma coisinha muito pequenina – disse ele, fitando o filho único com os olhos brilhando de afeto. – Você era muito pequeno quando criança… Ainda é, mesmo adulto, mas quando menino… ah, era tão, tão pequenino
que achei impossível que tivesse forças para resistir.

Jimin se sentou, profundamente comovido com as
palavras do pai, que tinha a voz embargada.

– Mas você conseguiu se recuperar – disse ele, de
repente. – E então eu me dei conta do que o havia salvado: você simplesmente era teimoso demais para morrer.

Jimin não conseguiu conter um sorrisinho.

– E eu era teimoso demais para deixar que você
morresse – disse John, endireitando os ombros, como se para afastar o sentimentalismo do momento. – Na verdade, talvez eu seja a única pessoa na face da Terra mais teimosa do que você, filho, portanto é melhor aceitar seu destino.

Jimin soltou um gemido de desgosto. Mas era hora de
encarar os fatos… não havia como evitar ir para a
Inglaterra. Não que uma viagem ao exterior pudesse ser considerada uma punição. Ele adorava os primos. Belle e Ned eram como os irmãos que ele nunca tivera. Mas, mesmo assim, era preciso pensar nas coisas sérias da vida, e Jimin não queria negligenciar o compromisso que se auto impusera com o Estaleiro Park. Ele olhou novamente
para o pai – que estava sentado diante da escrivaninha, de braços cruzados e com uma expressão implacável no rosto – e suspirou.

– Tudo bem então.

Jimin se levantou para sair do cômodo… para fazer as malas, imaginou, já que partiriam no dia seguinte em um dos navios do pai.

– Mas eu volto.

– Tenho certeza disso. Ah, Jimin…

Ele se virou novamente para o pai.

– Não se esqueça de se divertir um pouco enquanto
estiver lá, viu?

Jimin lançou seu sorriso mais travesso para o pai.

– Sinceramente, papai, acha mesmo que eu me negaria o prazer de desfrutar Londres só porque não quero ir?

– É claro que não. Que tolice a minha.

Jimin pousou a mão na maçaneta e abriu a porta alguns centímetros
.
– Uma temporada social em Londres é uma oportunidade única na vida de um ômega, creio eu. E ele pode muito bem se divertir, mesmo não sendo do tipo social.

– Ah, que maravilha! Conseguiu convencê-lo a ir? –
exclamou a irmã de John, Caroline, condessa de Worth, ao entrar subitamente no escritório.

– Nunca lhe ensinaram que é falta de educação ouvir a conversa dos outros? – perguntou John, com bom humor. 

– Bobagem. Eu estava passando pelo corredor e ouvi a voz de Jimin. Ele deixou a porta entreaberta, se não reparou – disse Caroline, voltando-se para o sobrinho. – Mas agora que isso já foi esclarecido, que história é essa de você ter dado um soco no nariz de um ladrão hoje?

– Ah, isso – falou Jimin, corando.

– Como é? – perguntou John.

– Ned e Belle estavam discutindo sobre uma bobagem qualquer, como sempre fazem, e ele não percebeu que ia ser furtado. Eu vi o homem tentando pegar a carteira dele.

– E então você deu um soco no ladrão? Não poderia ter apenas gritado?

– Ah, pelo amor de Deus, papai. O que eu teria
conseguido com um grito?

– Bem, ao menos foi um bom soco?

Jimin mordeu o lábio inferior mais uma vez, parecendo tímido.

– Na verdade, acho que quebrei o nariz dele.

Caroline soltou um gemido alto.

– Jimin… Você sabe que estou contando ansiosamente com você em Londres na próxima temporada social, certo?

– Eu sei.

Caroline era o mais próximo que Jimin tinha de uma mãe. A tia estava sempre tentando fazê-la passar mais tempo na Inglaterra.

– E sabe que eu o amo profundamente e que não
desejaria mudar nada em você.

– Sei – falou Jimin, hesitante.

– Então espero que não se ofenda se eu disser que, em Londres, jovens ômegas educados não saem por aí socando o nariz de figuras repulsivas.

– Ah, tia Caroline, jovens ômegas educados também não fazem esse tipo de coisa aqui em Boston.

John riu.

– E, no fim das contas, você conseguiu recuperar a
carteira de Ned?

Jimin tentou lançar um olhar altivo ao pai, mas não
conseguiu conter o esboço de um sorriso.

– É claro.

John abriu um largo sorriso.

– Esse é o meu garoto!

_______

Continua...

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⏰ Última atualização: Nov 23, 2022 ⏰

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