Silêncio

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Antes mesmo de o ver, enquanto batia em sua porta, eu já podia sentir aquela mesma energia. Uma aura pesada o envolvia enquanto ele me convidava para entrar. No fundo, eu não queria estar aqui, e eu sei que ele não queria que eu estivesse também. Sentamos na mesa de jantar em silêncio e passamos boa parte da noite assim, igualmente todos os encontros dos últimos meses.

Nos aconchegamos no sofá, botamos a mesma série de sempre e continuamos em silêncio. Ele passava a mão em meus cabelos, mas eu sabia que ele não estava realmente ali. Em certo momento, percebi que ele não estava prestando atenção à TV, e até abriu a boca como se considerasse falar algo, mas apenas se manteve em silêncio. E assim, como um câncer, o silêncio se espalhava e nos engolia.

Mais tarde, naquela noite, a chuva começou a cair lá fora e pude sentir o agradável aroma petricor invadindo a casa. Lentamente a chuva se intensificava, e percebemos que as paredes começavam a se desmanchar. Assim, o delicioso aroma fora substituído pelo cheiro de lama. E, tudo se desmanchava enquanto nós continuávamos no sofá.

Momentos depois, a lama já nos cobria até o pescoço e eu mal podia respirar. Encarei seus olhos vazios e ele me perguntou:

— Quer ir embora?

Então, com o mesmo olhar vazio, respondi:

— Por que eu iria?

E a lama nos cobriu até que o silêncio fosse tudo o que restou.

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