Faz três semanas desde que estamos aqui, Ayla por incrível que pareça estava a dois quartos de distância do meu, nos encontramos quando ela começou a bater desesperada em sua porta enquanto eu vasculhava cada canto dessa casa.
Eu ainda não sei exatamente onde estamos, ao mesmo tempo que aparenta ser uma casa enorme e mal cuidada, não me sinto seguro o suficiente em dizer que ela seja apenas isso. Em alguns cômodos o calor parece aumentar e em outros simplesmente não existem, como se fosse uma fachada.
As vezes pareço andar em círculos no mesmo labirinto sem fim.Então desisti de procurar uma saída, ao menos por enquanto. Magnus estava certo, compriu sua palavra quando disse que não ia mais me perturbar e que não me forçaria a fazer o que eu não queria.
Ele não me chamou para jantar desde aquela noite, mas me deu total liberdade para vasculhar a casa, mas não me deixou entrar no escritório mágico do qual procurava refúgio todas as noites desde que eu cheguei ali.
Ainda não entendi o por que nos procurou, muito menos o porque nos prendeu nessa casa enorme sozinhos sem medo de o matarmos em seu sono. Mas ele não parece ligar muito pra isso, na verdade Magnus parece... perdido.
-Ainda pensando no bruxo musculoso?- sussurrou Ayla para mim enquanto caminhávamos pela biblioteca. - Ele é boa pinta. Mas não sei se apoio seu casamento com o cara que nos sequestrou.
-Eu não vou me casar com ele.- sussurrei exasperado para ele enquanto rolava os olhos.- Pelo amor da Mãe Ayla, foque no que viemos procurar.
-Não acho que um bruxo com cara de esperto como ele deixaria um livro sobre encantamentos de saída assim, jogado em uma biblioteca óbvia, na seção mais óbvia ainda, de encantamentos de saída. Ele tem cara de quem é mais organizado que isso.- concluiu minha irmã enquanto eu passava os olhos na estante.
-Ele não é.- uma voz rouca masculina chamou nossa atenção, Ayla conjurou chamas nos punhos quando ouvimos passos firmes em nossa direção. - Magnus é com certeza o cretino mais desorganizado que eu conheço.
- Ragnor!- uma voz feminina autoritaria o acompanhava- Você vai assustá-los seu maldito idiota. Poxa vida, depois de tantas semanas enfurnada nesse lugar, a primeira alma diferente de você que me aparece, e você os assusta.
-Quem está ai?- grita Ayla e como resposta, uma luz branca ilumina silhuetas que aumentam no corredor, mais alguns passos e então eles se revelam para nós.
-É realmente engraçado, eles invadem nossa casa e não sabem quem somos.- o homem riu em escárnio.- Típico dos feéricos.
-Vocês sabem o que somos?- questionei.
-Mas é claro sabemos criança. Mas será que vocês sabem quem são?- tornou a pergunta.
-Deixe-os Ragnor.- a mulher baixa ao lado dele o calou, sua postura intimidante conseguia se sobressair em sua falta de altura. Ela me lembrava vagamente a Bomba, tanto na altura quanto nos cabelos brancos, exceto que a mulher na minha frente tem a pele azulada como a de um expectro.- Olá Alexander.- ela sorriu ao dizer meu nome.
-Como conhece o meu irmão?- Ayla se posicionou na minha frente, a lança banhada em chamas parecia ter se intensificado.
-Nós estamos estudando sobre vocês a muito tempo Ayla Vancerra, portadora da Luz e herdeira do Sol.- a voz daquela mulher era penetrante e passiva, soava como uma sacerdotisa, mas aparentava ser de uma assassina. Paba sempre nos ensinou que chamar atenção demais poderia nos colocar em situação de perigo, é importante estar sempre um passo à frente dos outros para não se colocar em desvantagem; e pela tensão e a confusão no rosto de Ayla, ela também entendeu que estamos fodidos.
-Você é uma bruxa?- Por algum motivo, minha pergunta fez com que seu sorriso aumentasse e seu olhar suavizasse.
-Meu nome é Catarina Loss, sou uma feiticeira como Magnus e Ragnor, o abacate gigante aqui.- apontou para o parceiro rabugento.
-Ai que fofo, somos amiguinhos agora.-Ragnor revirou os olhos-Já que agora fomos todos devidamente apresentados.Pode pedir para o seu cão de guarda abaixar a faquinha dela? - apontou para Ayla- Eu não quero ver meu único meio de entretenimento nesse buraco, ser queimado por uma adolescente.
-Adolescente é o meu...
-Ayla. Por favor, guarde a lança.- pedi.
-Confia neles?- me questionou incrédula.
-Não.- disse olhando para o casal a minha frente deixando claro minha opinião.- Mas se estudaram,o tanto que disseram, sobre nós, sabem perfeitamente que quem entra no nosso caminho com intenções erradas, não vive o suficiente para contar história. Não é?
-Sim vossa graça.- Ragnor responde debochando.- A majestade poderia, por favor, apenas se quiser é claro, guardar essa lança e não queimar a porra do meu acervo literário?
-Deveria ter mais respeito com sua rainha, abacate.- Ayla lançou a ele um olhar assassino e um sorriso frio. - Eu sou a dona dessas terras e se eu quiser, posso colocar fogo nesse lugar antes mesmo de você sonhar em se salvar.
-Vá em frente criança.- caminhou em direção a ela.- É de pedra.
Ayla imitou seus passos, chegando muito próxima do bruxo, seus olhos o encaravam com chamas incandescentes no olhar e um sorriso afiado que lembrava muito nosso pai: - Ela não.- disse apontando para Catarina.
-Uau, isso foi... nossa, isso foi quente.-Catarina nervosa se colocando entre os dois- Foi verdadeiramente educativo, mas eu acho que vocês não desceram aqui embaixo para queimar coisas não é? Vocês querem sair daqui, certo?Nós vamos ajudá-los.
-Por que vocês nos ajudariam?
-Por que assim como vocês, nós estamos correndo contra o tempo para sair desse lugar.- Ragnor disse com a voz grossa e intimidadora olhando para a minha irmã, que tão pouco se abalou.
-O que faz vocês pensarem que vamos acreditar em vocês?- questionei.
-Talvez o fato de compartilharmos do mesmo objetivo.
-Que seria...
-Acabar com a ruiva maldita e deter Asmodeus.- disse Ragnor.
-Quem é Asmodeus?- perguntou minha irmã, compartilhando da mesma confusão que eu.
-Koschei.- a voz aveludada e rouca que eu tanto quis evitar, soou na escada que se estendia atrás de nós. Com uma bata camurça azul escuro, bordada e fios dourados e calças sociais pretas, ele descia os degraus na leveza de uma pena, a elegância de um rei e a postura de um sobrenatural. - O meu pai.
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Corte da Irmandade
FantasyE se vinte anos depois da sua morte, a rainha dos vivos e dos mortos e segundo ela, a fêmea mais poderosa dentre os féericos, saísse das sombras com um único objetivo, pegar o que um dia teria sido dela? Ela queria e ela teria. Mas para isso precis...