Dia de Ouro

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Era um dia de sol, tão vivido, tão ardente, não por ser um dos dias grandes que se vêem aqui no verão de Santa Catarina, mas sim porque eu estava a espera do regresso de um velho amigo, um velho amor-amigo.

Nós havíamos tido alguns desentendimentos como amigos. Ele sabia que eu amava muito mais do que só como isso, amigo. Mas eu aceitei que ele nunca me amaria do jeito que eu anciava. Sei que o amor dele como amigo devia ser o suficiente para mim, mas não existe suficiente naquilo que não é o que você quer, mas só o que você consegue.
Ao final, estávamos em paz novamente, penso que eu que voltei a falar com ele, já que eu era também o que parava de falar.

Ele veio até minha residência, eu já sabia que não o amava do jeito que o peito arde, só do jeito que a memória sente. Até de mim mesmo eu não conseguia esconder o quão feliz eu era ao seu lado, e apenas isto me importava, estar ao lado dele sem me preocupar com nada. Ele veio com a intenção de ficar para dormir em minha casa, e dormiria, igual às outras duas vezes, comigo em minha cama. Confesso que nas primeiras vezes, a paixão me envolvia e me fazia pensar em pedir coisas, aqueles desejos carnais que se qualificam no máximo como um beijo, pois sei que eu não iria mais longe do que isso com ele caso houvesse tido a chance, nisto eu sou tímido.

Em uma daquelas coisas que vêm do nada, ele disse-me que precisaria ir até um primo dele para buscar algumas blusas que ele deixou lá, primo ao qual eu conhecia, e meu chamado irmão de sangue ferroso me convidou para ir junto, tive de aceitar.

Eu conheci sua família, ele mesmo me disse que nunca imaginou isso. Eu também nunca imaginei tantas coisas que me esmagaram. Eles comentaram que iriam a cachoeira que se localizava perto da casa do meu amigo D, e eu juro que pensei que ele não iria, já que ele, querendo ou não, estava meio que comigo para dormir na minha casa.

Ele me chamou em um canto e me questionou se eu ficaria bravo se ele fosse junto, eu respondi que não, mas no mesmo momento disse que ficaria sim porque seria muito cruel comigo, já que ele nunca veio me ver nas outras vezes que disse que viria e quando veio, já se vai? Nem ao menos me deixava ir visitá-lo quando eu dizia que iria.

Para nossa surpresa, minha e dele, eu fui convidado para ir também a cachoeira. Quando tudo o que ouvíamos era sons de água e conversas, eu voltei a mim mesmo por um milésimo de segundo e só então percebi que eu estar ali com ele e sua família, era tão estranho, eu ficava indo e vindo entre me sentir um amigo ou um namorado. Eu gostava disso na imaginação, mas em prática, não. Nunca esquecerei este dia de ouro, como você pode ter um corpo tão lindo que me faz querer te elogiar lhe chamando de obra de arte, mas você é muito mais do que isso.

Foi aí então, em um dia de ouro, que eu soube pela primeira vez o que é ser a sensação de êxtase, e não tê-la.

Talvez eu te ame ainda nos meus pesadelos, porque amar você sempre foi um dos piores pesadelos, talvez eu ainda não tenha acordado.

Mas de que importa? Eu sou o êxtase.

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