Enid

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Hoje tá sendo o pior dia de toda a minha vida. E como sempre, a culpada é a minha colega de quarto Wandinha Addams.

Ela SEMPRE acaba com a minha felicidade, mas hoje tá bem pior. Addams tá sempre de mau humor, e eu não sei o que eu fiz pra ela!

Eu cheguei pulando de alegria no nosso quarto porque o Ajax tinha finalmente me chamado pra sair depois de DIAS flertando com ele. É claro que parei assim que pisei no quarto, mas continuei sorrindo.

— Está com uma energia positiva fora do normal. – ela disse, sem tirar os olhos de sua máquina de escrever. Aquilo era mais empoeirado do que o porão da minha casa.

— É claro! – eu disse, sem parar de sorrir. – O gato do Ajax me chamou pra sair, tem ideia do que isso significa?!

Wandinha parou de escrever.

— Ele não é aquele garoto górgona?

— É. Por quê?

— Ah, qual é. – ela se levanta e vira em minha direção. – Você não é tão burra assim, Sinclair.

— Como assim?

— Ele vai te transformar em pedra. Quero dizer, eu até que pagava pra ver.

Depois de tantas provocações, brigas e situações em que eu saí chorando, eu já tinha perdido a minha paciência. Infelizmente, a professora de herbologia estava entrando no quarto quando eu avancei na Wandinha. Além de não conseguir arranhar aquela pele morta, fomos parar na diretoria.

Quando vi seu rosto mais de perto (ou melhor, seus olhos), percebi que ela estava irritada. O que é bem estranho, já que eu nunca fiz ela ficar irritada. Pensando bem, ela ficou assim quando falei de Ajax. Quero dizer, ela nunca para de escrever pra falar comigo. Isso só deve significar irritação, não é?

— Você tentou fazer o quê?! – perguntou a diretora, horrorizada. Sentada em frente à sua mesa, comecei a pensar que tinha sido mais filha da puta que a Wandinha.

— Arranhar meus olhos com as garras de lobo dela. – respondeu Wandinha, parecendo indiferente. – Mas acredito que seria uma experiência fascinante.

— Que vergonha, Senhorita Sinclair! Acredito que queira me explicar o motivo.

Tá, eu amarelei. Não consegui contar tudo o que tinha passado nas mãos da Addams. Eu tentei, tentei mesmo, mas sei lá. Senti que não era a hora certa.

Fiquei calada, o que rendeu um olhar surpreso vindo da Wandinha e um olhar de desprezo vindo da diretora.

— É óbvio que algo está acontecendo entre vocês duas, então vou ter que...

— Nos separar? – perguntei, sorrindo sem querer. – Quero dizer...

— Eu ia dizer isso, mas já que é o que claramente querem, só tenho mais uma alternativa. Detenção durante duas semanas.

E seria perfeito se essa fosse uma escola normal. Eu só iria ter que passar uma hora numa sala durante dois sábados. Minha vida continuaria normal e maravilhosa. Mas essa não é uma escola normal.

— E o que seria, exatamente? – pergunta Wandinha.

— As duas vão ficar juntas durante duas semanas.

Pela primeira vez na minha vida, vi Wandinha arregalar os olhos.

— O que isso quer dizer? – perguntei, tentando não fazer som de cachorro chorando. Sempre faço isso quando estou com medo, a Addams iria me zoar pra sempre se descobrisse.

— Quer dizer exatamente o que parece. Vou colocar braceletes nas duas. Se ficarem mais de um metro de distância, vão levar um choque e desmaiar.

Engoli em seco e afundei na cadeira. Duas semanas presa com a Addams. Não poderia ir no encontro, não poderia ficar com as minhas amigas, teria que sentar do lado dela em todas as aulas. Eu rezei pra tudo aquilo ser só um pesadelo. Um terrível, assustador e passageiro pesadelo.

— Isso é ridículo, diretora. – disse Wandinha, parecendo tão indignada quanto eu. – Não vai adiantar de nada! Assim que você tirar as algemas...

— Braceletes. – corrigiu a diretora, mas ela fingiu não escutar e continuou:

—...vamos continuar nos odiando e vamos voltar a viver nossas próprias vidas.

— É aí que discordamos, mocinha.

Ai. Que. Merda.

O sol e a Lua - Wenclair CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora