capítulo único

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   Tudo começou quando Wednesday se mudou para uma cidade com a mesma atmosfera de um velório: triste, sem nada bom e com pessoas com a mesma expressão das que tinham que dar um último adeus a alguém. Era, como alguns diriam, a sua cara.

   A editora local era boa e os livros de Wednesday faziam um certo sucesso, o que agradava tanto a ela quanto seus editores, os fazendo regularmente questioná-la sobre novos romances.

   Era uma noite tempestuosa, as luzes oscilavam e o forte barulho das gotas de chuva batendo na janela, acompanhando o constante barulho da sua máquina de escrever. Esse clima, pessoalmente perfeito para Wednesday, foi interrompido por uma chamada no seu celular. O toque era alegre e agitado demais, um toque que apenas uma pessoa que ela conhecia seria insana o suficiente para escolher.

— O que você quer? — Wednesday perguntou para a pessoa do outro lado. Ela ouviu Enid rir, o que já não era tão irritante quanto ela teria coragem de admitir.

— Olá para você também. — Havia música alta demais e conversas misturadas do seu lado da linha. Com certeza uma festa Wednesday pensou. — Tenho novidades!

— Seja rápida. — Wednesday ordenou, mas sua atenção já estava quase toda voltada para o telefonema. Enid tinha esse efeito nela, se algo estivesse errado ela agiria no mesmo instante, ela esteve longe de problemas por conta do trabalho, mas certamente não estava enferrujada.

— Então, tem um pequeno grupo que está começando a lançar um site de notícias aí na sua cidade…— Fofocas, Wednesday corrigiu mentalmente, mas não deu voz ao seu comentário — E eu tinba pensando em me candidatar a uma das vagas que eles estavam oferecendo.

— Eles recusaram você?

— Ah, não! — Enid talvez, e apenas talvez, tenha parecido desesperada em sua afirmação, felizmente Enid conhecia a história de Wednesday com a primeira editora que recusou seus livros. — Eles…eles marcaram uma entrevista e, bem, eles me chamaram para fazer parte da equipe.

— Meus parabéns.

  Enid pareceu acuada do outro lado da linha e Wednesday tinha quase certeza de que a falta de uma visível animosidade em seu tom de voz não era o culpado disso. Enid já havia passado da fase de enxergar nas entrelinhas e entendê-la sem muito esforço ou perguntas.

— Desembucha.

   Enid suspirou, visivelmente nervosa em como continuar aquela conversa.

— Você…se importaria se eu passasse algum tempo na sua casa? O pessoal ainda não sabe se o site vai dar certo então até lá eu não vou estar necessariamente nadando no dinheiro. Isso, claro, se você não se importar. — Enid acrescentou.

— Vejamos se eu entendi. Você está se jogando às cegas em um trabalho que você não sabe se vai falir em um mês ou não. E por isso você quer ficar aqui?

— Sim? Quer dizer sim. — Enid se corrigiu. — É um problema pra você?

— De modo algum. Como você diria…seja bem vinda.

— Obrigada. Você é a melhor!

  Quando Enid desligou Wednesday não se importou em dedicar tempo algum para pensar em como tudo ia funcionar. Elas já haviam dividido um quarto uma vez e concluíram a escola sem mais nenhuma grande briga. Não deveria ser difícil supor que tendo cada uma seu próprio quarto, dessa vez as coisas iriam fluir cada vez melhor.

   Wednesday sempre admirou como o destino orquestrava suas mais perigosas artimanhas. Era sempre curioso imaginar como uma pequena ação pode desencadear outras centenas e de proporções totalmente exacerbadas. Ela costumava gostar de admirar isso, mas a nova teia que o destino tecia para ela era de longe a mais inesperada.

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