Enid

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Tá legal, é impressão minha ou Wandinha Addams, simplesmente a garota mais sinistra de Nunca Mais, acabou de falar que vai me proteger?

Eu até posso aceitar ela me chamar de fofa. Não é bem um elogio vindo dela, é como se eu fosse um chiclete grudado em seu pé. Mas falar que vai me proteger? Proteger a garota que ela mais odeia? Ela parecia estar sendo bem sincera.

Enfim, fomos até Eugene depois disso. Ele é meio estranho, mas não deixa de ser um fofo. Soube que ele gostava de mim assim que entrei na escola no fundamental 2. Foi um grande choque descobrir que ele era o melhor amigo da Wandinha. Digamos apenas que ele não é o cavaleiro sombrio da noite e ela não é a nerd das abelhas. Eles dois não combinam, mas são melhores amigos, e isso me faz pensar que talvez a diretora estivesse certa.

Quando chegamos lá, me surpreendi mais ainda. Nunca tinha visto a Wandinha ser legal com alguém, muito menos com alguém como o Eugene. Mas isso não é a coisa mais estranha que aconteceu.

Wandinha realmente me protegeu. Eu fiquei com um óbvio medo uns minutos antes de chegarmos no Apiário. Eu parei de andar e olhei suplicante pra ela.

— Vamos, pare de ser uma bebê chorona. – isso não me surpreendeu. – Não é tão ruim assim.

— Eu só não quero levar picada!

— E não vai. Tem uma roupa pra te proteger das abelhas. Se bem que você parece ser uma flor ambulante, então toma cuidado.

— Mas...

— Escuta aqui. – ela agarrou minha mão e olhou bem nos meus olhos. – Você tem mel espalhado pelo seu corpo?

— Não... Eca!

— Então não precisa ter medo. Vamos, eu tô aqui com você.

A encarei, boquiaberta, enquanto andávamos de mãos dadas em direção ao Apiário. Ela estava mesmo sendo gentil comigo? Ou eu só estava sonhando acordada?

— Por que está sendo tão legal comigo?

— Pensei nos meus atos passados enquanto te ajudava a arrumar o quarto. É óbvio que você é bem irritante, mas isso não me dá o direito de te humilhar na frente das pessoas.

É claro que não acreditei logo de cara, mas é fácil saber quando ela está mentindo ou não. Ela pode não ter expressões faciais, mas seus olhos sempre entregam.

— Por que só percebeu isso agora? – perguntei. – Quero dizer, podia ter pensado isso antes de fazer aquelas coisas comigo.

— Não sei ao certo.

Assenti e continuamos o caminho em silêncio.

Ela ficou do meu lado o tempo todo, e não só pra não desmaiar. Eu queria dizer que ela não precisava fazer aquilo tudo, mas não consegui. Ela parecia um pouquinho feliz, e ninguém da escola gostaria ser o desgraçado que impediu Wandinha Addams de ser um ser humano meio feliz (no conceito de felicidade de uma pessoa normal), mesmo que só durante alguns minutos.

Quando voltamos para o dormitório já era de noite.

Merda, pensei, assim que vi a lua cheia pela janela.

— Por que não está se transformando? – pergunta Wandinha, olhando curiosamente para mim.

— Eu... não consigo. – disse, tentando manter a voz firme. – Mamãe disse que alguns lobisomens demoram pra amadurecer, mas sinto que nunca vou me transformar.

— E o que acontece se não se transformar?

— Eu viro uma loba solitária.

— E isso é ruim?

Olhei pra Wandinha como se dissesse "Isso é sério?" e ela deu de ombros.

— Não consigo ver qual é o problema.

— Posso viver sozinha pelo resto da vida!

— Mas você não tá sozinha agora. Quero dizer, eu... o Ajax e a Yoko estão com você.

— Você ia dizer que tá aqui comigo?

— Não. – ela responde depressa, desviando o olhar.

— Ia, sim!

— Não ia, cale a boca.

Sorri pra ela, que assumiu um olhar de fúria e disparou pra fora do quarto. Por sorte, consegui segui-la antes do bracelete nos fazer desmaiar.

— Espera aí! Wandinha, isso é bom!

— Assustador, constrangedor e errado. Mas definitivamente não é bom!

— Por quê? Estamos nos entendendo. Hoje você me ajudou lá no Apiário e agora quase disse que tá aqui comigo. Posso retribuir o favor amanhã.

— Não estamos nos entendendo, e nunca vamos! Você e eu somos o completo oposto uma da outra, nunca vai dar certo!

Ela pareceu achar que saiu do controle mesmo não levantando a voz ou abandonando a postura séria de sempre.

— Por que você não pode simplesmente admitir que não me odeia?

Wandinha desviou o olhar de novo e não respondeu. Decidi que não adiantava discutir, então disse:

— Bem, eu não te odeio.

O sol e a Lua - Wenclair CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora