Ver de verdade

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Quando a noite chegou, ficamos na casa de Chrome, onde Gen estava se recuperando dos machucados e S/N o tratava com cuidado para que ele não sentisse a ardência de suas pomadas caseiras. Suika ajudava a morena limpando o suor do rosto do garoto e eu preparava outra dose da pomada.

- Estou planejando participar da Grande Luta. - Anunciou Kohaku. - O Time da Ciência, com Kinrou, Ginrou e eu, fará o que for necessário para impedir a vitória de Magma.

- Isso não quer dizer que você deve arranjar mais problemas com o seu pai. Seja sensata, não faça nada imprudente. - Alertou S/N antes de se interromper com um gemido doloroso do irmão. - Ele vai demorar para se recuperar. Senku...

- Eu sei. Não vai levar muito tempo para que Tsukasa venha me matar.

O silêncio reinou na pequena cabana. Kohaku saiu quando sentiu o sono chamar-lhe e levou a pequena cabeça de melancia junto. Assim que S/N se encostou no meu corpo eu percebi o quanto ela estava cansada, mas a sua teimosia não a deixava ir para casa e descansar melhor. Deixei que ela dormisse ao lado do irmão enquanto eu fazia alguns experimentos.

O Asagiri mais velho começou a murmurar algumas palavras desconexas, fazendo-me chegar mais perto do mesmo para ouvi-lo direito.

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- Gen! - Gritei descendo da cabana de Chrome às pressas. Gritei o nome de Gen pela área do Reino da Ciência, mas só gastei minha voz. Assim que vi Senku, corri até ele com lágrimas nos olhos. - Senku! O Gen sumiu!

- Eu sei, querida. Tenha calma. - Pediu segurando meus braços, na tentativa de me acalmar. - Ele voltou para o Tsukasa.

- Mas por que ele fugiria assim? - Questionou Chrome.

- É melhor aquele idiota não contar para Tsukasa que o Senku está vivo. - A fala de Kohaku criou um desespero em meu peito e comecei a empurrar meu amado em direção do meu pequeno casebre.

- Você tem que se esconder. - Pedi. - Nós vamos atrás dele e você se esconde.

- Nós temos que pegar o morcego fugitivo, rápido. - Alarmou a loira.

- Espera! 

- Por que vai impedi-la? Você não entendeu que ele pode abrir a boca para o Tsukasa e se ele fizer isso você já era? - Argumentei.

- Podemos deixar ele, minha cara. Você não conhece seu próprio irmão? Se ele não tivesse um milímetro de interesse na ciência ele não teria ajudado, para começar. Quando fizemos a energia elétrica ele já tinha decidido de que lado ele estava. - Acalentou-me e deitei minha cabeça em seu peito.

- E como um homem superficial, ele tem formas superficiais de salvar a própria pele. - Falei em um suspiro e recompondo-me, afastando-me do peito do rapaz. - Eu perdi o controle por um momento, desculpa.

- Não tem que pedir desculpas por isso, querida. - Disse beijando meus cabelos escuros.

- Homens são um pé no saco. - Reclamou Kohaku.

- Em qualquer era. - Completei.

- Então o Gen vai se juntar ao Reino da Ciência? - Questionou Chrome.

- Ele vai voltar como se nada tivesse acontecido. - Disse meu amado.

- Parece que a primeira batalha entre o Império Tsukasa e o Reino da Ciência, a luta por Gen Asagiri, terminou com uma vitória para o Reino da Ciência. - Comemorou a loira.

- Eu tenho que aplicar a ciência para fazer para o Gen.

- Deixa eu adivinhar. - Interrompi. - Uma garrafa gelada de Coca.

- Teu irmão tem vicio em mel e menta gaseificados? - Brincou o maior que passou as mãos em minha cintura.

- Imagina se tivesse.

É a aliança mais tênue desse mundo, segurada por uma garrafa de Coca-Cola.

Senti um beijo calmo de Senku na minha testa e o mais velho me deixou com os últimos dados sobre a sulfa, agora o esverdeado tinha que se focar em conseguir a minha mão na Grande Luta, o que me deu uma chance de preparar-me mentalmente, já que tudo ocorreu de forma apressada.

Fui acompanhado por Suika e pelo Chrome que estavam curiosos do próximo passo da ciência.

- Santa, o que vamos fazer com a ciência agora? - Perguntou-me o moreno.

- Tem materiais tão importantes para construir uma civilização quanto o ferro. O primeiro material criado pelo homem na história, sintetizado usando ciência: que é o vidro.

- O que é isso? Não vamos fazer vários remédios agora, já que temos eletricidade e tal?

- Sim, nós vamos. Contudo, potes de argila não vão mais servir para nossos experimentos químicos felizes, se quisermos fazer uma sulfa. Vidro pode resistir a quase qualquer produto químico. Vidro é a base da química. - Expliquei. - Com certeza é fácil de processar e, mesmo assim, é duro e resistente. Dá até para ver atrás dele, o que significa que dá para observar os produtos químicos lá dentro.

- É mesmo? Demais! - Exclamou o moreno.

- Além disso, quando tivermos o vidro, poderemos ter uma chance de tirar a melancia da sua cabeça, Suika. - Disse acariciando a melancia.

Quando me dei conta de que Senku se aproximava por trás para tirar a casca de fruta da cabeça da garota já era tarde demais, os cabelos loiros e olhos castanhos agora já estavam a mostra, atraindo a atenção de todos.

- Uau, Suika! - Admirou Kohaku. - Você é tão fofa!

Suspirei quando o choque se fez presente assim que a mais nova enrugou o rosto para poder enxergar os amigos.

- Eu tenho uma doença de embaçado nos meus olhos. Tudo parece embaçado para mim. Eu acabo ficando assim quando me esforço para enxergar e é uma vergonha. - Disse a pequena loira antes de colocar a casca verde de volta na cabeça. - Mas com esta máscara que a Santa deu, por algum motivo, fica mais fácil de ver.

- Sim, é o efeito buraco de agulha. Se você vir a luz passando por um pequeno buraco, pode fixar melhor onde fica o foco. Você já fez o diagnóstico, querida?

- Eu fiz alguns meses depois de eu ter voltado a carne viva, é miopia e está em um grau um muito avançado.

- O que o vidro tem a ver com essa doença de visão embaçada da Suika? - Questionou Chrome.

- Tem dez bilhões por cento a ver com tudo isso! Escute, Suika. - Pediu Senku se abaixando para ficar na altura da menina, segurou nos ombros finos e acalentou-a. - Você é míope demais. Isso não é uma doença. Não é nem um defeito. Na sociedade tecnológica, nem incomoda mais ninguém. Nós temos olhos da ciência, chamados de óculos. Eles são feitos de vidro e resolvem tudo.

- Cienceiros podem fazer olhos? - Questionou a menina. - Isso é incrível demais.

- Se eu pudesse, eu gostaria de ver a beleza do mundo também. Eu quero encontrar vocês sem embaçado. Eu quero ver vocês de verdade.

Você vai nos salvar, meu doutorOnde histórias criam vida. Descubra agora