Presente de Natal

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Rio de Janeiro - Brasil

Milo caminhava apressadamente pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Era grego, belo, jovem e não tinha a menor idéia do que fazia nesta bela cidade dos trópicos. Ou melhor, tinha idéia sim, mas preferia ignorar.

Durante muito tempo correra o mundo estudando. Lógico, estudar não era bem o seu forte, mas gostava de conhecer o mundo e gostava mais ainda de se livrar da presença opressora dos pais. Nunca fora aquilo que eles desejavam e também não era capaz de suportar as cobranças para que "casasse com uma bela moça e tivesse lindos e saudáveis filhos". No que dependesse dele a família acabaria naquela geração. Apesar de ser o primogênito, tinha seu irmão para garantir a procriação da espécie e do nome.

Eram empresários bem sucedidos do ramo de turismo, o que facilitava muito a sua opção por viajar constantemente ao redor do mundo, usando o pretexto de "estar a procura de novos destinos" para os ricos e ávidos turistas.

Continuava andando como se o diabo estivesse em seu encalço. Talvez estivesse mesmo. Depois da última discussão com os pais resolvera ir para o outro lado do mundo. Esqueceria a família, esqueceria dele. Tudo havia sido culpa daquele francês miserável, imprestável, charmoso, gostoso... Pronto! Lá estavam os seus tolos pensamentos o traindo outra vez. Já fazia quase um ano que sumira de vez e ainda não conseguira se livrar dos fantasmas.

Com as viagens aprendera muitas línguas, o que estava sendo bastante útil para garantir a sua subsistência, com a ajuda de Aldebaran, um bom amigo de faculdade, alugara um confortável flat que pagava fazendo traduções, guiando turistas, promovendo festas para entreter gente rica... Enfim fazia de tudo um pouco com aquilo que aprendera e que agora se mostrava bastante útil, não podia dizer que sentia falta da grana dos pais. Sempre precisara de pouco para viver e agora ganhava mais do que necessitava.

De repente mirou o relógio e parou. Estava muito cedo, não teria mais compromissos para o fim do dia, o que fazer? Olhou a sua volta e admirou o mar. A cidade era linda, acolhedora. Já estava nela há bastante tempo, conhecia cada pedacinho, os bons e os ruins mas não parara ainda, de verdade, para apreciar o mar infinito que tinha a sua frente.

Sentou-se em um quiosque e pôs-se a pensar na vida devidamente munido de uma água de côco bem gelada que era um ótimo remédio para o calor daquele fim de tarde de Dezembro. Estava chegando o natal e seria o primeiro natal longe de casa. Sempre fizera questão de voltar para a Grécia no Natal, mas este ano seria diferente. Queria passar com ele, mas o idiota não fora forte o suficiente para resistir às pressões e assumir o amor que sentiam. Mundo preconceituoso de merda! Viu olhares estranhos dirigidos a sua pessoa, somente neste momento se deu conta que pensara em voz demasiadamente alta. Colocou um sorriso amarelo no rosto levantou-se e voltou para casa.

Nesses momentos de ociosidade sentia a depressão se apossar de sua alma. Ligou e desligou a televisão, abriu e fechou a geladeira, ligou e desligou centenas de vezes o aparelho de som. Nada parecia acalma-lo. Xingou mais algumas vezes em voz alta, tomou uma ducha fria e foi para o calçadão novamente. Estava vestido de forma leve e resolveu cansar o corpo para ver se conseguia ter a merecida noite de sono. Começou a correr aproveitando a brisa fresca que vinha do mar.

Paris – França

Camus estava estressado e cansado. Trabalhara por mais de doze horas seguidas e nem mesmo se lembrara de comer. Seus estômago pedia por alimento com urgência. Parou em uma cafeteria qualquer e comeu um croaissant acompanhado de uma xícara de café bem forte. Jogou o paletó sobre os ombros e afrouxou a gravata, entrou em seu carro e partiu para sua solitária casa, para sua solitária gaiola dourada.

Tudo estava na mais perfeita ordem, como ele adorava, porém bem no fundo sentia falta dos sapatos espalhados, das roupas sujas jogas no canto do banheiro. Há quase um ano ele sumira no mapa, literalmente. Sumira porque fora um fraco, não abrira mão de sua organizada vida para viver a única coisa boa que ela havia dado a ele: Milo.

Conto de Natal ou Ainda te EsperoOnde histórias criam vida. Descubra agora