parte XI

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Sooyoung

Ela não compareceu.

Simplesmente Kim Jiwoo me deixou esperando no restaurante do hotel quando ela mesma deu a ideia de mantermos a pacificidade na frente de nossas filhas.

Não que quisesse a impressionar, mas eu escolhi o meu melhor par de sapatos e os melhores conjuntos para Yerim e Yeojin, apenas para ela decidir não comparecer e nem ao menos dar uma explicação. Onde está a responsabilidade dessa mulher?!

Eu também não ligo de beber e jantar sozinha com minhas filhas, mas em minha cabeça, aquele jantar significaria entender um pouco mais da dinâmica das Kim e como eu poderia ajudar minhas filhas a serem melhores com Hyeju. Estava disposta a me esforçar e, quem sabe, iniciar uma nova amizade com uma mãe-solo assim como eu. Pode ser popular em outros lugares, mas é bem mais difícil encontrar mães-solo na Ilha de Jeju do que se imagina.

Não, eu não fantasiei uma vida de amizades com Jiwoo, e claramente não forçaria Yerim e Yeojin a encararem Hyeju. Minhas filhas possuem personalidades únicas, independentes e muito fortes, mesmo que eu quisesse, eu não conseguiria forçá-las a ter também uma amizade com a outra criança, no máximo, conseguiriam respeitar.

Mesmo que eu tivesse reforçado várias vezes que estava bem, Yerim e Yeojin faziam questão de me lembrar a todo momento a ausência das Kim, o que me deixava levemente brava, mas não tanto ao ponto de ir atrás dela. Se eu quisesse, poderia ter ligado para Jiwoo, pois tenho o registro de todos os funcionários com a documentação completa em meu computador. No entanto, não queria parecer invasiva, muito menos desesperada, então acreditei que ela teria o bom senso de aparecer.

Mas não apareceu.

Eu não estou chateada, com certeza, ela tem uma ótima explicação, e se não tiver, também já é uma resposta para mim.

Estou em minha sala tentando me concentrar na papelada nova que chegou referente a uma proposta do clube de golfe. Eles ficaram interessados ao saber que sou a nova dona do Bonne Vue e gostariam de investir suas ações em uma área "livre" que temos no hotel. Golfe é divertido, mas eu ainda não acho que seja o bastante para o entretenimento no local.

Estou lendo a extensa e prolixa proposta quando ouço três batidas na porta. Pelo toque, sinto que sei de quem se trata, mas tento causar suspense. Isso não está dando certo, preciso de uma secretária urgente!

- Quem é?! - pergunto com pouca disposição.

- Jiwoo - a voz abafada do outro lado da porta me faz soltar os papéis na mesa.

Olho em direção à porta como se ela já estivesse dentro de minha sala e, rapidamente me levanto, tirando o óculos da face e ajeitando meus cabelos para que pareçam mais volumosos. Caminho sob o salto agulha e em minha saia lápis branco-perolada até a porta, segurando a maçaneta com certa raiva e girando-a, escancarando a limiar e assustando Jiwoo.

Ela parecia estar ouvindo meus passos de acordo com o susto que levara e a inclinação que se encontrava quando realizo minha ação. Permaneço séria quando lhe dou passagem e, com seus cabelos presos num coque muito apertado e as mãos atrás do corpo, Jiwoo me reverencia e entra na sala. Fecho a porta atrás de mim e cruzo os braços, me lembrando o pouco que já ouvi sobre leitura corporal. Era bom que Jiwoo notasse que eu estava chateada.

Não chateada por ter furado o jantar, mas chateada por ser descompromissada.

- Acredito que saiba por que estou aqui - ela diz num tom tão baixo que mal a reconheço.

De todas as vezes que me bati com Kim Jiwoo, ela sempre estava exaltada, gritando e meio na defensiva. Agora, meio calma, estou levemente assustada, o que me faz ir para trás da minha mesa, para que ela tenha certeza da minha reação quando me der uma desculpa.

the loneliest time ✦ chuuvesOnde histórias criam vida. Descubra agora