O vazio que não me consome mais.

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Acreditei por muito tempo da minha vida na ideia de “no fundo, ninguém realmente se importa com o que você sente.”, talvez seja por isso que eu, Kang Yeosang, sou um jovem adulto com poucos amigos e poucas boas memórias da infância ou adolescência. Devo confessar que ainda acredito um pouco nessa ideia, provavelmente essa é a razão por qual eu me senti tão sozinho e vazio por tanto tempo.

Era uma manhã fria de primavera quando eu estava indo para a escola, finalmente na reta final do meu último ano. Não me lembro ao certo quando, mas sei que era em algum dia de setembro. Porque setembro foi o mês que nossos olhos se encontraram pela primeira vez.

Você usava roupas leves, com o cabelo bem penteado e rosto sereno, calmo. A luz do sol batia na janela do metrô e consequentemente batia em seu rosto, a minha visão naquele momento era mais do que angelical.

Você se aproxima de mim, e me pergunta sutilmente:

— Posso me sentar ao seu lado?

Olhando o seu rosto mais de perto, eu pude ver alguns detalhes os quais te deixam mais brilhante. Principalmente suas pintinhas na boca e abaixo do olho.

— Claro. — Eu digo, me afastando e te dando espaço. Mesmo que eu tente, eu nunca consigo interagir com as pessoas de uma forma que deixasse elas interessadas, então eu só deixo elas fazerem o que bem entenderem.

Talvez eu só nunca fui tão interessante assim.

— Obrigado... Qual é o seu nome? — Mas você não parecia se importar com isso, porque ainda me olhava do mesmo jeito, sorrindo.

— Kang Yeosang. — Falo quase de imediato, tendo medo até de como minha voz soou para você. — E o seu?

— Jung Wooyoung, prazer! — Você estendia a mão para mim enquanto sorria, aguardando. Eu limpei disfarçadamente o suor que havia em minha mão, e com nervosismo, apertei sua mão.

Desde criança, eu fui ensinado de forma grotesca que todas as pessoas são interessantes e possuem gostos bons, menos eu.

Todo mundo consegue ser interessante de alguma forma, menos eu.

Para ser honesto, eu nunca sequer me senti amado pelos meus pais, tudo o que eu sentia era medo; os olhos deles não tinham interesse algum quando se tratava de mim.

E, infelizmente, eu convivo até hoje com essa ideia estúpida. Não importa se eu tenho um gosto similar ao de outra pessoa, ela sempre vai ser superior aos meus interesses. Não importa qual for a minha habilidade, sempre vai ter alguma pessoa mais interessante e habilidosa nisso do que eu.

— Então, Yeosang... Do que você gosta? — Você me transmitia a sensação que eu nunca imaginei sentir, era como medo, mas um medo bom, era muito próximo ao conforto.

— Ah, eu... — Imediatamente comecei a te analisar fisicamente para tentar achar algo em minha mente que te agradasse, como se fosse automático. Mas eu não senti a obrigação de fazer isso com você. — Gosto muito de... Ouvir música.

— Entendi, que tipo de música você gosta? — Você ainda mantia seu olhar em mim, o seu olhar interessado, buscando algo que talvez eu nunca tivesse: coisas interessantes.

Mesmo dizendo desde os gostos mais genéricos até os mais “underground's”, de diversos temas e tópicos, você parecia se divertir com o que eu falava e me acompanhava com os seus gostos. Aos poucos, fui descobrindo que nós dois tínhamos muito em comum, era reconfortante saber que havia alguém como o mesmo ponto de vista do meu. A nossa única diferença é que você não tem medo de expressar para o mundo o que você sente, sem medo do julgamento.

Finalmente, Setembro.Onde histórias criam vida. Descubra agora