Único

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Taeyeon pensa e repensa, então volta a pensar e repensar novamente e finalmente toma a decisão de rever o álbum de fotos que uma vez compôs com a sua melhor amiga, Tiffany. É sábado à noite e ela sabe que isso é algo tolo de se fazer, já que nesse exato momento sua amiga provavelmente está envolvida em planos muito menos fajutos que os dela, mas ela não pode evitar. Senta-se no chão gelado, repousa o álbum entre suas pernas cruzadas e começa a folheá-lo, fazendo dele a atração principal da arena nostálgica que seu quarto se torna.

Página vai, página vem, ela ri sozinha ao lembrar de detalhes sobre os dias que as fotos foram tiradas, assim como estica alguns sorrisos de admiração para as decorações adoráveis que ambas haviam feito nos cantos dos papéis. O caderno é cheio de comentários, adesivos, rabiscos e folhagens secas, coisas as quais a mulher geralmente desaprova — Como alguém teria coragem de arriscar "estragar" algo tão bonito? —, mas, ao relacioná-las com Tiffany, tornam-se divertidas em um instante.

Entretida, ela interrompe seu curso automático para analisar com precisão uma fotografia em especial que chama sua atenção, esta que elas tiraram juntas na cabine de fotos de um café que visitaram um dia. Fazendo caretas, poses e graças para a câmera, é perceptível que Taeyeon estava loira na época, já a outra, morena, e ambas pareciam vestir a ventania e o brilho solar do verão em seus vestidos esvoaçantes e estampados e em suas sandálias abertas. Ela sempre ressaltava que, de todas as pessoas que já batera os olhos em sua vida, Tiffany era a que mais combinava com os fios pretos. Talvez pelo contraste brusco com sua pele, ou pelo simples fator de absolutamente qualquer coisa ficar estonteante nela. Tudo o que sabe é que, após alguns anos, sua opinião segue a mesma.

Naquele dia, antes de se reunirem no local combinado, ela recorda que sentiu o desejo de presentear a amiga, na tentativa de realizar uma surpresa e expressar sua consideração por ela, escolhendo então passar em uma loja pequena e charmosa do bairro que vendia artigos de beleza, acessórios e jóias em estilos clássicos e atemporais — tudo aquilo que Tiffany apreciava —, onde fuçou em várias estantes e vitrines em busca do item ideal, até dar de cara com ele: uma pulseira em prata com um delicado pingente de coração.

Quando a encontrou na cafeteria, superando a ansiedade da abordagem que sempre sentia ao envolver-se em novidades, entregou-lhe o presente e se deparou com uma expressão pura de entusiasmo direcionada a si — nessa hora Taeyeon comprovou que sua ideia valera a pena, apesar de já saber, de toda maneira, que ela gostaria de receber algo do gênero. Ao abrir a sacolinha que guardava o objeto, foi notável o encantamento de Tiffany, que a agradeceu pelo gesto e bom gosto, e, em seguida, entregou o adorno nas mãos de Taeyeon para que a mesma ajudasse a colocá-lo em seu pulso. Ela utilizou a pulseira durante todo o passeio, a qual, inclusive, está inserida na foto. A sensação de assisti-la vestindo aquilo que escolheu a dedo com tanto apreço foi gratificante, um ato simplório que a coloriu de alegria.

Percebendo que ainda restam muitas páginas para folhear, seu foco se distorce e por um momento a mulher consegue voltar a realidade. Os últimos minutos pensados estão localizados em um passado distante, afinal, atualmente ela é somente uma espectadora do filme, lotado de aventuras, protagonizado pela amiga. De repente se vê desenxabida por estar relembrando dela tão avidamente quando era nítido que as duas estavam passando por momentos diferentes de suas vidas, ainda que sendo praticamente as mesmas pessoas e mantendo o mesmo carinho, apesar de deveras amadurecidas. Sente-se extremamente específica mesmo que entenda bem que tal sensação é universal e que o mundo é demasiadamente plural para ser a única.

Tenta sufocar seu pessimismo e reter esperanças, estas que, falsas, não se sustentam e desprendem dos seus dedos a cada virar de página, a cada recordação soterrada por novas memórias que não envolviam Tiffany. Chega até a questionar-se se um dia Tiffany, por falta de renovação, poderia morrer dentro de si. Apesar dos poucos anos que assemelham-se a milênios, Taeyeon duvida disso. Seu amor não é machucado com uma apunhalada e a gelidez não lhe causa hipotermia. Ele perdura em seu peito, com sua intensidade enraizada, mesmo que fragilizado e exilado na superfície. O tempo não está sob seu controle, vivências são inapagáveis e seria inútil cobrir-se com a farsa de que nada jamais acontecera. Aconteceu, e ela jamais se arrependeria de dedicar suas horas a alguém querido, independente deste persistir em sua vida ou não. O que é essencial é a aceitação do que passou como um fragmento de suas experiências, mas nunca como a definição total de si — esta que seria formada pela vontade da própria Taeyeon e de seus infinitos fragmentos, não somente um ou meia dúzia, nem sequer uma dezena.

Esta noite parece ser mais sobre ela do que sobre qualquer outro alguém. Não pode mentir, ela parece buscar algo novo com constância, sendo que, na realidade, detesta mudanças. A severa nebulosidade de abraçar o novo e de deixar o que é velho partir é assustadora. Mas não estaria ela inevitavelmente abraçando o novo a cada milésimo de segundo que conta no relógio?

Ela prossegue navegando pelo conteúdo do caderno por mais um tempo, dessa vez caída em si, não deixando se levar. Ainda que por vezes se visse apagada, poderia revisitar essas situações em uma tentativa de se acender outra vez. Porém sabia que algumas coisas foram feitas para permanecerem somente na lembrança e que não era nenhuma criminosa por proteger uma história agradável em sua mente, contanto que não a permitisse consumir cada um de seus futuros sábados. No final das contas, para Taeyeon, basta a certeza de que a outra ainda guarda aquela jóia em formato de coração, assim como ela mesma conserva a doce memória de presenteá-la.

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Memórias em cafés e pingentes de prataOnde histórias criam vida. Descubra agora