Ascensão.

9 0 0
                                    

Acordar de seu cochilo era a pior coisa do mundo, Ícaro sempre teve isso em mente.
Talvez fosse pelo fato do "menino" de 21 anos dormir bem menos que oito horas por dia, ou por que sempre que era acordado havia algo para fazer alguma coisa no grande Instituto de Londres, fosse para interrogar um Incubus e saber quem havia autorizado outra festa secreta em uma galeria de Manchester, ou para montar um plano de ataque contra uma organização ilegal que dava aos Maleficis tanta dor de cabeça quanto a  uma ressaca matinal. Mas ser acordado de seus sagrados 20 minutos entre os intervalos de pesquisa era mais um dos inconvenientes que ser o cabeça das pesquisas e estrategista principal de seu setor lhe trazia.

"Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades" que grande besteira tio Ben, que enfiasse na bunda as responsabilidades, ele queria apenas jogar todos os papéis em Miko enquanto possuía tempo, mas é claro que ao perceber que quem lhe acordava dessa vez não era sua melhor amiga, e sim seu irmão mais novo, Helenos, de 15 anos de idade. soltou um sorriso carinhoso e afagou os cabelos da criança 

ー Oque foi Leno? Não deveria estar em seu treino de arquearia? ー Questionou o mais velho agora tomando um olhar quase incriminador, fazendo o pequeno sorrir travesso e balançar a cabeça, derretendo qualquer pose de irmão mais velho que Ícaro tentou assumir.   

ーJá esqueceu Ícaro?? hoje é o dia da Ascensão!! Fomos liberados a duas horas! papai me mandou te buscar ー Seus olhos brilhavam a cada palavra dita para seu irmão mais velho.

Ah...era aquele dia.
Que os deuses antigos não ouvissem, mas Ícaro achava a Ascensão uma grande besteira, não encontrava sentido em a cada 100 anos os deuses da guerra e sabedoria abençoarem duas pessoas de um instituto pelo mundo, lhes dando poderes e é claro, mais problemas para serem lidados. Aquela festa com uma grande cerimonia mais lhe recordava de uma venda de alma e desistir de sua liberdade, pois todas as histórias destas pessoas acabavam da mesma forma: Morte e Sofrimento. 

Ícaro com toda a certeza odiava aquela cerimonia, claro que era algo visto uma vez na vida se tivesse sorte, muitos dariam de tudo para poderem estar em seu lugar ー de primeira fila pelo nome de sua família ser antiga e seu cargo de grande respeito ーmas para si preferia colocar algumas horas de sono em dia, quem sabe até dormir 6 horas sem se preocupar com planos?

ー Ah sim, já está pronto? Parece arrumado demais para o evento ー o ruivo questionou se espreguiçando ー Liam vai como seu acompanhante? ー seu tom não parecia ser de perguntas, mas malicioso, apenas procurando que o irmão reafirmasse suas suspeitas, mas nem foram necessárias palavras, apenas o rosto claro de Helenos esquentando lhe deu toda a confirmação possível, arrancando-lhe risadas baixas, tentando se defender da água conjurada por seu irmão e jogada em si como respingos. ー Foi apenas uma pergunta inocente!! ー se defendeu ainda rindo.

ーInocente, sei! Pare de fazer suposições maliciosas sobre eu e Liam, ele é apenas meu melhor amigo!! ー O mais novo se defendia, com um tom que convenceria facilmente qualquer um perto de si, mas suas bochechas avermelhadas entregavam toda a mentira. ー E sim ele irá comigo, Ícaro tira esse sorriso da cara!!! ー Foi a última coisa que Ícaro ouviu antes de se enfiar no banheiro falando brincadeiras como "Helenos e Liam debaixo de uma árvore, se beijando" apenas para provocar o mais novo, sabia como o loiro desestabilizava o pequeno mago e achava particularmente uma graça como Lenos agia envolta do irmão de Isadore, sempre parecendo ser bem mais tímido do que realmente era, incrivelmente desastrado ao ponto de sempre que olhar estar agarrado ao mais alto - a desculpa de ambos era sempre que Helenos vivia caindo pelos cantos, então Liam como um ótimo amigo o segurava sempre -, e mais brilhante.

Ao fechar a porta a trancando com o sigilo, Ícaro olhou para o espelho, suspirando audivelmente enquanto se despia de sua blusa, observando por poucos segundos suas sardas pelo corpo, não tinha nada contra elas, quando não estavam em seu corpo. Sempre repetia para quem possuía que achava lindas em seus corpos, mas quando era em si precisava respirar fundo para não se rogar uma praga e arranca-las de seu corpo esguio. Decidido a ignorar por hora ele apenas terminou de retirar as partes de baixo e ligou o registro, tomando um banho demorado e bem feito, a cerimônia exigia que todos estivessem devidamente limpos e bem energizados, então era uma parte quase sagrada de toda aquela besteira.

Quando terminou fez um feitiço de tempo e percebeu que realmente estava atrasado até demais, que horas Helenos havia lhe acordado? Quase correu para fora do banheiro e usando da magia estava pronto em 5 minutos, portais dentro do Instituto, mesmo que fossem para locais próximos eram proibidos então sua alternativa foi a mais mundana possível.

Seu pai lhe olhou de forma reprovadora quando apareceu suando, oque foi ignorado por si, pelos deuses ele havia corrido quase os 5 quilômetros de seu dormitório até o salão de festas, merecia no mínimo um agradecimento por ter chego no horário com nenhuma peça de roupa faltando ou seus cabelos desgrenhados, mas aparentemente o mais velho escolheu evitar brigas naquele dia sagrado e apenas sorriu levemente, o indicando aonde deveria ficar.

ーAchei que não viria ー brincou o ruivo mais velho, o provocando pelo fato de que desde que haviam descoberto que ele estaria em uma Ascensão, o mais velho dos irmãos não parava de reclamar sobre tudo, achava os gastos desnecessários sendo que talvez nem fossem escolhidos para as bençãos divinas, e toda a festa uma perca de tempo, gostava de festas mas em um dia aonde mais havia movimentação demoniaca pelas ruas do mundo? O famigerado Halloween ou Dia de los Muertos era sempre detestado por si. Oque gerava grande divertimento em seu pai e seu irmão, por outro lado sua mãe não aprovava seu comportamento e sempre lhe repreendia, sempre foi a líder perfeita do instituto e claramente isso mexia com o humor para com sua família.

ーSe eu perdesse, mamãe jogaria meu colar fora e me deserdaria, ela quase enlouqueceu essa semana ー ele disse e revirou os olhos dramaticamente, ouvindo o irmão mais novo rindo baixinho, mas logo todos se silenciaram, e a família observou a esbelta mulher de cabelos escuros e olhar frio subindo ao palco, que ficava a frente de duas grandes cadeiras para os deuses Rhyfel e Doetineb se sentarem e escolherem seus protegidos, eram grandes tronos ornamentados com flores de ferro para o deus da guerra e flores de ouro branco para a deusa da sabedoria, ambos com acolchoados da cor vinho e uma coisa específica de cada: uma espada negra escorada no assento de Rhyfel e um grande grimório voando acima da cadeira de Doethineb. Era para sinalizar o respeito aos criadores dos Maleficis, seu povo.

A mulher usava um vestido preto com brilhos azuis e alguns ornamentos de cristais em seu cabelo preso em um coque justo, lhe dava um tom de seriedade enquanto subia para dar inicio a cerimônia, seus saltos altos fazendo um som audível pelo salão sagrado, dando um tom sombrio, ninguem tinha coragem de abrir a boca para apenas dizer qualquer coisa que fosse, todos completamente sérios, era quase assustador demais para Ícaro, que era ja acostumado demais com toda a falta de cor e segurança.

ーHoje, é um dia abençoado pelos deuses, irmãos e irmãs, hoje é o dia em que Bellum e Saepintia, Rhyfel e Doethineb escolhem descer dos céus para alguns afortunados e lhes honrar com seus poderes e presentes, é um dia de festa caso sejamos escolhidos, e força caso não sejamos agraciados por suas presenças. ーComeçou Dorotéia com uma feição séria, porem quem conhecesse a fundo seus olhares, iria perceber da felicidade em seu olhar. ー Que comece a música e o ritual ー Ela comandou e em seguida se juntou alguns dos magos antigos, Ícarus encarava tudo e não poderia negar estar fascinado, ainda odiava o feriado mas que era tudo lindo...nunca mentiria, estava genuinamente curioso com oque viria, e se realmente vissem os deuses naquele dia? E se alguém fosse escolhido? 

Eram perguntas que se silenciaram e tiveram suas respostas quando os magos cairam ao chão e um grande clarão irradiou do círculo, dos tronos, e com esta entrada, ouviram uma voz grave porém alta e comandativa falando, como se detivesse todo o poder naquele local.

ー sanguis praevaleat, non mendacium sanguis. ー foi oque Ícaro ouviu antes de conseguir abrir os olhos e olhar em sua frente um homem grande, com um rosto bem marcado e olhos amendrontadores, suas íris se olhasse atentamente pareciam pegar fogo mesmo com o azul tão cristalino de seus olhos. Seu corpo era músculoso e as roupas que vestiam aparentavam ser pesadas mas de combate, todas pretas valia ressaltar, com cabelos longos e escuros pendurados em um coque quase desleixado, era Rhyfell, Deus da Guerra em sua forma humana. 

Dorotéia teria dito algo, mas pela primeira vez parecia sem palavras, até ouvirem uma voz feminina e calma, porém não menos conservada, parecia o tom que uma mãe usava com seu filho, calmo mas com um toque de seriedade e atenção.

 ーsanguis praevaleat, non mendacium sanguis. ー e o ruivo olhou para a forma esbelta de Doethieneb, uma mulher alta de grandes cabelos loiros e enrolados, sua pele escura que parecia reluzir a luz do salão e suas roupas brancas, o grimório agora aberto em seu colo e seu vestido indo até seus tornozelos, era possível se olhasse com atenção algumas mechas de seu cabelo em tranças e adornos, seu sorriso carinhoso para seu povo entregava que era uma deusa mais amável, mas seu olhar nunca enganaria os espertos, ela estava lendo um por um daquele salão, assustando a Ícaro quando seus olhos pararam sob si e ela se levantou, fechando o grande livro e o segurando em seus braços.

ーA cada 100 anos, é escolhido um dos institutos dos Maleficis, alguns dizem ser favoritismo meu e de Rhyfell, outros mais sábios, sabem que não erramos em nossas escolhas, e costumam as aceitar muito bem ー descendo pelo palco até o chão do salão, ela falava com uma voz assertiva, parecia falar baixo mas suas palavras reverberavam pelas paredes, e ela parecia se aproximar de alguém específico. ー e após 500 anos, escolhemos os Maleficis de Londres.

Ela finalizou e Ícaro se sentia encantado, não por ela ser uma deusa extremamente bela, mas sim por ter um fascínio pela deusa desde pequeno. Sempre soube que em mitologias diversas, seu nome viria de um antigo servo de Atena, o famoso conto de Ícaro que voou perto do sol e morreu violentamente ao cair contra o mar. Era até que uma boa história, e ele as vezes se identificava com a mitologia, sentia se caindo sob o mar algumas vezes quando lia histórias sobre o poder de Doethineb, sua vida para si, girava entorno do conhecimento e de seu amor pela leitura e fome por novos assuntos, coisas que sempre foram julgadas como bençãos da sabedoria em pessoa, que aparentemente atravessava o salão antes de dizer alto um nome que espantou a todos, mas ecoou forte na cabeça de Ícaro.

ー Rafael Leblanc. ー disse ela e apontou para alguém na multidão, mas seus olhos não saiam do ruivo, oque o fazia se sentir enganado, mas respirou fundo, talvez tivesse chamado a atenção da deusa por conta de seus cabelos cor de fogo e sardas, talvez ela estivesse zombando de si.

ー Ícaro Caccini. ー foi se ouvido em seguida, e apenas levantou o olhar vendo o deus da guerra ainda sentado em seu trono, fazendo-lhe um gesto para se aproximar de si, oque fez após ser levemente empurrado por seu pai, ainda surpreso pelo deus ter o chamado, teria sido realmente escolhido? ー Ajoelhem-se, lado a lado.

Ícaro segurou a vontade imensa de reclamar, e obedeceu o deus com grande respeito, abaixando a cabeça enquanto via de canto dos olhos Leblanc fazer o mesmo, e ambos esperaram Doethineb lhes mandar levantar, enquanto segurava duas pulseiras e andava para perto, Rhyfell andando ao seu lado como uma cena tirada de filmes, tudo parecia brilhar e ouvia baixo sussurros e algumas entoações em latim e gaulês, parte da cerimônia provavelmente.

ーNão se assustem, eu o escolhi Ícaro, apenas é uma brincadeira minha e de Rhyfell trocar os nomes de nossos escolhidos, costuma deixar todos confusos, mas você não se sentiu confuso ao todo, não? ー a mulher lhe disse enquanto sorria divertida, e pegou em seu pulso com delicadeza, o ruivo observou de canto Rafael tendo seu pulso agarrado pelo deus da guerra e as pulseiras foram colocadas em ambos quase de forma combinada, as pulseiras se fecharam e seus fechos sumiram, eram leves, mas quando a deusa tentou quebrar elas apenas não quebraram, oque a fez sorrir ー Perfeitas...eu disse que não havíamos errado em nossa escolha ー ela comentou e quase com carinho observou ambos, antes de dar um passo para trás e um cajado aparecer em suas mãos, o moreno calado apenas fez surgir uma espada e ele a cravou entre Ícaro e Rafael

ーColoquem as mãos juntas acima da espada negra e repitam o juramento.ー ele comandou e os jovens obedeceram rapidamente, se olhando por breves segundos antes de olharem para os deuses.

ー Eu desisto de todo e qualquer poder relacionado aos elementos da guerra ー a loira recitou olhando diretamente para o ruivo, antes de colocar uma de suas mãos em sua cabeça, emanando um brilho leve e amarelado, poderia dizer que parecia ouro brilhando na luz ー renuncio aos meus deveres com a guerra e a luz, dou minha alma as sombras e a sabedoria, sendo seu receptáculo e portador dos poderes, até o dia de minha morte. 

ー Eu desisto de todo e qualquer poder relacionado aos elementos da guerra, renuncio aos meus deveres com a guerra e a luz, dou minha alma as sombras e a sabedoria, sendo seu receptáculo e portador dos poderes, até o dia de minha morte. ー Ele disse e começou a sentir energia fluindo por seu corpo, mas não conseguia o mexer, apenas olhava direto para os olhos da deusa que brilhavam em roxo, o consumindo até os ossos e o fazendo tremer levemente, frio e calor colidindo por seu corpo antes dela sorrir e afastar sua mão, ajeitando um fio de cabelo de seu rosto antes de dizer em latim em alto e bom som

receperint umbras sapientiae, que seu caminho seja longo e fácil de ser lido ー com um sorriso ela beijou sua testa e subitamente a energia de seu corpo desligou, e ele caiu de joelhos, seu corpo tremia e o frio que sentia havia passado, sabia que havia algo mudando quando olhou para a mão do amuleto dado a si e viu grandes tatuagens de lírios, o simbolo da deusa, crescendo até onde acreditava serem seus ombros. Mas seu frenesi havia sido cortado ao ouvir o juramento de seu novo aliado

ー Eu desisto de todo e qualquer poder relacionado aos elementos da sabedoria, renuncio aos meus deveres com o conhecimento e as trevas, dou minha alma as luz e as lutas, sendo seu receptáculo e portador dos poderes, até o dia de minha morte. ー A voz grave de Rafael reverberou pelo salão, deixando Ícaro se questionando se havia falado da mesma forma, o deus retirou a mão do ombro do de cabelos brancos e a luz negra que saia de sí se apagou aos poucos, o deus soltou um sorriso e  também beijou a testa de Leblanc, agora parecendo muito mais um pai do que realmente um deus

gratam lucem violentiae ー ele disse e Rafael caiu também, a diferença é que quando retiraram as mãos da espada, tudo escureceu, e a última coisa que ouviram foram os baques de seus corpos caindo lado a lado, e a pulsação de seus corações quase batendo de forma ritmada, Ícaro sentiu alívio por seu corpo e pensou em uma última coisa antes de desmaiar completamente e se render a escuridão que tanto admirou

Eu fui escolhido

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 02, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Queimados Pelo SolOnde histórias criam vida. Descubra agora