Enid

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— Que imbecil. – fala Xavier.

Não acredito nisso... O Ajax é um idiota do cacete!

Achei tão fofo quando Wandinha me protegeu que não consegui ficar triste, só muito puta. Eu gosto dele desde o fundamental, e com certeza ele sempre sentiu o mesmo. E agora, quando finalmente eu tive coragem de chamar ele pra sair, descubro que ele é um mijão como todos os outros.

Sentei no banco que ele estava, tentando me acalmar, e Wandinha disse, me seguindo:

— Não deve se sentir assim por qualquer idiota, Enid.

— Achei que ele fosse diferente dos garotos daqui. Tipo, sem ofensas, mas... você é menor que eu. E é só ele tirar aquela touca, qual a dificuldade?

— Não estou ofendida. – ela disse, cruzando os braços. – Talvez ele tenha medo de fazer isso com as pessoas, por isso coloca aquela touca. De qualquer maneira, ele é um covarde que tem medo de uma garota menor que ele. Você está acima disso.

Olhei surpresa para ela.

— Entendi isso mesmo? Wandinha Addams está amolecendo?

— Nunca.

Ficamos com Xavier e Bianca durante meia hora antes de voltarmos para o dormitório. Quando finalmente voltamos, eu tinha uma ideia na cabeça.

— Deveríamos descobrir o que temos em comum. – eu disse, sentando na cama antes dela. – Vamos ficar juntas assim por duas semanas, precisamos evitar brigas.

— Prevejo pelo menos cinco brigas acabando em desmaios até o fim da semana. Não temos absolutamente nada em comum.

— Como você sabe? Não sabe nada sobre mim!

Ela me olhou como se dissesse "É sério?", então eu disse:

— Tá legal, eu sei que tô mais pra rosa, ursinhos de pelúcia e purpurina e você tá mais pra preto, trevas e cemitério. Mas pelo menos faça uma pergunta. Por favor!

Wandinha revirou os olhos e disse:

— Tá. Qual roupa você usaria num funeral?

— Tá legal, não começamos muito bem. Deixa que eu faço as perguntas. Quem você mais odeia nessa escola?

— Várias pessoas, não tem uma em específico. Mas duvido que você odeie alguém.

— Quê? Por quê?

Ela voltou a me olhar como se dissesse "É sério?" e eu sorri.

— Mas tem alguém que eu odeio.

— Eu?

Por alguma razão, vi um sentimento diferente em seu olhar. Não é a felicidade mórbida de sempre e nem a animação de ver alguém sendo decapitado. É impressão minha ou Wandinha Addams acaba de perguntar se eu a odiava estando triste?

— Bem, eu odiava você, mas não mais. Agora eu odeio mais o Dante.

— Dante? Quem é Dante?

— Um lobisomem do segundo ano. Ele... joga na minha cara que eu ainda não consigo me transformar.

De repente, senti meu rosto corar. Desviei o olhar, mas ela percebeu e disse:

— Eu bem que precisava de alguém com pelos para testar a minha nova tesoura. Sabe, pra aparar.

Olhei pra ela e sorri.

— Valeu. Acho mesmo que está amolecendo comigo. Primeiro ameaça um garoto que me deu um fora, agora um idiota maior ainda...

— Eu precisava de uma desculpa pra ameaça-los, é só.

Mudei meu sorriso de gentil para provocador e ela arregalou os olhos.

— Não faz isso.

— Qual é, Wandinha. É tão difícil admitir que fez algo pra me proteger?

— Não fiz pra te proteger, só... não queria que você ficasse me enchendo o saco com isso depois.

Tá bem, vamos dizer que eu sou lerda no nível de não perceber como ela desviou o olhar como se tivesse desconfortável. Wandinha Addams me protegeu, e nada nem ninguém iria me convencer do contrário. Nem mesmo a própria Wandinha Addams.

— Você ficou vermelha. – eu disse, sorrindo para ela. – Sabe, quando eu te abracei e beijei.

— Senti a temperatura do meu rosto aumentar desconfortavelmente quando fez isso.

— Isso que é ficar vermelha! – dei risada e ela olhou pra mim. – Nunca aconteceu antes?

— Não. Será que essa é sensação de entrar no inferno? Se for, eu não quero.

Sorri e olhei maliciosamente pra ela.

— Que foi? Não!

— Quer outro abraço?

Ela se levantou da cama e olhou pra mim como se me ameaçasse.

— Vem, é só mais um...

— Estou avisando, Enid Sinclair...

Antes que ela pudesse reagir, me levantei e a agarrei. Ela tentou se desvencilhar, mas eu sou mais forte.

— Algo que me diz que essas duas semanas durarão um mês. – ela fala, sem conseguir sair do abraço. Dei risada e dei outro beijo em sua bochecha. Ela estremeceu e fez cara de nojo. Dei mais risada.







O sol e a Lua - Wenclair CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora