4. O monstro atrás da porta

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Após descer da torre, Hélio foi direto ao encontro de Ayumi, que já o aguardava ansiosa. Afinal, cada segundo era crucial naquele momento.

— Benevolente — o anjo disse ao bater na porta — posso entrar?

— Entre, por favor!

— Mandou me chamar? — ele prosseguiu, abrindo a porta.

Logo ao entrar, avistou a deusa parada em pé em frente à janela, ainda olhando para o horizonte. O dia estava lindo demais para uma data que poderia se tornar a mais sombria das eras.

— Sim, caro amigo. Presumo que já saiba do que se trata, não é mesmo? — ela respondeu, sem ao menos olhar-lhe no rosto.

— Não, mas tenho um palpite referente ao que o Mago disse ontem.

— Você não perde nada, não é? — ela respondeu, virando o rosto na direção dele, tentando de certa forma forçar um sorriso, que não passava de uma mentira para encobrir a sua mais profunda dor.

— Não costumo deixar detalhes passarem batidos. Inclusive, esse sorriso em seu rosto não me engana, Benevolente... O que cogita fazer?

Não suportando mais se fazer de forte, Ayumi virou-se de costas para ele e cobriu a boca numa tentativa inútil de abafar o choro. Percebendo a fragilidade dela, Hélio ousou dar uns passos à frente e, com suas mãos suaves, acariciou sua bochecha. Essa atitude a fez voltar seus lindos olhos azuis para os dele. Ele era tão lindo, com aquele olhar sereno e esverdeado, capaz de inspirar paz em corações aflitos.

— Obrigada, Hélio... — disse, erguendo as mãos para segurar na mão daquele que lhe acariciava o rosto — é tão reconfortante ter o apoio de vocês... Mas, em relação à sua pergunta, a resposta pode não ser das mais animadoras... — soltou as mãos dele e olhou para baixo.

— Pela sua cara e pelas palavras do Mago, estamos falando de um acordo, não é?

— Exatamente... — suspirou tristemente.

— Quais são as suas ordens?

— Vá até ele e diga que darei tudo o que ele quiser em troca do fim daquela carnificina.

— Como?! — sobressaltou-se.

— Não me faça repetir — afirmou em tom sério.

Hélio olhou para ela e viu a postura vitimizada dela mudando. Já não estava cabisbaixa e o fitava de cabeça erguida. Isso o fez ter certeza de que a decisão dela estava mais do que tomada.

Sem ter como argumentar, Hélio não teve escolha a não ser se resignar e, em obediência, partir para o Mundo Inferior.

Antes de mergulhar para o abismo, Hélio olhou para o mundo lá embaixo. Observou a dor e o sofrimento da humanidade. "Espero que não se arrependa, Ayumi", pensou, "mas acho que esse é apenas o começo das dores."

Ao finalizar seu pensamento, ele se jogou de ponta para dentro do abismo entre os mundos, atravessando as mais altas nuvens rumo ao inferno. Logo ao adentrar na caverna, foi surpreendido por alguns poucos Yokaytans escalando as paredes rochosas daquela fossa profunda.

A distância enorme entre as paredes possibilitou que ele passasse pelos gigantes com segurança, mas mesmo não estando ao alcance dos Yokaytans, ainda assim, foi estranho, já que eles nem sequer olharam para ele. Era como se ignorassem a sua presença. Esse comportamento dos Yokaytans fez o anjo perceber que Hideki queria que ele chegasse ao seu destino. Era como se ele já esperasse por sua visita. A cada metro que descia, mais o ambiente se tornava escuro. Para iluminar o caminho, ele ascendeu a sua aura, que o guiou feito um farol até o seio do inferno.

Kronedon - O Ciclo Ancestral [1° Livro Da Saga Ancestral]Onde histórias criam vida. Descubra agora