Pesadelo, Conforto e Família - Wandercante

Capítulo Único

Era madrugada, ainda estava muito escuro lá fora e Wanderley abraçava seu esposo por trás, se aconchegando e se aquecendo com o calor de Cavalcante. Ele acordou com os sons de passinhos pelo chão e com as mãozinhas o cutucando nas costas.

— Papai... – disse uma voizinha muito baixa, Wanderley só conseguiu ouvir porque estava já meio acordado (e também porque é a voz do seu filho, mesmo inconsciente ele consegueria ouvi-la) – Papai, acouda – e mais um cutucão nas costas.

Wanderley se afastou de seu marido (e ouviu Cavalcante reclamar durante o sono pela falta de contato), se sentou ainda meio grouge e olhou para seu filho. Milo estava com seu polvo de pelúcia apertado fortemente contra seu corpo, seus olhos estavam meio espantados, estava formando um biquinho e seus olhos já estavam meios marejados. Quando Wanderley notou a situação do filho acordou rapidamente (como se tivesse levado um choque) e abraçou o filho, fazendo um carinho nas costas com uma mão e fazendo cafuné nos cachinhos com a outra.

— O que foi meu pequeno? – Wanderley pergunta docemente, ainda abraçando seu filho com o maior cuidado e carinho do mundo. Ele ouve um soluço baixo e seu coração parte ao meio – O que aconteceu meu amor? – ele pergunta novamente e beija a testa de Milo com delicadeza.

– Pesadeio Papai – o menino responde e finalmente retribui o abraço de Wanderley, passando um de seus bracinhos pela cintura dele.

Wanderley ouve um movimento na cama e logo em seguida sente o corpo de Cavalcante abraçando ele e Milo por trás, os braços de seu marido os envolve da melhor maneira que pode.

— Você quer dormir com a gente filhote? – Cavalcante pergunta com a voz ainda um pouco rouca do sono e se afasta do abraço, se movendo mais para o lado, deixando um espaço entre ele e Wanderley.

Milo não responde, mas sobe na cama (pedindo para Wanderley colocar o Sr. Polvo primeiro e depois o ajudando a subir) e deita no espaço entre seus papais. Por um tempo os três ficam abraços em silêncio, com Wanderley e Cavalcante olhando preocupados para o filho ainda acordado. Mas então, eles ouvem mais passinhos e três crianças sobem na cama. Olivier é o primeiro a ir em direção a Milo (que já estava o esperando com um dos bracinhos estendidos) e abraça seu irmão, se deitando do lado dele, Bárbara é a próxima a se deitar ao lado de Milo (se encaixando ao lado de Wanderley) e Amelie vem logo em seguida, se deitando ao lado de Olivier (se encaixando ao lado de Cavalcante). Eles ficam bem apertados e demoram alguns instantes para se encaixarem direitinho. No final, todos ficam abraçadinhos.

As crianças não conversam entre si (o que pode ser considerado algo raro pois eles tagaleram demais), mas Wanderley e Cavalcante sabem que quando um deles sofre algum pesadelo ou ficam tristes por outro motivos, todos os outros aparecem com abraços, beijinhos e muito amor para dar, ficando caladinhos e só confortando um ao outro. Isso acontece mesmo antes dos dois conseguirem a guarda dos seus filhos a um ano atrás. Quando eles conseguiram a confiança das crianças, elas contaram como era a vida no orfanato, de como tinha dias que tudo parecia muito assustador e a única forma de conforto era quando eles estavam juntos. As crianças estiverem sozinhas por muitos anos, sendo abandonadas pelos seus pais biológicos e vivendo em um local estranho e sem amor, mas estes dias sombrios acabaram quando Wanderley e Cavalcante os adotaram. Os dois homens os encheram de todo amor e carinho do mundo, os respeitando e nunca os forçando a fazer algo que não queiram, os ensinando que está tudo bem ter um pesadelo, que eles sempre teriam um porto seguro nos seus papais. Então, quando seus filhos sofrem de alguma tristeza, é para eles que correm, é para eles que buscam um abraço e beijos e amor e conforto. Eles não estão mais sozinhos, nunca mais estarão sozinhos.

Quando todos os seis estavam quase dormindo, eles ouvem um barulho de algo subindo na cama, e logo em seguida:

— Miau

Milo e Oliver rapidamente se animam e tentam se sentar na cama (não conseguem pois Amelie e Bárbara já estão com suas mãozinhas ao redor deles e não tem nenhuma vontade de sair desta posição), o gatinho alaranjado ignora a existência dos outros, só focando nos dois menininhos. Bisteca se aconchega e se deita nos corpos de Milo e Olivier, fazendo dos meninos a sua cama temporária, eles parecem não ligar, na verdade sentem uma tremenda alegria quando o gatinho se deita neles. Após mais alguns minutos, todos os seus filhos dormem. Amelie está com um braço ao redor de Olivier e outro jogado para trás (acertando a cara de Cavalcante levemente) e está com sua boca aberta, Bárbara está na outra ponta se aconchegando em Wanderley e estando com as duas mãos sobre Milo, já os dois meninos estão imóveis, aceitando com grande facilidade a sua nova vida como cama do Bisteca. Está tudo muito apertado, mas eles dão um jeito de todos os suas crianças estarem confortáveis (então basicamente Wandebas e Cavalcante estão quase caindo da cama, mas eles não ligam).

Wanderley olha para o seu marido e já encontra Cavalcante olhando para ele. Eles trocam um sorriso. E eles tem o mesmo pensamento: não desejaria estar em nenhum outro lugar.