Capítulo 30

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5 capítulos.

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— Você tem certeza? — Millie perguntou mais uma vez, encarando a residência branca através da janela do carro.

Respirei fundo.

— Tenho sim. — Peguei a bolsa. — Preciso falar com ele.

— Vou ficar aqui esperando você.

Abri a porta do carro, caminhando em direção à porta da casa.

Faziam exatas uma semana desde que Shawn havia terminado comigo. Não havíamos conversado desde então, apenas fiquei sabendo por nossos amigos que  ele estava na casa dos pais para se recuperar da cirurgia. 

Queria conversar com ele, saber como estava. É exatamente por isso que estava aqui.

— Camila! — Karen pareceu surpresa ao me ver na porta. 

— Oi, me desculpa aparecer assim.

— Do que você está falando, garota? É sempre bem vinda aqui.

Sorri,

— Eu... Queria falar com Shawn.

Seu rosto se encheu de compreensão.

— Pode esperar aqui no sofá, enquanto eu vou avisá-lo.

Agradeci, entrando na casa e sentando no sofá confortável. Observei a sala de estar, prendendo a atenção nos porta-retratos na estante. Tinham fotos do casamento de Karen e Manuel, fotos de Aaliyah e Shawn na escola e, pra minha surpresa, uma foto com Shawn, eu e nossos amigos. 

Foi na peça de natal da escola. Não haviam dado nenhum papel a Brian, por isso, decidimos que também não íamos participar, por isso, ficamos ajudando nos bastidores. 

Sorri de leve, lembrando que mais atrapalhamos do que ajudamos.

Meu peito doeu ao perceber que teria muitos mais momentos assim se Shawn não tivesse tomado a decisão de me afastar incontáveis vezes.

Não percebi o tempo passar, até que ouvi os passos de Karen na escada. Ela se aproximou, a expressão tensa e sentou-se ao meu lado.

— Camila, queria... — Respirou fundo, segurando minha mão. — Ele não quer ver você. 

Pisquei, sentindo como se meu peito tivesse sido esmagado. O que eu achei que ele faria, afinal? Ainda que já fosse esperado, doía como o inferno.

— Tudo bem eu... — Pigarreei, apertando a bolsa entre os dedos. — Já vou, então.

Antes que eu levantasse, Karen segurou em meu braço, os olhos acolhedores me passando certo conforto.

— Ele está um lixo. — disse. Meus olhos se encheram de surpresa por ela entrar nesse assunto. — Não estou dizendo isso pra te confortar, ele... Realmente está péssimo. Acho que, de todas as fezes que ele afastou você, essa foi a pior de todas. Tenho que ficar em cima dele até para comer porque Shawn só fica deitado naquele quarto encarando o teto.

— Ele escolheu isso. — falei, encarando o chão, a voz trêmula porque, independente de qualquer coisa, saber que Shawn causava isso em si mesmo por não se achar suficiente partia meu coração. 

— Eu sei, querida. Nunca concordei com essa escolha. Vi ele te amar desde pequeno e esse amor crescer mais enquanto ele tentava escondê-lo. — Karen suspirou. — Ainda assim, ele tentava ajudar você. — Riu. — Me fazia comprar uma remessa de doces suas sempre que cancelavam com você.

Ergui a cabeça no mesmo instante.

— Não sabia disso. —  A surpresa era evidente em minha voz. Pensei em todas as vezes que querem me ligou alegando que tinha algum evento para fazer. Como nunca notei?

Isso era... Nem sabia o que dizer!

Karen sorriu.

— Não tenho dúvidas que ele não tenha contado. — Ficou em silêncio por alguns segundos, quando voltou a falar, parecia mais séria. — Sei que está magoada e deve estar, porque meu filho está sendo um idiota. Mas, nem por um segundo, duvide do que ele sente por você, porque observei meu menino fazer tudo o que podia por você secretamente enquanto se martirizava por algo que não tem culpa.

— Ele disse que o avô também tinha lúpus.

Ela afirmou com a cabeça.

— O pai de Manuel e Shawn eram muito próximos, assim como também era com sua esposa. Acho que nunca vi um casal que se amasse tanto como eles dois, ela ficou com ele em cada momento difícil e nunca deixou de sorrir para ele, apesar de todos saberem que ela sofria. Quando o ele morreu... Foi horrível para ela, parecia estar morta por dentro, não era a mesma pessoa e, um tempo depois, também morreu. Shawn assistiu tudo de perto. Descobrir que também tinha a doença foi um baque para ele. — Karen apertou os lábios. — Shawn não quis que contássemos a ninguém, ele pensava que, se ninguém soubesse, não teriam que passar pelo que seus avós passaram e, por mais que não concordasse, tinha que respeitar a decisão do meu filho.

— Eu entendo. — sussurrei. Como não entender?

Karen abriu um sorriso pequeno.

— Espero que um dia meu filho mude de ideia, Camila. Realmente espero.

— Acredite em mim, eu, mais do que ninguém, queria isso. — Coloquei a bolsa no ombro. — Preciso ir agora. Por favor, me fale se ele estiver bem.

— É engraçado, até. — Karen começou. — Shawn diz a mesma coisa pros seus amigos quando eles vêm aqui.

Ela me puxou para um abraço. Depois de uma despedida breve, me aproximei do carro de Millie, entrando e fechando a porta no mesmo instante.

— E então? — perguntou.

— Ele não quis me ver. — falei. — Já imaginava isso, mas queria tentar.

— E agora? O que você vai fazer?

— Sobre o Shawn? Não tem muito o que fazer. 

Millie assentiu.

— Então vamos para casa.

— Não. — interrompi. 

Minha amiga franziu as sobrancelhas.

— O que você ainda tem para fazer hoje?

Pensei em Shawn, em todo o tempo que perdemos por causa do medo que ele sentia. Em tudo o que poderíamos ter sido caso ele resolvesse enfrentar isso. Pensei em mim, que nunca dava um passo à frente sobre o que queria. Sempre hesitante.

Lembrei da nossa conversa na piscina, quando ele disse que gostaria de, num acesso de insanidade, viajar comigo para Vegas e casar. Pensei em todos os meus desejos, tudo o que eu e Shawn perdemos pela incerteza do futuro.

E, ali, tomei uma decisão.

— Vou fazer uma loucura.

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Não estou pronta para me despedir dessa.

Os capítulos vão ser pequenos mesmo.

Qual loucura vocês acham que ela vai fazer?

Até o próximo!


PlatonicOnde histórias criam vida. Descubra agora