Próximo ao fim

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Nota: este capítulo tem o ponto de vista dos personagens em primeira pessoa.

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Gerard Myaway

Se eu pudesse ressaltar algum sentimento em específico nesse momento, eu ressaltaria a angústia, algo como se um nó se formasse em minha garganta, como quando você está doente e sente a inflamação tomar conta de cada parte de seu pescoço, ou como se estivesse sendo estrangulado de dentro para fora. Okay, esse último provavelmente dói mais do que um simples nó, mas é a sensação que consigo descrever.

Não é esse tipo de sensação que alguém almeja sentir quando está coberto por uma túnica dourada em meio a alfaiates medindo cada comprimento buscando deixar a peça perfeita para seu corpo, mas é o que você sente quando tudo o que parece é que você está perdido, seguindo instruções no escuro, sem saber onde no fim você vai estagnar. Como se eu já não me sentisse estagnado.

Talvez eu estivesse congelado no tempo, apenas parado enquanto tudo a minha volta se movia, as coisas caminhavam e empurravam meu corpo rígido até o ponto que elas achavam que estava bom. E era assim que deveria ser. Parece um pouco melancólico, como se estivesse acompanhando os pensamentos de alguém que já morreu, mas não é bem assim, é só um sentimento com episódios de mania.

De qualquer forma, eu não sou uma pessoa depressiva, eu apenas me sinto parado as vezes, isso deveria ser comum para alguém como eu avaliando os últimos acontecimentos. Não vou me julgar por me sentir assim.

Ah, ali estava. Encontrar alguém por essa grande casa as vezes não é tão comum, me convenço de que foi isso que andou ocorrendo nos últimos três dias, e não que Frankie estava apenas me evitando. Talvez ignorar ele virando os corredores para desviar de mim sempre que eu me aproximava fosse melhor por hora. Mas tudo bem, ali estava, parado em frente a porta dos aposentos em que estavam ajustando minhas roupas para meu próprio casamento. Conveniente.

— Saiam — eu pedi aos alfaiates, ou ordenei. Eu costumava pedir por favor mas tudo o que falo parece soar como uma ordem, então só entrei logo nessa realidade.

Me senti mais aliviado por ver Frankie se aproximando enquanto os outros saíam, o último fechando a porta. Eu gostava de chama-lo dessa forma, acho que combinava mais com quem ele era.

— Você está parecendo um lustre — era engraçado quando ele falava sorrindo, mas
continuava franzindo o cenho.

— Mesmo? Disseram que é tradicional — era uma túnica bem ridícula.

— Eu vou ter que me ajoelhar a você agora? — difícil dizer que ele estava falando com duplo sentido, ele sempre falava, mas se dessa vez era especificamente proposital, era difícil dizer.

— Só... depois de tudo.

Ele riu, claro. Poder olhar para ele me fazia lembrar de que ainda estava vivo, e que eu ainda podia sentir. Eu sentia.

— Eu não fui atrás de Rhagar na última vez que nos vimos. Ainda não acho que isso seja de seu interesse, mas eu fui rude, então...

Aquilo era interessante, era como se estivesse se desculpando por algo, e sinceramente não acho que ele era acostumado a pedir qualquer tipo de desculpa. Frankie era o tipo de pessoa que poderia derrubar uma senhora e mesmo assim passar direto.

Andally [FRERARD] Onde histórias criam vida. Descubra agora