os olhos oceânicos.

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Meu estômago se remexia mostrando sua revolta por eu não ter tomado café da manhã antes de sair de casa. Mas o que eu poderia fazer? Eu estava atrasada.
Além disso, também estava muito apreensiva.

Aquele não seria meu primeiro dia de aula, afinal já estávamos em março, eu já havia feito muitas amizades no início do ano, só não sei se essas amizades eram reais.

Exatamente por isso eu estava extremamente apreensiva, eu havia brigado com todas as minhas amizades feitas esse ano.

Na sexta-feira ouvi Mariana e Gisele cochichando mal ao meu respeito. Fiquei digerindo todas aquelas palavras durante o fim de semana inteiro e decidi, não vou manter relações com elas, custe o que custar, mesmo que seja difícil ficar sem falar com ninguém e mesmo que me doa pois eu realmente amava-as. Falsidade é algo que eu não tolero.

Por eu ser extrovertida, por diversas vezes me pego com medo de ficar sozinha, me sentir isolada, porém meu repúdio por amizades falsas é muito maior do que meu medo da solidão. Afinal, já diria minha vózinha, antes só do que mal acompanhada.

Cheguei na escola pouco antes das pessoas se distribuírem pelas suas salas como uma manada de bois. Ainda estavam todos no pátio reunidos cada um na sua roda. Até pareciam civilizados. Eu me perguntava quantos milhares de assuntos diversos estavam acontecendo ao mesmo tempo, quantas peculiaridades que diferenciava cada grupo, quantas piadas internas não haviam em cada rodinha... e aquela pergunta que gritava em meu peito:

— EM QUAL EU ME ENCAIXO??

me desculpe, sei que gritar não é legal.

Qual daqueles grupos me vestiria como uma luva, como se fossem conversas sob medida, que houvesse conexão, ao ponto de nos entendermos só com um olhar, com assuntos incomuns e piadas iguais? E principalmente, quais ali seriam amizades leais?

No meu fone de ouvido tocava a música mais famosa do projota "Hoje ela só quer paz" e era exatamente o que eu queria.

"...Amores reais, amizades leais, ela entende de flores, ama os animais, as coisas simples pra ela são as coisas principais. Pra que mais?"

Aquela música me trouxe conforto, como se eu sentisse que alguém me entendia. Cheguei a conclusão que a pessoa para quem projota dedicou essa música era com quem eu queria fazer amizade. Eu não quero dezenas de amizades supérfluas, quero apenas uma que seja real.

Enquanto ficava sozinha esperando o sinal tocar, admirava a beleza das pessoas da minha escola, eram todos tão bonitos que eu até me questionava se deveria estar ali. Me sentia num olimpo. Parecia que todos eles haviam saído do tiktok. Todos padrão, com traços perfeitos e poucas espinhas na cara.

bEENNNNG 

Meus pensamentos foram interrompidos pelo sinal da escola. E todos se levantaram simultaneamente passando pela escadinha estreita exatamente como uma manada. Esperei o fluxo diminuir um pouco para evitar sujar meu tênis branco mas adiantou de nada.

Quando estávamos perto da porta meu coração disparou. — cadê a minha máscara??? O covid ainda não acabou. Apalpei desesperadamente os bolsos da minha mochila enquanto algumas pessoas reclamavam que eu estava atrapalhando a passagem da porta.

— como se tivessem pressa para estudar. Pensei.

Encontrei uma máscara toda amassada na minha última tentativa de encontra-la. Estava com medo mas não ia deixar isso transparecer. De certa forma, a máscara ajudava a esconder, eu só precisava manter a postura e me mostrar extremamente focada na matéria como se nem me importasse de não estar  conversando com a Mariana, a Gisele, a Tamires, e com alguns outros que sempre se juntavam para conversar com a gente também.

Mas hoje eu estava no meu cantinho, sozinha, e muito bem acompanhada por mim mesma. Me sentei bem na segunda carteira. Queria focar nas lições e nem pensar em tudo que acontecerá nas semanas anteriores.

Eu estava mexendo no meu celular, quando de repente, sentou um garoto na carteira a minha frente. Não consegui reconhece-lo pela nuca. Tive que comprimenta-lo para ver o seu rosto.

— Oiii, tudo bem?? — disse tocando em seu ombro.

Ele se virou e eu fiquei estática por alguns minutos ao ve-lo.

Ele era simplesmente encantador. Seus olhos azuis eram radiantes e me sugavam para dentro deles. Era como se eu não conseguisse parar de olhar.

— tudo simm e com você? Respondeu o garoto com os olhos penetrando na minha alma, azul como o oceâno e a voz mais doce que já ouvi.

— é... eu? Eu estou bem também.

Que mentira, eu estava destruída. Passei o fim de semana inteiro chorando, melancólica. — você é novo por aqui?

— siiim, na verdade eu havia vindo quarta-feira mas acho que você não veio por que não lembro de te ver aqui

— aahhhhh você é o garoto novo que as meninas falaram que parecia com o Dylan Minnette.

— Dylan quem??

— o ator de 13 reasons why.

— ahh siim — disse o garoto claramente sem ainda saber de quem eu estava falando.

— não acredito que nunca assistiu 13 reasons why — comentei espantada com o fato de ele ainda não saber quem era.

— ahhhhh, eu não gosto desse tipo de série, gosto de séries divertidas, como animes... — ele disse enquanto mexia na minha borracha. — esse Dylan ao menos é bonito?

não tanto quanto você, pensei.

— ahhh depende muito do seu gosto. Eu não acho ele tão bonito.

— está dizendo que eu sou feio?? — ele disse levantando uma das sobrancelhas.

Dei gargalhadas.

— Não, você não é feio.

— ufa, então eu sou bonito?!

— quais animes você gosta de assistir?— Perguntei me esquivando da pergunta que era óbvia.

Ele era extremamente bonito. A máscara fazia com que os seus olhos ficassem ainda mais evidentes. O tom da sua pele pálida juntamente aos seus cabelos castanhos faziam com que o azul dos seus olhos contratasse ainda mais.

— huum, só te conto meu anime favorito se você me apresentar a escola!

— eu bem queria uma desculpa para sair da sala mesmo — disse rindo para ele.

E esse foi só o início da melhor amizade da minha vida.

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⏰ Última atualização: Dec 05, 2022 ⏰

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