Estranha Amigável

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Você chega casa e percebe que não está sozinha, você faz amizade com um intruso? Acho que não, porque você é normal e eu sou uma louca, solitária e depressiva vivendo sozinha.

- Então... Posso ficar aqui por um tempo? - tantas coisas passaram pela minha cabeça, ela pode ser uma psicopata ou ladra, não deixar ela aqui. - Posso? - ela repetiu.

- Pode. - infelizmente foi a palavra que saiu da minha boca, nem a conheço, não sei o que ela faz aqui. - Pode dormir no sofá, tem pizza no forno e vou pegar umas roupas pra você.

- Obrigada, não achei que deixaria, você nem me conhece, mas percebi que ainda existem pessoas boas. - Me irrirei com o comentário dela.

Abri o guarda-roupa, percebi que tinha poucas peças de roupa, me senti constrangida. Coloquei em meu ombro uma camiseta branca amarrotada, calças velhas de moletom e uma calcinha que mal tinha usado.

- Aqui está. - disse entregando as roupas pra desconhecida. Então sai da sala e fui pra cozinha pra beber pouco de cerveja.

A cerveja estava quente, não tinha colocado na geladeira, mas tomei do mesmo jeito.

Uma mulher na minha casa, não acredito que tem uma mulher na minha casa, e o que ela quis dizer quando disse que veio por causa de mim? Ela deve ser louca.

Preciso descansar, trabalhei muito, vou subir e...

- Oi.- aquela mulher interrompeu meu pensamento. - A gente poderia se conhecer melhor. - disse com uma voz melosa.

- Claro, por que não? - porque só quero dormir em paz. - Fale sobre você.

- Já tive problemas psicológicos, sou mais velha do que pareço, tenho uma pinta nas costas e não gosto de coisas modernas. Nasci em uma banheira, meu pai matou minha mãe por ciúme e então fugi da casa aos meus 13 anos, fui morar na rua e vivia com a esmola e trabalhos sexuais.

- Acho agora é minha vez de contar. - falei cabisbaixa.

- Não precisa, se tudo.sobre você, até coisas que você não sabe sobre si própria. - avisou sorrindo.

Não sei o que pensar e o que dizer, apenas:

- Quem é você?

- Julia Blunk, e sempre estarei ao seu lado.

Deveria sentir medo? Pois é o que sinto agora, devo fugir, coloca-la pra fora, mas qual seria o motivo? Preciso de um motivo?

- Hm, outra coisa que esqueci de falar sobre mim, eu sei tudo o que você pensa. - me assustei. - Não vou lhe fazer mal, não queira fugir e espero que me deixe aqui por mais um tempo, isso ajudaria muito, prometo que não vou lhe perturbar.

Ela lê, lê os meus, meus pensamentos... por que estou falando comigo mesma, ela ouve, ela sabe o que falo e o que penso. Como terei privacidade?

Subo pro meu quarto e deito em minha cama, que saudade desse estofado velho e amarelado, horrível de dormir, mas é a única pessoa, desculpa, objeto que confio.

Finalmente meus olhos estão fechados e vou poder descansar. Não vou precisar me preocupar com loucas telepáticas. Ela deve mexer com magia negra ou vudu.

~ 03:37 da madrugada ~

Acordo com um barulho estranho, ratos em casa? Era só o que me faltava.

Vou pra sala, que é de lá que veio o barulho, nada ali, aquele animal nojento deve ter se escondido. Pulo no sofá e olho pro chão procurando fezes do roedor e nada encontro.

Algo toca em minha cintura fina, não quero nem ver, mas vou matar esse rato podre, vou acabar com el... O que?

Ao virar, lá estava uma cama de hospital e meu irmão deitado sobre ele, o coração parado e os pulmões "desligados". Por que ele estaria aqui? Só o vejo em sonhos, isso não pode ser real, nada disso é real.

Julia BlunkOnde histórias criam vida. Descubra agora