A Alvorada do Lado Sombrio

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A cantina de Verto Bash raramente se encontra movimentada. Aquela região montanhosa servia de moradia para poucos além daqueles que já haviam nascido e crescido ali, tribos de pescadores que importam parte de seus peixes para outros planetas do sistema e consomem outra parte. Era assim há séculos e continuaria a ser assim nos séculos seguintes, nada muito interessante para atrair turistas até aquele cantinho da galáxia. A dona do estabelecimento, uma durosiana chamada Velma, rodou seu olhar pelo lugar e percebeu que reconhecia a maioria dos rostos. Aqueles que não conhecia, estavam acompanhados dos que conhecia, portanto presumiu acertadamente que eram parentes ou conhecidos de seus clientes, que em pouco tempo se tornariam novos clientes.

Ela gostava da sua vida e do seu trabalho, havia se mudado para lá quando o Império surgiu e aqueles que não eram humanos desagradavam os olhos de quem estava no poder. Chegara sozinha, com apenas a roupa do corpo, e foi recebida pelos nativos como uma deles. A antiga dona do bar, uma senhora chamada Lyanna, acolheu a estrangeira para morar consigo e, quando faleceu, deixou o lugar que era da sua família desde a construção como herança para ela. A anciã a amara como uma filha, e a durosiana lembrava de Lyanna como uma mãe.

E assim a vida de Velma seguia, em uma rotina pacata e confortável, pelo menos até o momento. Nos últimos meses, rumores sobre estrangeiros aglomerando nas montanhas se espalharam pelas bocas e ouvidos da clientela, até chegar nos dela. Nenhum desses forasteiros jamais pisara na cantina e nem entrara em contato direto com os moradores locais, mas vários encontros inoportunos haviam deixado o povo em alerta. Gritos guturais ecoavam durante a noite, sendo escutados por aqueles que moravam nos sopés das montanhas, além de figuras mascaradas serem vistas vagando pela floresta durante o dia. Aquilo estava começando a incomodar Velma como uma pulga atrás da orelha - caso ela tivesse orelhas.

Enquanto ela enxugava alguns dos copos, pôde se ouvir a porta da cantina abrir, indicando a chegada de um cliente. Algo perfeitamente normal, ela nem se daria ao trabalho de olhar para ele até que fosse ao balcão, mas o fato de todos terem direcionado seus olhares para ele a fez olhar também. Era uma figura baixa, mas imponente, usando um manto branco com um capuz que ocultava o rosto. Estava acompanhada de uma criatura de dois metros de altura, coberta de pelos da ponta da cabeça às pontas dos pés, que não se incomodava em vestir nenhum tipo de roupa além de uma faixa que atravessava seu tronco do ombro esquerdo ao lado direito da cintura, que armazenava munição para a besta que carregava nas costas. Aos pés deles, estava um droide astromecânico laranja e branco, uma unidade roliça das mais novas, substituta dos antigos que se locomoviam por esteiras.

O trio caminhou em silêncio até o balcão, sem demonstrar o mínimo de incômodo pelo fato de todos os encararem. Os dois bípedes se sentaram em frente a Velma, que manteve seu olhar fixo neles em busca de alguma palavra. A figura de branco retirou seu capuz, revelando o rosto delicado de uma humana bem jovem, que prendia seu cabelo marrom em três coques e deixava pequenas mechas onduladas em frente às orelhas.

- Posso ajudar? - perguntou a dona da cantina, saindo de seu estado de fascínio e recordando-se de seu trabalho.

- Leite de bantha para nós dois, por favor - disse a garota, com uma voz doce e educada. O gigante peludo ao seu lado murmurou algo que Velma não compreendeu, mas a companheira escutou aquilo como se ele tivesse pronunciado no idioma comum. - E um peixe mal passado para o meu amigo, é claro. As vezes me esqueço de que a altura dos wookies também os faz ter um estômago maior.

O wookie fungou repetidamente em uma espécie de risada, o que levou levou a barista a dar um sorriso amigável como resposta. A última vez que havia visto um wookie foi antes de se mudar para Verto Bash, quando os nativos de Kashyyk tinham coleiras e correntes como vestuário, escravizados pelo Império. Velma estava realmente interessada nos forasteiros, mas não podia deixar a curiosidade afetar seu trabalho, então se concentrou em serví-los. A humana agradeceu e encarou a durosiana com um olhar que pedia por privacidade, o que Velma forneceu com um pouco menos de boa vontade do que a que teve ao servir as bebidas e a comida.

A Alvorada do Lado Sombrio (Um Conto Star Wars)Onde histórias criam vida. Descubra agora